Milho: redução da safrinha deve puxar preços em meados de 2018

As últimas estimativas da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) apontam para uma queda na segunda safra de milho do Brasil em 2018, reflexo de uma conjunção de fatores. E já são esperados impactos nos preços do cereal. No entanto, essas são reações que podem demorar ainda a chegar, dada a oferta confortável disponível no país, ao menos por enquanto.

Com o atraso do início do plantio da soja em função da estiagem em importantes regiões produtoras no Brasil, os produtores pretendem investir menos na cultura, dada a janela mais estreita para os trabalhos de campo. Os investimentos são altos e os resultados poderão ficar prejudicados.

As estimativas mostram que a segunda safra deverá atingir a 67.107.900 toneladas, contra 67.355,1 milhões de toneladas na safra anterior. Essa queda, porém, pode ser mais expressiva caso os problemas, principalmente os climáticos, continuem a ocorrer nos campos, bem como as preocupações dos produtores.

Somente em Mato Grosso, segundo os números do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), a queda poderá ser de 18,75% na segunda safra do estado, com uma redução de 10% da área para 4.2 milhões de hectares.

“E essa queda se dá por conta dos preços baixos e esse início de semeadura da soja que acabou acontecendo mais tardiamente do que no ano passado”, disse Ângelo Ozelame, gestor técnico do instituto. A estimativa da produtividade de Mato Grosso na safrinha é também menor, podendo passar de 107 para 97 sacas por hectare.

No Maranhão, 30% da área inicialmente estimada para o milho safrinha não será cultivada nesta próxima temporada, segundo o presidente da Aprosoja MA, José Carlos Oliveira de Paula, em entrevista ao Notícias Agrícolas. “Não adianta arriscar. Mesmo usando uma tecnologia boa, é arriscado e hoje, o custo está muito alto. Então, a maioria dos produtores está retraída no caso do milho”.

A situação não é diferente no Paraná. Muitas regiões produtoras do estado já registram atraso no plantio e no desenvolvimento da soja, com a janela para a semeadura da safrinha também apertada. “Se for para investir bem, já dá medo, porque se produz menos e não fecha o custo”, disse Ildefonso Ausec, produtor rural de Doutor Camargo, no noroeste paranaense.

Nos arredores de Pato Branco, o cenário é parecido. Cálculos feitos para a região mostram que, para cada dia de atraso no plantio do cereal, a possibilidade de perda de produtividade é de três a cinco sacas por hectare, segundo o presidente do sindicato rural local, Oradi Caldato.

Impactos no mercado

Com a confirmação desse quadro, o mercado brasileiro de milho pode chegar a um momento de oferta mais justa e, portanto, cotações melhores. No entanto, segundo o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o Brasil ainda vai virar o ano com uma quantidade de produto que limita essa reação dos preços e um movimento de mudança deverá ser observado apenas em meados de abril e maio de 2018.

As cotações futuras do milho, base porto, já se mostram melhores. Nesse momento, variam entre R$ 29,50 e R$ 30,00 por saca e, quando observados os meses de julho e agosto do ano que vem, o patamar sobe para algo entre R$ 32,00 e R$ 34,00. Ainda assim, de acordo com Brandalizze, estes são preços que ainda não atraem os vendedores.

Com esse nível, as cotações no interior de Mato Grosso, descontando o frete, estão variando de R$ 16,00 e R$ 17,00, que não estimula novos negócios, dado, mais uma vez, o alto custo de produção do grão.

Dessa forma, a comercialização da safrinha de milho está parada no país. “Podemos dizer que a comercialização nem andou. Temos menos de 5% da safrinha vendida, enquanto, em anos anteriores, já atingia algo de 20% a 30% nessa época”, disse o consultor. “Os produtores estão comprando insumos, sementes, com recursos próprios, buscando alternativas, mas os negócios estão parados”.

Para os negócios voltarem a fluir, ainda segundo Brandalizze, e também considerando o interior de Mato Grosso, os preços nos portos teriam de alcançar entre R$ 36,00 e R$ 38,00, para liquidar em R$ 20,00 a R$ 22,00 no Estado.

Exportações

Ainda de acordo com o consultor, as exportações também perderam um pouco de ritmo no Brasil nos últimos meses e deverão fechar o ano com números abaixo das expectativas. “As estimativas iniciais variavam de 32 a 34 milhões de toneladas. Contudo, devemos exportar 28 milhões ou até um pouco menos”, disse.

“O produtor vendeu o que precisava, e os preços também não reagiram muito nos portos”, afirmou Brandalizze, ao explicar o esfriamento das vendas externas do Brasil. “E ele ainda segura parte de suas vendas para o ano que vem, por conta do ano fiscal”.

Além disso, embora os preços do milho estejam alinhados com os dos demais exportadores, seus prêmios são mais elevados neste momento. Para o cereal do Brasil eles oscilam entre US$ 0,55 e US$ 0,70 por bushel acima dos preços praticados em Chicago, contra o milho americano, que oscila entre US$ 0,35 a US$ 0,40.

Boas notícias

Este cenário, porém, é temporário, segundo Brandalizze. “No próximo ano, tudo muda. A produção e as exportações americanas serão menores (com as vendas caindo cerca de dez milhões de toneladas) e vão abrir espaço para o Brasil”.

Além disso, a China deverá atuar com mais expressão nas importações de milho no próximo anos, com uma demanda prevista para crescer, até 2020, dez milhões de toneladas por ano, segundo o consultor. A força principal vem do setor do etanol, com a decisão do governo chinês de aumentar para 10% o volume do combustível na gasolina, que hoje fica entre 2% e 3%.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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