Os negócios da safra nova da soja no Brasil deverão seguir bastante travados pelos próximos meses e evoluir apenas quando a colheita começar no primeiro trimestre de 2017, devido a uma retração de produtores e das próprias empresas compradoras, disse nesta quarta-feira o presidente da trading Algar Agro, Murilo Braz Sant’Anna.
Segundo o executivo, indicativos de câmbio desfavorável e baixos preços da soja no mercado externo mantêm retraídos os agricultores, enquanto empresas compradoras avaliam a melhor estratégia para garantir margens, após acirrada competição ao longo de 2016.
“O senso de responsabilidade das empresas indica que no ano que vem não vamos ter sangue escorrendo pela rua como tivemos este ano”, disse Sant’Anna, referindo-se a uma guerra de preços que teria sido motivada por empresas novas no mercado brasileiro.
“Novos entrantes pagavam qualquer preço porque queriam se posicionar no Brasil, fazer volume. Chega no fim do ano, você tem um resultado muito negativo. Este ano todas as empresas do setor, as grandes e as pequenas, todo mundo está passando um ano muito difícil.”
Até o momento, os negócios de venda antecipada da safra 2016/17, que está sendo semeada, estão muito abaixo do registrado na mesma época de outros anos.
Segundo a consultoria França Junior, até 7 de outubro, 24% do volume total esperado para a safra já estava negociado, bem abaixo dos 40% no mesmo período da temporada passada. Os negócios também seguem abaixo dos 31% da média dos últimos cinco anos para esse período.
Na avaliação do executivo da Algar Agro, a maior estabilidade política no País e uma melhora no ambiente de negócios deverão atrair novamente capital estrangeiro para investimentos no Brasil. Contudo, o efeito negativo deverá ser uma valorização do real nos próximos meses, o que diminui a lucratividade as exportações do País.
“Não vamos viver aqueles picos, de dólar a R$ 4,00, por exemplo, que o produtor usava para vender grandes volumes”, projetou Sant’Anna.
Além disso, as perspectivas de preço da soja no mercado internacional são de baixa, em meio a grandes estoques, principalmente devido a uma safra recorde nos Estados Unidos.
“Quando se vê os estoques no mundo pressionando (a cotação em Chicago) e se vê a situação no Brasil, com o real valorizado, o preço em reais fica muito baixo. Aí a rentabilidade do produtor tende a cair”, disse o executivo, explicando o baixo interesse de venda pelos agricultores.
Ainda assim, a Algar Agro não prevê que faltará soja nos portos logo após o início da colheita, nem estima que o ritmo de embarques seja alterado.
“Vai ter soja no porto. O produtor tem que vender, pelo menos uma parte, para pagar suas contas.”
Pelas estimativas da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), da qual a Algar Agro é membro, a safra, a exportação e o processamento de soja do Brasil em 2017 deverão atingir volumes recordes.
A produção de soja do País em 2016/17 deverá aumentar 4,9%, para 101.3 milhões de toneladas, e exportações de 57 milhões de toneladas em 2017 contra 52,5 milhões de toneladas na estimativa para 2016.
Fonte: Reuters