Milho avança na safra de verão

 

A rentabilidade, principal “conselheira” dos produtores, deverá motivar a expansão de área de cultivo de milho no Brasil na temporada de verão desta safra 2018/19, um movimento que se tornou raro no País na última década.

Segundo estimativas da consultoria Céleres, a área de milho verão deve aumentar 360.000 hectares no novo ciclo, para 5.8 milhões de hectares. Esse avanço vai ocorrer em áreas de pastagens ou que vinham sendo ocupadas por grãos de menor liquidez, como o feijão. E não deverá representar ameaça ao cultivo de soja, cuja área tende a bater novo recorde.

Se o aumento de área for confirmado, este será o primeiro desde a safra 2005/06 superior a 200.000 hectares. Em 2016/17, a área de milho verão até cresceu após oito safras de retrações, mas apenas 126.000 hectares, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Mesmo com essa interrupção da tendência de queda, a área prevista pela Céleres corresponde a 40% do total semeado no ciclo 1986/87 (14 milhões de hectares), o que comprova que, no Brasil, o milho é cada vez mais uma cultura de segunda safra, semeado por grandes produtores das regiões Sul ou Centro-Oeste que costumam plantar soja no verão.

Segundo Enilson Nogueira, analista da Céleres, a expansão prevista para o ciclo 2018/19 está atrelada aos bons preços do grão e não necessariamente representa uma guinada. “Existem algumas regiões brasileiras em que a rentabilidade do milho está até maior que a da soja”, disse.

Dados da consultoria mostram que a margem operacional do milho de verão no Paraná, terceiro principal estado produtor do cereal na primeira safra, está estimada, em média, em R$ 2.853,00 por hectare, ao passo que a margem média da soja no estado está projetada em R$ 1.155,00 por hectare. “O preço do milho subiu bem mais que o da soja neste último ano”, afirmou Nogueira.

A margem operacional esperada para a temporada de verão no Paraná na safra 2018/19 é quase três vezes maior que a registrada em 2017/18 (R$ 1.023 por hectare).

As primeiras estimativas do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Paraná apontam para um aumento de área de 6% para o milho verão no estado, alcançando 352.200 hectares, e sinalizam estabilidade para a soja, que deverá voltar a se espalhar por cerca de 5.4 milhões de hectares.

A recente disparada do dólar, ainda que beneficie as exportações em geral, também é considerada um estímulo ao avanço do milho no próximo verão, já que tende a elevar a rentabilidade dos embarques. No atual patamar, disse Nogueira, “o dólar compensa até o aumento dos fretes rodoviários provocado pela nova tabela de preços mínimos do governo”.

“Nossa área de milho verão vai ficar entre 15.000 e 20.000 hectares nesta safra. Na última, ficou perto de 10.000 hectares”, afirmou Dilvo Grolli, presidente da Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel), uma das principais do Paraná e do País.

Na época do plantio de verão do ano passado, o agricultor estava recebendo R$ 18,00 pela saca de 60 quilos na região de Cascavel, mas neste ano o valor está em R$ 33,00. “E há sinalização de R$ 34,00 a saca em plena safra”, disse Grolli. Na região, a expansão deverá vir da conversão de pastagens em lavouras e de áreas plantadas com feijão em 2017/18.

Os produtores gaúchos também devem aumentar a área destinada ao milho nos próximos meses. O Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor do cereal no verão. A expansão deverá ser de 5,5%, para 738.000 hectares, conforme a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater/RS).

No estado, a saca de milho é vendida atualmente a R$ 37,00, em média, quase 70% mais que no mesmo período do ano passado.

Mesmo com o aumento de área, ainda haverá déficit entre produção e consumo no mercado gaúcho. Segundo dados da Emater/RS, a produção deve totalizar cinco milhões de toneladas, enquanto a demanda para produção de ração deverá ficar na casa das sete milhões de toneladas, segundo Alencar Paulo Rugeri, técnico da Emater/RS.

O banco holandês Rabobank pondera que a maior liquidez da soja brasileira tende a limitar a expansão do milho no verão, mesmo que o cereal esteja com boa rentabilidade. É normal, em países fortes nos dois produtos, como EUA e Brasil, alguma migração a depender das condições de mercado, mas para isso os cenários têm de ser mais distintos, lucro com um produto e prejuízo com outro, por exemplo.

“A soja tem uma liquidez muito maior e o produtor não deverá sacrificar área de soja para plantar milho no verão”, disse Victor Ikeda, analista do Rabobank. Ele diz que a disputa comercial entre EUA e China tem mantido elevados a demanda e os prêmios pela oleaginosa brasileira nos portos.

 

Fonte: Valor Econômico

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