Apesar do desemprego alarmante e da queda da renda das famílias, que ainda persistem, as indústrias processadoras de trigo sentiram no ano passado uma reação nada desprezível do mercado interno. Após a retração do consumo de pães, massas, biscoitos e farinhas em 2015, os moinhos conseguiram recuperar boa parte dessas perdas no ano passado e acreditam que seja muito difícil uma reversão dessa tendência em 2017.
Conforme levantamento da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), entidade que congrega 45 empresas que processam cerca de 75% do volume de trigo moído no país, todas as indústrias do setor no Brasil moeram 11.047 milhões de toneladas do cereal no último ano e produziram 8.285 milhões de toneladas de farinha de trigo para o mercado em geral. Em comparação com 2015, o volume de trigo processado e a produção de farinha cresceram 5,9% no ano passado.
Considerando as importações de farinha, que também cresceram em 2016, embora sejam marginais, o consumo total do produto subiu 6,2%. A demanda por farinha está concentrada na região Sul, que absorveu 28% de todas as vendas do produto, enquanto a região com menor fatia do consumo foi o Centro-Oeste, respondendo por 15% do total.
Esses dados indicam um crescimento muito superior à média do comportamento das indústrias de produtos alimentícios em geral, que elevaram sua produção em 0,8% no ano, conforme a Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física do IBGE.
Entretanto, a retomada no ano passado ainda não foi capaz de recompor os níveis de produção observados entre 2012 e 2014. O maior volume de trigo processado pelas indústrias associadas à Abitrigo foi em 2013, quando foram moídas 11.276 milhões de toneladas do cereal. Esse também foi o ano em que foi registrado o pico de produção de farinha, de 8.457 milhões de toneladas.
Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos EUA e atual presidente da Abitrigo, vê na recuperação da atividade dos moinhos uma espécie de indicador da retomada da economia. “A farinha é usada para produtos de grande consumo. Por isso, nosso setor mostra que há um gradual crescimento da economia como um todo, uma reação do mercado interno com aumento do consumo de pão e massas alimentícias”, disse.
No ano passado, a maior parte das farinhas foi direcionada para a produção de pães (56%), enquanto 15% foram para a produção de massas, 10% para biscoitos, 10% para uso doméstico e 9% para outros usos. Segundo Barbosa, a indústria tem percebido um crescimento mais expressivo do consumo de macarrão. Ele não acredita, porém, que esse aumento seja efeito de uma possível migração do consumo de outros alimentos mais caros, como de carnes.
A associação não coleta dados mensais sobre a atividade dos moinhos e, por isso, Barbosa avalia que ainda é cedo para apresentar uma estimativa de crescimento para o setor. Segundo ele, nestes primeiros meses de 2017 a atividade das indústrias ainda tem sido “bem equilibrada” e “não dá para perceber uma tendência ainda, mas a expectativa é que melhore”.
Essa expectativa é baseada nas estimativas de recuperação da economia em torno de 1,5% neste ano. “Estamos saindo de uma recessão de 3,5%. Para se ter um crescimento de 1,5% em média neste ano, no último trimestre a economia tem de crescer mais do que isso”, disse.
Para o dirigente, a recuperação da atividade dos moinhos deve ser rápida, uma vez que ainda há uma grande capacidade ociosa e, para aumentar a produção, bastará preencher essa capacidade. Nas indústrias associadas à Abitrigo, o percentual de ociosidade das plantas gira entre 15% e 30%, afirmou.
Novos investimentos que aumentem a capacidade instalada ainda não estão no horizonte. No ano passado, 196 moinhos processaram trigo no país, na estimativa da Abitrigo. As associadas à entidade têm cerca de 70 plantas industriais.
Apenas uma unidade nova entrou em operação no ano passado: o Moinho Fluminense, da Bunge, que substituiu uma planta antiga homônima, tombada como patrimônio histórico. A nova unidade, porém, tem o dobro de capacidade da unidade anterior, com 600 mil toneladas de trigo processadas por ano.
Neste ano, outra unidade nova começou a operar, do Moinho Globo, que já contava com uma planta no mesmo município, Sertanópolis (PR). A fábrica tem capacidade para processar o equivalente a 219 mil toneladas de trigo por ano, mas começou a operar com 30% de ociosidade.
Fonte: Valor Econômico