Mercado agrícola tende a manter o bom desempenho

O setor de exportação de commodities agropecuárias será o menos afetado pela desaceleração da economia chinesa, avalia Felippe Cauê Serigati, professor e pesquisador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (GV Agro). A demanda por alimentos e fibras, resumidamente, não sofrerá redução, mas tende a crescer de forma menos intensa nos próximos anos, afinal, “os chineses não vão deixar de comer apenas porque sua economia crescerá menos”.

No setor agropecuário, “a demanda tende a ser mais inelástica em relação a variações de renda”. Estudo de sensibilidade realizado pela Agroconsult, detalha Fábio Meneghin, analista e sócio da consultoria, mostra que uma redução da taxa de crescimento do produto chinês em um ponto percentual causaria uma redução em torno de US$ 434,00 na renda per capita, o que, por sua vez, levaria a uma redução marginal no consumo de proteínas, estimado em 600.000 toneladas em 12 meses.

O ensaio sugere que aquele valor corresponderia a uma diminuição em torno de 1.3 milhão de toneladas no consumo de ração, com impacto sobre a demanda por milho e soja, que cairia, respectivamente, em 800.000 e em 200.000 toneladas. “É muito pouco para um mercado que vai consumir na safra 2015/16, em torno de 92 milhões de toneladas de soja. Seria preciso uma queda de cinco pontos no Produto Interno Bruto (PIB) para termos 1.0 milhão de toneladas de soja a menos. Deve-se lembrar que o crescimento chinês recuou de 10% em 2010 para 7,4% no ano passado, mas o consumo de proteínas e rações continuou crescendo”, afirma Meneghin.

Adicionalmente, a alta do dólar torna a produção agrícola brasileira mais competitiva, o que deve permitir que o país ganhe um pouco mais de espaço no mercado internacional, afirma Otávio Celidonio, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Aplicada (IMEA).

No ano passado, o agronegócio brasileiro vendeu US$ 22.066 bilhões aos chineses, num recuo de 3,6% em comparação com 2013, mantendo a participação do País nas exportações do setor em torno de 22,8%. Nos oito meses iniciais deste ano, as exportações para o país asiático baixaram 11,7%, para US$ 16.583 bilhões, mas responderam por 27,8% do total, com alta de 13% para o volume exportado e queda de 21,8% nos preços médios, com destaque para a redução de 24% no caso da soja em grão.

O complexo exportou 34.969 milhões de toneladas para a China entre janeiro e agosto deste ano, mais do que as 33.173 milhões de toneladas despachadas nos 12 meses de 2013, o que significou 61,3% de toda a exportação do setor no período. “No longo prazo, o mercado chinês para a soja continuará bastante consistente”, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli. Considerando os dados acumulados até agosto deste ano, as exportações de soja em grão representaram 99,6% do volume total exportado pelo setor para a China e proporção quase idêntica (99,2%) na receita, além de representar 75,9% do volume de grão exportado pelo País para todos os destinos.

O diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), Fernando Sampaio, estima que as exportações de carne bovina para o mercado chinês superem a marca de 100.000 toneladas no próximo ano. Isso significará praticamente um terço das compras chinesas, que somam anualmente em torno de 300.000 toneladas. Retomadas na segunda quinzena de junho passado, as exportações do setor atingiram 27.800 toneladas no acumulado entre janeiro e agosto deste ano, saindo de apenas 114.700 toneladas em todo o ano de 2014.

Já os embarques de carne suína e de frango para a China registraram um salto de 95,7% no primeiro caso e de 39% no segundo, comparando os primeiros oito meses de 2015 frente a igual intervalo de 2014. Enquanto as vendas de suínos somaram 1,387 mil toneladas até agosto deste ano, os embarques de frango aproximaram-se de 206.300 toneladas.

 

Fonte: Valor Econômico

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