Mantidas as apostas no milho safrinha

A quebra na produção de milho safrinha em 2015/16 não assustou os agricultores do Paraná e de Mato Grosso do Sul. Nesta temporada 2016/17, os investimentos no cultivo do cereal nesses estados, se não crescerem, pelo menos serão mantidos.

Durante o Rally da Safra, expedição técnica promovida pela Agroconsult, já foi possível observar sementeiras distribuindo o grão em Mato Grosso do Sul, sobretudo na região de Douradina. “Não tem jeito. Pensamos em plantar feijão, porque os preços estão ótimos, mas nunca fizemos isso e temos medo de errar”, diz Frederico Justi Ramos, que, com seu pai e dois irmãos, tem 400 hectares de lavouras distribuídos por 15 propriedades no estado.

Ele e o irmão Rodolfo afirmam que, por conta de adversidades climáticas, a safra passada de milho foi a pior em sete anos. A colheita rendeu apenas 42 sacas por hectare, em média, quando eram esperadas 100. “Só não posso dizer que foi horrível porque vendemos o milho que restou a preços muito bons”, admite Frederico. Os produtores atendem diretamente a confinadores da região e receberam, em média, R$ 32 por saca na safra passada, contra R$ 26 oferecidos atualmente.

Para a safrinha de 2016/17, os irmãos já compraram insumos e, embora não revelem valores, afirmam que vão manter o mesmo patamar gasto no ano passado. Se o clima ajudar, a produtividade deverá chegar às 100 sacas esperadas em 2015/16.

A Aprosoja-MS, que representa produtores de grãos do estado, ainda não fez estimativa para o cultivo de milho de inverno. A Agroconsult calcula que 1.8 milhão de hectares serão semeados e que a produção poderá chegar a 9.8 milhões de toneladas – 40% mais que na safrinha passada. A produtividade média esperada para todo o estado é de 90 sacas por hectare.

Em relação ao Paraná, onde o plantio de milho deverá começar em seguida, a Agroconsult projeta 2.3 milhões de hectares, 6% mais que no ciclo passado, e colheita, se o clima ajudar, de 13.1 milhão de toneladas, cerca de 30% maior. O Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do estado também estima uma área de 2.3 milhões de hectares, produtividade média de 94 sacas por hectare e produção de 13.5 milhões de toneladas.

Como seus colegas de Mato Grosso do Sul, o produtor paranaense Cleber Veroneze Filho vai cultivar milho em seus 430 hectares, após encerrar a colheita da soja de verão. “Não vou reduzir investimento. Penso em produzir mais para compensar as perdas do preço”. Ele acaba de comprar uma colheitadeira nova de R$ 650 mil, com recursos do Moderfrota (linha de crédito rural com juros subsidiados), e garante que manterá firmes os aportes em insumos como fertilizantes e defensivos.

Os preços do milho estão, em média, em R$ 27,50 para o grão disponível, contra R$ 29,60 no mesmo período do ano passado e o pico de quase R$ 40 alcançado em maio. A queda deve estreitar as margens e afetar a lucratividade. “No Paraná, temos ainda o problema da proximidade com a Argentina. O milho deles chega aqui em dois ou três dias e a concorrência é forte”, disse Modesto Félix Daga, agrônomo que atua como consultor na região de Cascavel, Guaíra e Toledo.

Daga afirma que, levando em consideração as operações de “barter” (troca de grãos que serão colhidos por insumos) que acompanhou, a área de cultivo na região onde atua deve mesmo crescer. O preço médio do milho trocado por insumo chegou a R$ 32 para seus clientes no fim do ano passado, contra os R$ 26 pagos pelas cooperativas da região no momento. “Na conjuntura econômica atual, acho que R$ 25 por saca já será remunerador”, disse o consultor.

Para a unidade de Guaíra da cooperativa C.Vale, os produtores vão vender o milho se o preço passar do patamar de R$ 28. “Trocamos a maioria dos insumos ao custo médio de R$ 18, mas os resultados financeiros dos produtores que atendemos são muito distintos. Há propriedades excelentes, que colhem 100 sacas por hectare, mas outras não passam de 30 sacas”, disse Helton Maldonado, gerente regional da cooperativa.

 

Fonte: Valor Econômico

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