Mercado aquecido para o algodão

O aumento do consumo de produtos têxteis e confeccionados no Brasil será da ordem de 4 a 5%, no mercado interno, contra a previsão de aumento de 12% na safra de algodão e de 20% de incremento na área plantada no Brasil. Os dados garantiram o tom de otimismo da última reunião de 2017 da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados (CSAD), realizada na quarta-feira (5/12), na sede do Instituto Pensar Agro (IPA), em Brasília.

Em contrapartida, a ascensão das importações de produtos acabados, que foram em média 50% superiores este ano, chegando a bater em 70% em novembro, na comparação com 2016, também preocupa os membros, sobretudo pelo alto índice de informalidade.

A Câmara Setorial do Ministério Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) reúne representantes dos produtores, indústria, exportadores, governo e entidades de crédito para discutir o setor e buscar alternativas e soluções para seu desenvolvimento.

Atualmente, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) preside o colegiado. Também fazem parte, além das associações estaduais de produtores da fibra, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Embrapa, dentre outras.

Segundo o Presidente da Abit, Fernando Pimentel, o consumo em alta aquece também a demanda pelo algodão, que continua a ser a principal fibra têxtil no Brasil. “É muito importante manter esse status, mas precisamos estar atentos ao crescimento da participação do poliéster e de outras fibras, seja por questões de preço ou de desempenho, na indústria”, disse Pimentel.

Ele acrescentou que, atualmente, tecidos como o denin estão ficando mais leves, com menos concentração da fibra na trama e participação de outras matérias-primas na composição. “O jeans está deixando de ser 100% algodão, principalmente no segmento feminino”, afirmou Pimentel.

“Temos de ser capazes de, por meio da inovação, fortalecer o consumo do algodão no Brasil e no mundo para enfrentar a competição com os fios sintéticos”, declarou o presidente da Abit, elogiando a Abrapa pelo movimento ‘Sou de Algodão’.

Aumento de safra não será problema para as exportações

Os indicativos de arrefecimento da crise econômica, que, segundo a Abit, já refletem no aumento de consumo de têxteis e confecções, também deverá ser positivo para as exportações de algodão, de acordo com a Anea. Isso porque o fim da recessão ocasiona o aumento das importações e, consequentemente, a disponibilidade de contêineres e rotas de navegação no país.

Este ano, menos contêineres em circulação e linhas reduzidas de navios provocaram atraso nos embarques de algodão, cujos principais destinos são os países asiáticos. Questionado pelo presidente da Abrapa, Arlindo de Azevedo Moura, se o crescimento estimado de 20% na produção da fibra não irá afetar os embarques, o vice-presidente da Anea, Marco Antonio Aluísio, disse que o aumento será absorvido, como também o foi na safra 2016/17.

“Estamos preparados para suportar esse aumento de produção de cerca de 200.000 toneladas. De 2016 para 2017, já houve um crescimento de quase 150.000 toneladas. Esse é um problema que os traders têm de administrar, mas vale ressaltar que os atrasos não são um problema específico do algodão, e, sim, do Brasil de uma maneira geral”, disse Aluísio, acrescentando que as companhias de navegação estão se preparando para uma safra maior.

Segundo o terceiro levantamento da safra 2017/2018, o país deverá produzir 1.8 milhão de toneladas de pluma de algodão, em um milhão de hectares de lavouras, com produtividade média estimada em 1.600 quilos por hectare.

Embarques pelo Norte e Nordeste

Uma das alternativas para reduzir a pressão sobre o porto de Santos é exportar a produção da região do chamado Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), pelos portos do Norte/Nordeste. A proposta tem sido defendida pela Abrapa.

Na reunião, o vice-presidente da entidade, Júlio Cézar Busato, que está à frente da Câmara Temática de Insumos Agropecuários (CTIA), explicou que um estudo de viabilidade sobre essa questão será elaborado, com a participação da CTIA, da Câmara Temática de Infraestrutura e logística (CTLOG) e da Câmara do Algodão.

Júlio Cézar Busato, vice-presidente da Abrapa, afirmou que algumas experiências já vêm sendo conduzidas com sucesso na Bahia, via porto de Salvador.

Mapeamento da cadeia produtiva

O professor Marcos Fava Neves, da Universidade de São Paulo (USP) e Markestrat, detalhou na reunião alguns dos resultados mais representativos do estudo “A Cadeia Produtiva do Algodão – Safra 2016/2017, Desafios e Estratégias”, lançado esta semana durante o jantar de confraternização da entidade em Brasília.

Segundo Neves, o PIB da cadeia produtiva foi de US$ 74 bilhões, composto principalmente pelas atividades pós-porteira. A movimentação financeira do setor alcançou US$ 135.5 bilhões, sendo US$ 1.3 bilhão no elo de insumos para a produção agrícola, US$ 3.2 bilhões nas fazendas, US$ 131 bilhões no “pós-porteira” e ainda US$ 48 milhões em empresas facilitadoras do funcionamento da cadeia, como corretoras e classificadores de pluma.

“Com o lançamento dessa terceira edição, a Abrapa dá mais um passo no sentido de se diferenciar dentre as organizações do agronegócio, disponibilizando conhecimento, cultura, dados, e, cada vez mais, buscando a sustentabilidade, a certificação da qualidade e da rastreabilidade do algodão brasileiro. São aspectos muito importantes de governança da associação para o Brasil ampliar sua participação no mercado internacional”, afirmou Neves.

 

Fonte: Abrapa

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