Novos híbridos de sorgo produzem mais rápido e com alta produtividade

Mais resistentes a doenças, ao acamamento e tolerantes ao alumínio tóxico presente no solo, as novas cultivares de sorgo granífero desenvolvidas pela Embrapa apresentam produtividade 10% maior que híbridos similares, em média. Outra vantagem obtida pelo melhoramento genético é a precocidade alcançada: as plantas possuem ciclo de produção de 115 dias, em média, de sete a dez dias a menos comparados a outros materiais disponíveis no mercado.

A precocidade é importante, pois dá mais segurança durante a segunda safra. “Nesse período, a incidência de chuvas é menor e concentrada em poucos dias. Quanto mais cedo o híbrido produzir, mais chance ele tem de escapar da seca em uma época determinante para seu desenvolvimento, que é a de enchimento de grãos, no início do inverno”, explica o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (MG) Cícero Beserra de Menezes, um dos profissionais responsáveis pelo desenvolvimento dos novos híbridos graníferos.

As características que serviram de alvo da pesquisa foram demandadas por empresas licenciadas que comercializam sementes da Embrapa e observadas às necessidades dos produtores. As novas cultivares de sorgo granífero BRS 373 e BRS 380 participaram de ensaios de competição nas principais regiões produtoras brasileiras, e ficaram sempre entre as mais produtivas. De acordo com o pesquisador, para ser competitivo no mercado o híbrido de sorgo precisa alcançar produtividades acima de quatro toneladas por hectare. “Os novos materiais da Embrapa sempre superaram essa marca”, reforça.

O sorgo é plantado após a colheita da soja, na chamada safrinha ou segunda safra, que corresponde ao plantio nos meses de fevereiro ou março com colheita em junho ou julho. O plantio na safrinha é muito suscetível à ocorrência de veranicos no final do ciclo, pois a incidência de chuvas é baixa após o mês de maio na maioria das regiões de plantio de grãos. “Qualquer redução no ciclo da cultura, como conseguimos no caso desses dois híbridos, permite que a planta alcance de forma mais rápida a fase de enchimento de grãos. Nessa época, os efeitos da seca são mais prejudiciais. Quanto mais precoce o ciclo, menor o risco de redução de produtividade”, acrescenta o pesquisador.

A diferença entre as duas cultivares, segundo Cícero Menezes, está no ciclo de produção. A BRS 373 tem um tempo de florescimento de 60 dias, tempo de maturação de 110 dias e altura da planta de 115 cm. Já a BRS 380 tem um tempo de florescimento de 62 dias; maturação de 115 dias e altura de plantas de 125 cm. Menezes explica que a pesquisa busca materiais ainda mais precoces para lançamento nos próximos anos, “com tempo de florescimento de 55 dias, no máximo”.

Agora, os pesquisadores buscaram desenvolver plantas de porte baixo, produtividade elevada e que apresentem resistência à seca e doenças, características apresentadas pelos novos híbridos da Embrapa. O porte baixo é desejável nas cultivares graníferas porque o processo de colheita é feito, na maioria das vezes, com colheitadeiras de soja, que atuam com eficiência até 1,5m de altura. “O porte mais baixo confere também resistência ao acamamento”, explica o pesquisador.

“Já em relação às doenças, em muitos casos o que tira um material do mercado é a quebra da resistência genética às doenças fúngicas”, completa. O ideal, de acordo com Cícero Menezes, é que o produtor alterne o plantio de novos híbridos a cada safra, receita nem tanto seguida na prática pela maioria dos agricultores.

Durante o processo de melhoramento, o pesquisador explica que as empresas licenciadas apresentam para os pesquisadores da Embrapa as características desejáveis para as novas cultivares, assim como os agentes causadores de doenças que vêm atingindo com maior frequência os materiais que estão no campo. “O trabalho é sequencial, contínuo, e já temos diversas linhagens na fase de lançamento com essas características”, afirma. Os novos híbridos graníferos são resistentes à antracnose e à helmintosporiose, as duas principais doenças que atacam o sorgo no momento.

Silagem de alta qualidade com o BRS 658 

Já o híbrido silageiro BRS 658 foi desenvolvido por uma equipe liderada pelo pesquisador José Avelino Santos Rodrigues, também da Embrapa Milho e Sorgo. O que se buscou durante as etapas de melhoramento genético foram sete características: alta produtividade de massa; alta proporção de grão; bom padrão de fermentação; boa digestibilidade; resistência a doenças; eficiência nutricional; e resistência ao acamamento. “O BRS 658 veio para o segmento de produção de silagem de qualidade e é resultado de um trabalho de quase dez anos de pesquisa”, relata.

O pesquisador revela que o BRS 658 apresenta potencial produtivo de 10% acima dos híbridos existentes. “O destaque maior é sua qualidade de silagem por possuir alta proporção de grãos na forragem e excelente sanidade foliar”, complementa. Outros destaques do novo híbrido forrageiro da Embrapa são o elevado teor de proteína bruta (9,2%, índice recorde entre os já disponíveis no mercado) e sua digestibilidade, parâmetros que conferem maiores produções de leite e carne, com consequente menor custo de produção para o agricultor.

Rodrigues, melhorista da cultura do sorgo há 41 anos, diz que a nova cultivar apresenta boa capacidade de rebrota e possui um sistema radicular muito bem desenvolvido, o que atribui resistência ao acamamento. Defensor do cultivo do sorgo, Pio, como é mais conhecido, traz uma carta poderosa na manga em tempos de escassez de chuva: enquanto o milho gasta 500 kg de água, em média, para produzir 1 kg de matéria seca, o sorgo produz a mesma quantidade com 100 kg de água a menos.

Segurança alimentar

As novas cultivares de sorgo foram lançadas em maio pela Embrapa. Segundo Antônio Álvaro Corsetti Purcino, chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, Unidade de pesquisa responsável pelo desenvolvimento dos novos híbridos, atender à expectativa do mercado ao apresentar materiais que respondem às condições de escassez hídrica da segunda safra mostra que a Empresa vem cumprindo seu papel.

A Embrapa Produtos e Mercado é a Unidade responsável pelas ações de comercialização desses novos ativos. Para Frederico Ozanan Machado Durães, gerente-geral, o lançamento de uma nova cultivar é ação estratégica para o País. “Uma nova tecnologia agrícola, que possa impactar o mercado, se traduz em segurança alimentar para a população brasileira. A instituição deposita, em uma nova genética, o que há de melhor em competência técnica”, descreve.

Empresas licenciadas apostam nos novos materiais

Em fase de produção de sementes para a próxima safra, a Riber KWS, empresa licenciada para venda da nova cultivar de sorgo forrageiro, a BRS 658, percebe bom desempenho do material nos campos de produção. De acordo com Dimas Cardoso, supervisor da área de desenvolvimento de produtos para silagem, o que mais chama atenção no novo híbrido silageiro é a menor sensibilidade ao fotoperíodo, que é a reação da planta à duração do dia em relação à noite, permitindo uma adaptação mais ampla às diversas regiões brasileiras. “O produtor valoriza muito essa característica, já que estamos nos referindo à possibilidade de plantio em uma época de risco, de seca”, afirma.

Segundo ele, nos ensaios conduzidos, outros diferenciais observados foram a sanidade foliar, que impacta em maior produtividade e em uma silagem de melhor qualidade, e a cor e o tipo do grão: mais claro que os materiais já disponíveis no mercado e de maior tamanho. “Essa última característica facilita o plantio, no momento de regular a semeadora, além de os animais apresentarem menos perda de amido nas fezes”, destaca.

Para José Benevides Romano, gerente comercial da mesma empresa, “as características agronômicas são superiores às das outras cultivares, a resistência a doenças é maior e o porte é mais alto, resultando em maior produtividade”, resume.

Novos graníferos

Para Edwar Seishi Sugahara, diretor comercial da Sementes Jotabasso, uma das licenciadas para venda do novo granífero BRS 373, a produtividade superior de cerca de 20% em relação ao antecessor BRS 330 é o diferencial do novo híbrido. Ele destaca ainda a melhor sanidade, a precocidade e a resistência a doenças. “Para quem planta na safrinha, o ciclo precoce é determinante. Isso pode salvar a lavoura, e as potencialidades desse novo híbrido são enormes”, disse.

A licenciada vem trabalhando na linha de tentar fazer com que o produtor plante o sorgo na janela ideal, seguindo corretamente as orientações agronômicas, como o momento certo de aplicação de fungicidas e inseticidas, resultando em maior rentabilidade. “O sorgo apresenta teor proteico superior ao do milho, além de exigir menos água para produzir. O produtor deve se convencer de que, fazendo uso da tecnologia e tirando o cereal da época marginal de plantio, pode ganhar dinheiro com a cultura”, explica o gerente comercial da Jotabasso, Jefferson Aroni.

Híbrido de sorgo BRS 373:

O BRS 373, granífero, apresenta ampla adaptação (regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil e Oeste Baiano). Resultados de pesquisa têm mostrado, também, sua resistência a nematoides (M. javanica e M. incognita).

Híbrido de sorgo BRS 380:

Híbrido simples de sorgo granífero com ótimo desempenho nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Apresenta resistência à antracnose e tolerância ao alumínio tóxico dos solos do Cerrado.

Híbrido de sorgo forrageiro BRS 658:

Média de 50 t/ha de produção de massa verde. Possui porte alto, ciclo vegetativo ideal para ensilagem, colmos secos com excelente padrão fermentativo, alta porcentagem de grãos na massa (30% a 40% da matéria seca), proporcionando uma silagem de alta digestibilidade (cerca de 60% DIVMS) e alto teor proteico (média de 8-9% de proteína bruta). Outras características importantes do BRS 658 são a resistência ao acamamento, a alta sanidade foliar e a resistência ao míldio (Peronosclerospora sorghi).

Fonte: Embrapa

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