Matopiba passa por novo susto no plantio

Depois de perder parte do potencial da última safra de soja e milho para a falta de chuvas e o calor excessivo, o Centro-Norte – regiâo onde fica a fronteira agrícola formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia (Matopiba) – esboça uma retomada. O clima desfavorável preocupou na largada do plantio, mas houve recuperação das lavouras e as previsões são otimistas, favorecendo projeções de picos de rendimento acima de 3 mil quilos por hectare na soja e até 10 mil quilos por hectare no milho, de acordo com levantamento realizado pela equipe da Expedição Safra.

As plantadeiras deveriam ter ido a campo na primeira quinzena de outubro, mas faltou umidade no solo. “Houve escassez de chuvas no início do plantio, sobretudo no Sul do Maranhão e parte do Sul do Piauí. Mas agora as condições se normalizaram e voltou a chover bem”, detalha o agrometeorologista da Somar, Marco Antonio dos Santos. O Matopiba é responsável por cerca de 10% da produção nacional de soja e 15% da colheita de milho de verão.

Com trabalho intenso no mês de novembro, alguns polos como o Oeste da Bahia estão com o plantio praticamente encerrado. Conforme o assessor de Agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Luiz Sthalke, tem ocorrido pancadas diárias de chuva e a pressão de pragas como a lagarta Helicoverpa armigera diminuiu.

A soja ganhou terreno sobre o milho e o algodão e, na avaliação dos agricultores, há potencial para repetir o resultado do ciclo 2010/11, considerado um dos melhores da região. “O produtor nunca deixou de investir em tecnologia. Então, a expectativa é atingir uma média de 57 sacas por hectare na soja [3,4 mil kg/ha] e 165 sacas por hectare no milho [9,9 mil kg/ha]”, aponta Sthalke. O milho que atinge 10 mil quilos por hectare corresponde às lavouras de alta tecnologia.

O uso da tecnologia também eleva as expectativas de rendimento das lavouras no Maranhão. Os preços mais baixos em relação a 2013/14 têm levado os produtores a apostarem na modernização e a investirem menos na expansão de área, indica o agricultor e presidente do Sindicato Rural de Balsas, Valdir Zaltron. “A infestação de pragas é baixa e os casos de replantio são pontuais, mas a área aumentou muito pouco.” Ele manteve os 7,5 mil hectares para a oleaginosa, e projeta crescimento tímido nos próximos anos.

Na região da Serra do Quilombo, no Piauí, o plantio da oleaginosa acaba de ser encerrado, com cerca de dez dias de atraso. Segundo os produtores, as chuvas, que normalmente permitem início dos trabalhos de semeadura entre os dias 10 e 15 de outubro, neste ano chegaram somente no início de novembro.

Com isso, parte das sementes acabaram sendo depositadas no solo após a janela ideal, que termina em 5 de dezembro. Porém, em geral, as lavouras estão em boas condições de desenvolvimento, conforme o agricultor e presidente da Associação dos Produtores da Serra do Quilombo, Leivandro Fritzen. Segundo ele, 60% da área disponível à soja na região estão precisando de chuva, mas o quadro está longe de ser crítico por enquanto.

No Tocantins, a falta de chuva no início do plantio também atrasou os trabalhos. A semeadura da soja, que geralmente encerra no dia 10 de dezembro, deve terminar somente no final desta semana.

“No momento estamos com 90% das áreas plantadas. Ainda é cedo para saber qual será a produtividade, pois as sementes acabaram de cair no solo. Mas, se tudo ocorrer bem daqui para frente, deve ficar em 50 sacas por hectare”, diz Alessandro Acácio Gomes, gerente da filial da Agrex no Tocantins.

A projeção da Expedição Safra é que a oleaginosa ocupe 650 mil hectares nesta safra, área 13% maior em relação à temporada passada. Esse crescimento se deve a abertura de novas áreas. “Quem está aqui não ampliou a área de soja por causa do preço. São pessoas novas chegando que determinaram esse aumento”, acrescenta Gomes.

Preço do milho sobe e estimula revisão de planos para o inverno

A reação nos preços do milho, observada em todo o Brasil nas últimas semanas, ocorre tarde demais para estimular o cultivo do cereal no verão. Porém, mesmo com o encurtamento da janela do plantio de inverno, tende a influenciar os produtores na próxima semeadura, a partir de janeiro. O quadro que estimula mudanças de planos, no entanto, é uma aposta de risco, seja no Paraná, em Mato Grosso ou no Matopiba. Além da possibilidade de faltar chuva e de a lavoura pegar temperaturas baixas demais (no caso do Sul), as cotações ainda não se estabilizaram ante a oferta global de 2014/15, apesar de mostrarem-se mais animadoras que o previsto.

No Matopiba, depois das notícias de recuo no plantio no verão e possivelmente no inverno, a cotação do mercado físico subiu da casa de R$ 22 por saca para a de R$ 28 a R$ 29, relata o produtor Wilson Marcolin. Apesar da alta de 40%, não há prazo livre para ampliar a safra de inverno, e muito menos a de verão, comenta. Em muitos casos, os produtores teriam de plantar o cereal no fim de março, com mínimas chances de boa produtividade.

Por outro lado, o produtor diminui a gravidade das avaliações que apontam impacto do clima irregular na produção de grãos. “Outubro e novembro de clima irregular não é nada de anormal em nossa região. Agora em dezembro normalmente o clima começa a se estabilizar com mais chuvas.” Ele semeia 1 mil hectares de soja e acaba de concluir a tarefa. Mais uma vez, apostou na oleaginosa, que vale R$ 55 no contrato para entrega em maio.

De qualquer forma, mesmo para quem não possui mais condições de ampliar o plantio de inverno, a reação nas cotações do milho pode ser comemorada. Marcolin ainda não tinha vendido 60% do volume da última colheita e agora terá renda adicional. Um alento depois de dois anos de perdas climáticas na região.

Plantio tardio vai influenciar 2015 mesmo onde tarefa foi acelerada

Se o atraso no plantio ainda não impacta nas lavouras de verão, a consequência pode aparecer na segunda safra. O prazo para o próximo plantio ficou estreito e a colheita também deve ser concentrada na segunda metade do período considerado normal. O presidente do Sindicato Rural de Balsas, Valdir Zaltron, indica que a área do milho (2ª safra) pode cair em até 30% e o que sobrar será cultivado com baixa tecnologia. “A partir de abril as chuvas diminuem e o risco acaba ficando maior”, explica.

Situação semelhante ocorre no Piauí. De acordo com o presidente da Associação dos Produtores da Serra do Quilombo, Leivandro Fritzen, o maior impacto do atraso na semeadura da soja no estado será sobre a segunda safra, cultivada com o milho. “Eu tinha intenção de plantar 4 mil hectares. Todos iam ampliar, mas depois desse atraso, acredito que a área vai ficar abaixo da metade do ano passado. Eu mesmo não vou plantar nada”, ressalta.

Se a expectativa do agricultor for confirmada, a área ocupada pelo grão na segunda safra no Piauí ficaria perto de 18 mil hectares. Ano passado, o cultivo foi de mais de cerca de 35 mil hectares.

No Tocantis, a área dedicada ao milho “safrinha” também será menor por causa do atraso de verão. A expectativa é redução de 5 mil hectares, ficando em 30 mil hectares dedicados ao cereal nesta temporada. “O resto vira sorgo”, diz Alessandro Acácio Gomes, gerente da filial da Agrex no Tocantins.

 

Fonte: Canal do Produtor

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