O aperto nas margens em Rondonópolis reflete, em boa parte, a elevação dos custos do grão (as cotações subiram 2,5% até 10 de julho) em meio a quedas de 3,96% dos preços do farelo e de 2,17% no caso do dólar no intervalo. Em Uberlândia (MG), o recuo da margem foi ainda maior, próximo de 19%, para R$ 127,70 por tonelada.
Passo Fundo (RS) destoa (houve alta de 19,5%), mas em um movimento mais localizado, diante do fortalecimento do farelo por conta da demanda para a produção de ração na região. Mas reforça o fato de que as margens diferem em função da região, do perfil e da estratégia de cada indústria.
“O dólar em alta influenciou a soja em grão, mas não o farelo e o óleo”, observou Natalia Orlovicin, analista da FCStone. Referenciados na bolsa de Chicago, os preços do grão no mercado brasileiro, em real, foram reajustados com a disparada da moeda americana nos últimos meses. E houve um repique entre maio e junho influenciado pelos temores, hoje dissipados, em relação ao excesso de chuvas nos EUA durante o plantio da safra 2015/16.
“Até maio e junho, nossas margens de esmagamento estavam melhores, em torno de 10%. Agora, estão em cerca de 5%”, disse José Aroldo Gallassini, presidente da Coamo, maior cooperativa agropecuária da América Latina, com sede em Campo Mourão (PR).
“Quem tem indústria está melhor do que quem não tem, mas não quer dizer que é sempre bom. Tem horas que [vender] o grão é melhor.”
A Coamo tem duas plantas de processamento. A Cocamar, com sede em Maringá (PR), informa que trabalha hoje com margens em torno de 3%.
“O farelo está num nível [de preços] bom para sustentar o esmagamento, embora o óleo venha puxando a conta da margem para baixo”, disse Antônio Sérgio Bris, gerente do negócio de grãos da cooperativa.
Com números compilados até maio, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) não detecta desaceleração na industrialização de soja no País. Em projeção com base em uma correção amostral (necessária porque os dados consolidados até o momento dizem respeito a menos de 80% do segmento), a entidade estima que o processamento tenha crescido 9% nos cinco primeiros meses do ano, para 16.37 milhões de toneladas.
Já a produção e o consumo interno de farelo aumentaram 8% e 2%, respectivamente, enquanto no óleo os incrementas foram de 10% e 14% na comparação.
“O mercado de carnes está aquecido, demandando mais farelo. Do lado do óleo, o biodiesel proporcionou um aumento razoável também”, disse Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove.
Mas analistas não descartam a possibilidade de uma desaceleração, mesmo pontual. A frustração é maior com o óleo. Uma fonte do segmento diz que esse mercado terá que se ajustar nos próximos 30 a 45 dias, antes que coloque as margens de processamento em risco. “Por mais que o farelo esteja em um bom momento, não conseguirá suportar sozinho a queda do óleo”, afirmou.
José Baratella, da corretora Okamoto, de Goiânia (GO), concorda que o cenário para o farelo é melhor. “Estamos em período de seca, o que reforça a demanda dos confinamentos”. Para Natalia, da FCStone, o farelo poderá subir este ano se a demanda externa se mantiver aquecida.
Fonte: Valor