Nassar: “Vejo grande risco do Brasil perder mercado de farelo de soja na Europa”

As novas legislações ambientais na União Europeia podem fazer com que o Brasil perca mercado de farelo de soja no bloco, alerta o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar.

Em webinar nesta quinta-feira, realizado pela Fundação Fernando Henrique Cardoso, ele afirmou que, caso novas leis, em especial o Pacto Ecológico Europeu, dificultem a exportação do Brasil, “a Europa pode fazer desvio de comércio e comprar mais farelo de soja dos Estados Unidos”.

“E os EUA iriam adorar isso, porque estão estimulando o diesel verde, então vão ter de processar muita soja, já que o óleo é a principal matéria-prima, e vai sobrar muito farelo”, disse Nassar.

Se isso acontecer, segundo o executivo, o Brasil pode passar a exportar mais grão e menos farelo, “o que é ruim para todo mundo”. Hoje, a Europa tem participação de aproximadamente 50% da exportação brasileira de farelo de soja.

Dificuldade

A possível dificuldade é que a Europa planeja classificar o risco de países, e nações consideradas de alto risco precisarão de uma “due dilligence” mais extensa, ou seja, deverão apresentar informações mais detalhadas sobre a origem e o impacto de produtos que estão vendendo.

“Se disserem que o Brasil é de alto risco e os Estados Unidos, de baixo, isso muda o padrão de comércio”, afirmou Nassar. “Eles fazem algo simplificado, e nós fazemos algo extremamente complexo.”

Nassar comparou a situação ao que aconteceu com o óleo de palma da Indonésia, que foi excluído do mercado de biodiesel na Europa por ser considerado um produto de alto impacto. “Corremos o risco de viver a mesma coisa, inclusive de política discriminatória contra o Brasil, o que poderia ser discutido até na Organização Mundial do Comércio.”

‘Timing’

O ideal, disse o executivo, seria o governo brasileiro se comprometer a reduzir o desmatamento e, em contrapartida, a Europa reduziria o risco atribuído ao Brasil.

“O problema é o ‘timing’, porque, desde que a Europa começou essa discussão, há dois anos, o nosso desmatamento só sobe. E não dá para controlar o desmatamento em um mês, isso demanda mais tempo.”

Críticas

Nassar fez críticas ao projeto europeu, afirmando que as medidas podem ir além da redução do impacto ambiental e acabar impedindo o mercado de operar. “Se isso acontecer, os preços vão subir. A comida muda de padrão, e a indústria europeia que usa farelo de soja brasileiro vai ter alta de custos”, disse.

“Vai haver um incentivo negativo enorme para a indústria de proteína animal da União Europeia. Será que o consumidor entendeu isso?”

 

 

Fonte: Broadcast Agro

Equipe SNA

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