“Quando eu estou para largar, correndo com homens, eu não penso que eu sou uma mulher. Penso que eu sou uma corredora como os outros ali do meu lado. É competição”, diz Maiara Basso, uma menina de 21 anos que é quatro vezes campeã brasileira, 10 vezes campeã gaúcha e vice-campeã do Latino-Americano de Motocross e também trabalha com os pais em uma cerealista em Gentil, no Rio Grande do Sul, e na propriedade onde plantam grãos no Piauí.
Maiara conta que hoje o preconceito é menor, mas que ainda existe, uma vez que o ambiente também ainda é bastante masculino. “Eu, hoje, participo de bastantes campeonatos com os homens, porque o gaúcho, por exemplo, não tem a categoria feminina. Se eu fosse correr só as categorias femininas, andaria muito pouco no ano”, disse.
A garota, que impressiona pela maturidade, pelo foco e pela determinação, já cursou direito, mas soube que ia mesmo dividir seus dias entre o motocross e o campo. E é trocar meia dúzia de palavras com a guria que essa certeza já salta aos olhos e ganha nossa admiração. Viajando por 10 dias com o Missão Mulheres do Agronegócio 2017, Maiara era a mais nova do grupo e serviu de inspiração para as demais participantes do tour.
Neste ano, doze mulheres percorreram quase 2.000 quilômetros juntas no tour da Labhoro Corretora com o Notícias Agrícolas pelo Meio-Oeste americano, com o objetivo de fomentar ainda mais o papel da mulher no agronegócio brasileiro e mundial, além de promover uma troca de experiências entre as profissionais dos dois países. Eram profissionais representando, além de sete estados, elevados níveis intelectual e profissional e que puderam chegar a um consenso: é preciso, cada vez mais, segregar menos para agregar mais.
O exemplo de Maiara, no motocross, é bastante parecido ao que as mulheres vêm buscando desempenhar no agro. O objetivo maior tem sido, desde sempre, o que as representantes femininas do setor possam ser destinadas a cargos ou funções mais amplos. Os desafios são tão intensos quanto uma curva perigosa ou uma pista judiada. Atualmente, há apenas cinco pilotos no Brasil que conseguem viver do motocross. Entre eles, nenhuma mulher.
“Eu sempre fui criada no meio de homens, pelo fato de termos uma cerealista, e depois pelo motocross. (…) O motocross é um meio sofrido. Às vezes estamos em corridas sem estrutura nenhuma, no sol, terra, poeira, barro e agricultura também é isso. Agricultura também não é fácil, na lavoura, então, me ajudou muito. E para trabalhar na agricultura, você tem que ser inteligente”, disse.
Assim como as demais companheiras de viagem, Maiara também dirige o maquinário das propriedades, como não poderia ser diferente, e mostra que as mulheres estão cada vez mais saindo dos papeis administrativos e assumindo funções práticas.
Na fazenda de Talita Carrer, em Minas Gerais, por exemplo, quem cuida da rotina operacional no momento da colheita da cana-de-açúcar é uma mulher. “Ela consegue ter um raciocínio muito mais dinâmico, tomar decisões e resolver problemas com muito mais rapidez. Um homem não consegue ter o mesmo desempenho”, disse.
Números: participação da mulher no agro
A FAO, agência da ONU (Organização das Nações Unidas) para agricultura e alimentação, mostrou que a cada 100 agricultores brasileiros, 13 são mulheres. Já quem lidera mulheres a frente da agricultura é o Chile, com 30% das profissionais em cargos de liderança. As chilenas são seguidas pelo Panamá, com 29%, Equador, com 25% e o Haiti, com 25%.
Há ainda dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que mostram também que hoje, aproximadamente 43% da mão de obra agrícola em países em desenvolvimento é constituída por mulheres.
Por outro lado e apesar de um movimento com força crescente de mudança desse cenário, o espaço para as mulheres na gestão de propriedades rurais, de acordo com números da ABMR&A (Associação Brasileira de Marketing Rural & Agronegócio) ainda é restrito, são apenas 10%. No entanto, o número é expressivamente maior do que os 3% de 2003 e os 7% de 2008.
Missão Mulheres do Agronegócio
O tour Missão Mulheres do Agronegócio foi liderado, mais uma vez, por Andrea Cordeiro, da Labhoro Corretora. A profissional é, hoje, referência no mercado de grãos, trabalhando com análises e consultoria para o setor, ambiente que ainda é predominantemente masculino. Além disso, consolidou-se como empreendedora e pioneira nessa jornada de ampliar o papel dessas profissionais no setor, uma vez que foi a primeira mulher a promover tours exclusivamente femininos para o Corn Belt há oito anos.
O movimento vem ganhando tamanha repercussão que, em 2016, Andrea foi convidada a palestrar sobre o agronegócio brasileiro no congresso nacional da American Agri-Women, a maior coligação de mulheres ligadas ao agronegócio dos Estados Unidos. A instituição conta com representantes de mais de 50 organizações estaduais e atua desde 1974 no país.
Fonte: Notícias Agrícolas