Milho argentino para abastecer o mercado brasileiro

Com dificuldades para comprar milho no mercado interno, onde o preço disparou nos últimos meses por conta de exportação recorde, indústrias de aves e suínos resolveram buscar o produto na Argentina.

Dez navios já foram embarcados no país vizinho para abastecer unidades de produção, especialmente da Região Sul.

– O grande problema é o movimento especulativo em cima do produto. A situação se tornou insustentável, não podemos deixar os animais passarem fome – argumenta Nestor Freiberger, presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).

O milho argentino que chegará ao Brasil na próxima semana terá um custo de R$ 45,00 a saca, incluindo o frete. No mercado interno, o preço chega a R$ 47,00.

– Não podemos ficar reféns do milho nacional – reclama José Roberto Goulart, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado (SIPS).

Nos dois primeiros meses do ano, o valor médio do indicador de preços do milho foi de R$ 41,99/saca, alta de 56% ante a média de R$ 29,05 de todo o ano passado. Os cálculos são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/ESALQ).

Se para os produtores a valorização do cereal foi um estímulo para voltar a investir na cultura, para as indústrias de aves e suínos a conta passou a não fechar no final do mês. Com 70% da ração dos animais composta por milho, os custos de produção dispararam.

Juntos, os dois segmentos consomem em torno de 5 milhões de toneladas do produto por ano no Estado.

Dirigentes dos setores lembram que as últimas importações de milho da Argentina, em grande escala, ocorreram na década de 1990. Na época, o Rio Grande do Sul buscava o cereal no país vizinho em anos de quebra de safra.

A retomada dos negócios, agora, é simbólica também para a Argentina, que busca espaço no mercado externo após as medidas do governo Macri de zerar a taxação de grãos e de carne exportadas – as chamadas retenciones.

A importação de milho neste momento, pouco tempo antes da entrada da safrinha do Paraná e do Centro-Oeste, poderá provocar um efeito reverso no mercado. O risco é de que produto vindo de fora gere excedentes de estoques, provocando uma queda abrupta dos preços a partir de então. Seria o feitiço voltando-se contra o feiticeiro.

 

Fonte: Zero Hora

 

 

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