Dados divulgados na última semana apontam que a moagem de cana-de-açúcar nas usinas e destilarias do Centro-Sul do Brasil deve atingir cerca de 575 milhões de toneladas na safra 2017/18, iniciada no mês de abril.
“Se essa estimativa for confirmada, a queda será de 5,3% frente às 607 milhões de toneladas processadas no ciclo anterior”, prevê Luiz Carlos Correa Carvalho, mais conhecido como Caio Carvalho. Presidente da Academia Nacional de Agricultura da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), ele também é diretor da Canaplan, consultoria especializada no setor agroindustrial da cana-de-açúcar.
Segundo o executivo, alguns fatores contribuíram para essa retração significativa: “Podemos elencar diversos motivos para o cenário atual, como, por exemplo, o envelhecimento do canavial devido às últimas duas safras mais recentes terem plantios menores que a média; área de cana de 18 meses a colheita abaixo da média, além do maior uso de mudas por causa do maior plantio e da redução da área a ser colhida”.
Ele ainda lembra que o intervalo de projeção pode variar de 560 milhões a 590 milhões de toneladas.
EFEITOS DA CRISE
Carvalho acrescenta que o setor ainda sente muito os reflexos da crise econômica vivida no governo Dilma Roussef. “Acredito que essa tenha sido a “mãe de todas as bombas’ pois a safra mais curta obriga o produtor a começar o plantio mais tardiamente”, salienta.
Ainda de acordo com a avaliação da consultoria, em relação ao mix previsto para a temporada, a estimativa é de chegue aos 46,6% da oferta de matéria-prima para a fabricação de açúcar, frente a 46,8% na safra anterior.
“Diante desse cenário, a produção de açúcar deve atingir 34 milhões de toneladas (-4,5%), podendo variar de 33,4 milhões a 34,5 milhões de toneladas”, estima o diretor da Canaplan.
Para ele, essa queda também representa o reflexo da redução da renovação das áreas de cana, pela falta de investimento, nos próximos dois anos: “Além disso, será preciso, durante este período, uma maior atenção no consumo de mudas nos plantios futuros, além de um retorno significativo de plantio manual e uso de meiose”.
Conforme o executivo, devido à percepção de safra menor, o plantio iniciou um pouco mais lento. No entanto, ele diz que “teremos uma provável melhora na qualidade da cana, por causa desse atraso na safra, e também plantios maiores que os últimos dois anos, estimulados pelos melhores preços”.
RECUPERAÇÃO DO SETOR
Carvalho menciona algumas medidas que contribuíram para a recuperação do setor: “O retorno dos plantios com menor consumo de mudas, maior atenção e cuidados com os tratos da cana soca e replantios de falhas na cana soca e na cana planta mais intensos, são algumas das ações a serem observadas para iniciar essa recuperação”.
Também acrescenta que, com isso, a moagem estará “full”, acelerando a antecipação do final da safra caso seja normal o clima.
ETANOL
De acordo com a consultoria, o percentual de cana destinada ao etanol, entre as safras, deve variar entre 53,7% a 53,2%, atingindo uma produção estimada em 23,8 bilhões de litros (-7%), com intervalo projetado de 23,3 bilhões a 24 bilhões de litros.
Para o diretor da Canaplan, a retração na produção de açúcar e de etanol influenciará esse mercado e a produção deficitária de etanol anidro será preenchida pela importação de etanol dos Estados Unidos, além de ampliar a compra externa de gasolina.
“Em contrapartida, temos um mercado de açúcar estável, sem grandes mudanças, porém, em um patamar melhor de preços.”
Quanto à oferta total de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), a consultoria estima 76,5 milhões de toneladas no ciclo atual e prevê produtividade de 74 toneladas por hectare, podendo variar de 72 toneladas a 76 toneladas por hectare.
Por equipe SNA/SP