Os produtores de soja da Argentina poderão plantar uma safra maior nesta temporada do que o estimado anteriormente, estimulados por uma redução de impostos anunciada no início deste mês em meio às manobras do presidente Mauricio Macri para fortalecer seu apoio em um reduto da oposição.
O desconto em 2017 de 5% dos impostos das exportações de 10 províncias do país fará com que alguns produtores optem pela soja durante o plantio em dezembro, disseram Esteban J. Copati e Ramiro Costa, analistas da Bolsa de Cereais de Buenos Aires.
A bolsa havia previsto que alguns produtores passariam ao trigo e ao milho na temporada 201617, porque Macri eliminou prontamente os impostos sobre as exportações desses produtos no ano passado. A instituição também projetou uma redução da área de cultivo da soja. Mas o quadro mudou, de acordo com Copati, diretor de estimativas da bolsa de cereais.
“Provavelmente haverá uma expansão da soja nas províncias do norte do país”, disse ele, em entrevista.
A mudança do panorama aponta para a interação entre a política argentina e a produção de soja no terceiro maior produtor do mundo. Qualquer modificação na safra será observada de perto por traders e produtores rivais de todo o planeta, porque o mercado de soja já apresenta excesso de oferta.
Macri, que assumiu a presidência em dezembro do ano passado, voltou atrás no início deste mês na promessa de campanha de reduzir os impostos das exportações de soja, dos 30% atuais para 25% em 2017. A decisão decepcionou os produtores, que ansiavam a redução para aumentar as remessas a compradores estrangeiros. Macri mitigou a má notícia com a revelação do desconto para as províncias do norte do país, que produzem menos de 10% da soja da Argentina. Elas precisam desse benefício fiscal mais que os produtores das Pampas, região mais ao sul do país, porque estão longe dos portos de exportação, disse Sergio Berensztein, analista político em Buenos Aires.
Macri perdeu em oito das dez províncias do norte do país na eleição presidencial do ano passado. Como a economia argentina está cambaleando, ele busca formas de garantir votos antes das eleições que acontecerão em 2017.
“É uma jogada astuta, em que todos saem ganhando”, disse Berensztein, em entrevista por telefone, referindo-se a que essa política beneficiará os produtores de soja da região norte e também ajudará Macri a conseguir apoio.
Os produtores das Pampas, o coração da produção de soja argentina, provavelmente não abandonarão esse cultivo nesta temporada, embora não sejam aptos para a redução anunciada em 3 de outubro, disse Ernesto Ambrosetti, economista chefe da Sociedad Rural Argentina, uma das quatro grandes associações agrícolas do país. No entanto, adiar o corte de 5% prometido nos impostos de exportação poderá fazer com que alguns deles evitem a soja em 2018, de acordo com Dardo A. Chiesa, presidente da Confederaciones Rurales Argentinas.
Fonte: Bloomberg