Levantamento da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) revela oportunidades, no Brasil, para o crescimento da adoção e do desenvolvimento de inoculantes, insumo com microrganismos com atividades benéficas à agricultura. Na safra 22/23 de soja, por exemplo, os inoculantes com as bactérias Bradyrhizobium foram usados em 85% da área cultivada, enquanto a coinoculação (uso conjunto de Bradyrhizobium e Azospirillum) foi usada em cerca de 35% da área da cultura no país, mostrando o avanço dessa tecnologia. Neste contexto, a Embrapa Soja está lançando o Manual de Análises de Bioinsumos para Uso Agrícola: Inoculantes, que aborda os diferentes aspectos sobre o controle de qualidade da produção destes bioinsumos.
O Manual, de autoria da analista Eduara Ferreira e dos pesquisadores Marco Antonio Nogueira e Mariangela Hungria, que atuam no Laboratório de Biotecnologia do Solo da Embrapa Soja, em Londrina-PR, será lançado durante a Tecnoshow, feira realizada de 8 a 12 de abril, em Rio Verde (GO), pela cooperativa Comigo. O lançamento está previsto para ser realizado no dia 9 de abril, às 11h, no auditório 2, onde a pesquisadora Mariangela Hungria ministrará palestra sobre o uso de biológicos na cultura da soja.
A publicação apresenta conteúdos detalhados, com o passo a passo dos métodos e análise, com imagens didáticas para a avaliação de inoculantes microbianos. “Nosso objetivo é disponibilizar uma referência enriquecida com ilustrações e descrição detalhada dos métodos de análise de inoculantes, facilitando a avaliação da qualidade desses produtos”, explicam os pesquisadores Mariangela Hungria e Marco Antonio Nogueira.
Segundo a legislação brasileira vigente, os inoculantes são substâncias que contém microrganismos com atuação favorável ao desenvolvimento vegetal. “Os métodos descritos no Manual padronizam as análises de inoculantes, tendo por base as normativas vigentes na legislação brasileira. Os conteúdos e ilustrações presentes no Manual facilitam a compreensão de cada etapa da análise, pois vários procedimentos precisam ser seguidos criteriosamente”, explica Eduara.
“Vale ressaltar que as ilustrações do crescimento típico das bactérias de interesse, disponibilizadas no Manual, têm por objetivo auxiliar na interpretação dos resultados”, destaca. Os métodos descritos são aceitos e validados nacional e internacionalmente e reconhecidos oficialmente pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Para a edição do Manual foram utilizados microrganismos recomendados ou autorizados para o uso em inoculantes pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, compreendendo os gêneros: Azospirillum, Bradyrhizobium, Bacillus, Mesorhizobium, Priestia, Pseudomonas e Rhizobium.
No entanto, para que estes produtos possibilitem incremento da produtividade das culturas, melhoria da qualidade do solo e segurança ambiental, os autores do Manual alertam para a necessidade de uso de bioinsumos de boa qualidade. “No caso dos inoculantes, a qualidade inclui o uso de microrganismos reconhecidos como eficientes pela pesquisa brasileira, em concentração adequada e sem contaminantes. A qualidade deve ser garantida desde a fabricação até o momento de uso pelo agricultor”, reforçam.
Na visão dos autores, o Manual apresenta conteúdos relevantes para a indústria, que precisa garantir a manutenção das propriedades desejadas nos produtos desenvolvidos. Além disso, o Manual pode beneficiar também cooperativas, revendas e agricultores que procuram, cada vez mais, laboratórios capacitados para verificar a qualidade dos bioinsumos. “Esperamos, ainda, que o Manual colabore com o adequado treinamento dos recursos humanos, o que pode permitir o credenciamento de novos laboratórios para a análise de inoculantes, particularmente nas regiões onde se concentra a maior produção de grãos, como o Centro-Oeste”, afirmam.
Bioinsumos no Brasil
O Brasil tem mais de meio século de tradição em pesquisa, desenvolvimento tecnológico e industrial, legislação e atividades de extensão relacionadas ao uso de insumos biológicos na agricultura. Graças a esse histórico, o Brasil é líder mundial em benefícios pelo uso de bioinsumos classificados como inoculantes, em substituição total ou parcial a fertilizantes químicos nitrogenados.
“Só na cultura da soja, são mais de 25 bilhões de dólares economizados anualmente pelo uso de inoculantes com bactérias fixadoras de nitrogênio”, relata Mariangela. “Para que os benefícios cheguem ao agricultor, porém, é fundamental o acesso a produtos de alta qualidade, contendo microrganismos reconhecidos como eficientes pela pesquisa brasileira, em concentração adequada e sem contaminantes” afirma. A avaliação da qualidade desses produtos é feita por meio de análises cientificamente validadas e reconhecidas pelos órgãos oficiais.
O “Manual de Análises de Bioinsumos para Uso Agrícola: Inoculantes” foi elaborado pela equipe do Laboratório de Biotecnologia do Solo da Embrapa Soja, que é responsável pela prospecção e lançamento de microrganismos e tecnologias relacionadas à promoção do crescimento de plantas. Uma das principais tecnologias recomendadas pela equipe é a coinoculação anual da soja com Bradyrhizobium spp. e Azospirillum brasilense, além da inoculação de A. brasilense em milho, trigo e pastagens e coinoculação do feijoeiro.
A equipe deste Laboratório também tem buscado o aprimoramento em qualidade para a prestação de serviços para os setores público e privado. Nesse contexto, a Embrapa Soja cadastrou o laboratório no Ministério da Agricultura para a análise de inoculantes e sua coleção foi homologada como banco de germoplasma de microrganismos de interesse agrícola para distribuição para a produção de inoculantes pela indústria. Além disso, o laboratório é estação quarentenária do Mapa, pós-entrada de microrganismos para uso como inoculante, e o único laboratório público de pesquisa com ensaios de inoculantes acreditados pela Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro, em ISO 17025.
“Valorizamos o desenvolvimento de pesquisas com insumos biológicos em substituição ou complementação a insumos químicos”, defende Alexandre Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja. “O apoio à pesquisa com insumos biológicos levou ao reconhecimento da Embrapa Soja como uma das principais lideranças, tanto no controle biológico de pragas e doenças, como no desenvolvimento de tecnologias relacionadas à fixação biológica do nitrogênio e outros processos microbianos que contribuem para a nutrição e crescimento de plantas”, ressalta Nepomuceno.
Programas nacionais para agricultura e ambiente
Diante da busca por soluções agroalimentares e ambientais sustentáveis, três planos ou programas relacionados à agricultura foram lançados pelo governo brasileiro, sendo um deles relacionado diretamente aos bioinsumos. Em 2020, foi criado o Programa Nacional de Bioinsumos para fortalecer o uso de bioinsumos no país. “Entre as ações propostas pelo governo, via Ministério da Agricultura e Pecuária, está a edição de manuais de boas práticas a seres seguidos pelas unidades produtoras de bioinsumos, assim como a promoção e a aplicação das boas práticas de produção por meio de treinamento e capacitação, garantindo o aperfeiçoamento contínuo e sustentável do uso desses produtos”, explicam os autores da publicação.
Em 2021, foi lançado o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) visando fortalecer políticas de aumento da competitividade da produção e da distribuição de fertilizantes no Brasil de forma sustentável, incluindo o mercado de bioinsumos. Por fim, em 2022, o Brasil instituiu o Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária – ABC+ para o período 2020-2030, com o objetivo de adotar sistemas, práticas, produtos e processos de produção sustentáveis, com o compromisso de ampliar em 13 milhões de hectares a área com adoção de bioinsumos.
“Diante da perspectiva de aumento do uso de bioinsumos, é necessário que o acompanhamento da qualidade desses produtos, incluindo a categoria dos inoculantes, seja realizado de modo adequado pela pesquisa, indústrias, biofábricas, laboratórios de prestação de serviços e aqueles encarregados de análises oficiais de fiscalização”, diz Eduara. “A avaliação e o controle de qualidade dos inoculantes representam uma ferramenta da garantia para a verificação se os requisitos da qualidade especificados estão sendo atendidos”, defende Eduara.