Explorar o controle através dos inimigos naturais; dimensionar o nível de tolerância da planta aos danos causados pela praga-alvo, monitorar as populações de insetos para tomada de decisão e considerar a biologia e ecologia da cultura e de suas pragas em geral. Estes têm sido os princípios do Manejo Integrado de Pragas de várias culturas, a exemplo do milho.
O monitoramento é o primeiro passo para se praticar o MIP. Sem monitorar a densidade populacional da espécie-alvo no campo, não há como se aplicar seus princípios. Por isto, recomenda-se iniciá-lo antes mesmo do plantio.
“A frequência e o método de amostragem dependem da fase de desenvolvimento da cultura e do nível de precisão com que se pretende conduzir o manejo”, explica o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (MG), Ivan Cruz.
DE OLHO NO SOLO
Para o Manejo Integrado do Milho – MIP Milho, ele orienta, após observar que tipo de inseto-praga está atacando a lavoura, a realização de um monitoramento de pragas de solo, examinando amostras de 30 cm x 30 cm por 15 cm de profundidade, com uso de uma peneira para procurá-las. “Para a larva-arame do milho, por exemplo, medidas de controle devem ser adotadas se dois ou mais insetos forem detectados por amostra. A média de uma larva por amostra é suficiente para causar dano econômico”, alerta o especialista.
Neste caso, recomenda-se o tratamento de solo com inseticidas. Para a simples detecção da presença de insetos no campo, pode-se proceder da seguinte maneira: tomar cerca de 200 gramas de sementes sem tratamento e enterrar em locais com identificação, dentro da área a ser cultivada, e cobrir com um pedaço de plástico transparente. Alguns dias depois, o produtor deve desenterrar o material e procurar pelos insetos.
Em casos da detecção de cupins subterrâneos, o agricultor precisa examinar pedaços de colmo ou sabugos de milho da cultura anterior ou pode enterrar pedaços destes materiais ou mesmo rolo de papel higiênico (sem cor e perfume) em pontos estratégicos. Após alguns dias, ele deve examinar o material, com intuito de detectar a presença de insetos-praga.
ESTRATÉGIAS
Uma das estratégias para o MIP Milho é o tratamento de sementes, uma prática que tem sido bastante difundida nos últimos anos, com o objetivo de controlar as pragas subterrâneas e iniciais da cultura do grão, em áreas com histórico de problemas causados por ataques de determinados grupos de insetos.
Segundo o pesquisador da Embrapa Milho, os danos provocados por eles podem resultar em falhas na lavoura, devido à alimentação nas sementes, após a semeadura; nas raízes, após a germinação; e na parte aérea das plantas recém-emergidas. De acordo com ele, o ponto primordial da busca pela alta produtividade é estabelecer o número ideal de plantas por hectare.
“Em lavoura com baixo estande, a contribuição dos demais insumos fica limitada e o agricultor não consegue obter a rentabilidade esperada da lavoura. No tratamento de sementes, a quantidade relativamente pequena de ingrediente ativo, aplicado sobre as sementes, protege-as no solo até a sua germinação, bem como as raízes e a parte aérea da planta logo após a sua emergência”, explica.
INIMIGOS NATURAIS
A conscientização de que os inimigos naturais podem ser aliados importantes no Manejo Integrado de Pragas tem feito com que a escolha pelos inseticidas e/ou aplicações sejam mais seletivas. Na cultura do milho, o predador Doru luteipes, por exemplo, tem papel fundamental no controle biológico de várias espécies de insetos-praga.
Como o desenvolvimento de todas as suas fases biológicas se dá no cartucho da planta, esta espécie se torna mais vulnerável à ação dos agroquímicos. Por isto, é necessário avaliar o impacto dos diferentes produtos químicos sobre suas fases. Segundo o pesquisador Ivan Cruz, é certo que os adultos são mais tolerantes a vários produtos, especialmente biológicos e fisiológicos. “No entanto, ovos e formas imaturas são bem mais sensíveis.”
A sensibilidade deste e de outros inimigos naturais, bem como os critérios para a escolha de um produto químico para uso no manejo integrado de S. frugiperda em milho, são abordados por Cruz desde o ano de 1997.
RESISTÊNCIA
Na literatura, há registros de várias fontes de resistência genética do milho a pragas. Destacam-se, como fontes de resistência à S.frugiperda, os genótipos do grupo Antigua. Com resistência múltipla a vários lepidópterospraga, vêm sendo citados os genótipos 2D-118, MpSWCB-4, Zapalote Chico 2451 e MP 701 a 707. Milhos tropicais – como o CMS 23, CMS 14C e CMS 24 – estão sendo melhorados para resistência à lagarta-do-cartucho do milho, pela Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (MG).
Conforme o pesquisador, há pouco tempo, com o desenvolvimento das técnicas da engenharia genética, viabilizando inclusive a transformação do milho, o conjunto de genes disponíveis para serem usados como fonte de resistência subiu significativamente, somando espécies evolutivamente muito distantes.
Um grande esforço também tem sido feito para desenvolver plantas com o gene Bt, clonado da bactéria Bacillus thuringiesis (grãos transgênicos), que codifica uma proteína tóxica. Esta bactéria produz a b-exotoxina e a dendotoxina, ambas com ação tóxica sobre um grande número de espécies de insetos-praga do milho.
CULTIVARES
Segundo o pesquisador da Embrapa, a utilização de cultivares resistentes a qualquer agente biológico, em uma área extensiva e por algum período de tempo, fazendo pressão de seleção, pode ou não resultar no aparecimento
de biótipos que quebrem esta resistência. Portanto, explica, é importante conhecer os mecanismos envolvidos na resistência, a variabilidade genética da planta e do agente-alvo para se estabelecer estratégias de manejo desta resistência, prolongando, assim, a sua utilização.
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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 710/2015