Mandioca/CEPEA: com excesso de oferta, preço da raiz se reduz a um terço do que era há um ano

O aumento da produção brasileira de mandioca no último ano tem pressionado com força as cotações da raiz. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da ESALQ/USP, os preços atuais equivalem a apenas um terço do que era praticado há um ano. E, para piorar, fundamentos sinalizam que os preços podem cair ainda mais.

Considerando-se a média dos estados do PR, SP e MS (SC está em entressafra), em janeiro, o preço médio da mandioca posta em fecularia foi de R$ 191,21 a tonelada, queda de 9% em relação a dezembro/14 e de expressivos 64,5% no comparativo com janeiro do ano passado, quando a mandioca era negociada a R$ 538,68 a tonelada. A desvalorização da mandioca destinada à produção de farinha é semelhante. A matéria-prima posta em farinheira, em janeiro, teve média (SP e PR) de R$ 190,76 a tonelada, queda de 7,8% na comparação com dezembro e de 63% sobre janeiro do ano passado.

Em fevereiro, as quedas continuam, mas estão menos intensas. De 2 a 6 de fevereiro, o preço médio da mandioca posta em fecularia foi de R$ 184,34 a tonelada, 0,90% abaixo da média da semana anterior. A tonelada de mandioca posta em farinheira, por sua vez, foi de R$ 181,42, recuo de 2,6% na mesma comparação.

Levantamentos do CEPEA apontam que lavouras com altas produtividades e bom rendimento de amido ainda conseguem cobrir os custos operacionais de produção. A maioria dos produtores, no entanto, não tem obtido o suficiente para bancar nem os custos operacionais, especialmente quando a área é de arrendamento – seja em lavouras de um ou de dois ciclos.

Com isso, muitos produtores têm optado por postergar a colheita e reduzir os tratos culturais. Outro grupo, no entanto, mantém a oferta da raiz receosos de que os preços caiam ainda mais.

Segundo o analista de mercado do CEPEA Fábio Felipe, o excesso de oferta atual é resultado de preços recordes registrados ainda em 2013 – naquele ano, foi colhida a menor safra desde 1999. “De lá para cá, só tem aumentado a área plantada. O alto patamar verificado na virada de 2013 para 2014 reforçou este otimismo e, desde meados de 2014, os preços refletem um volume de raiz bem superior à demanda de fecularias e farinheiras”, explica o pesquisador.

Neste início de fevereiro, estão sendo colhidas lavouras implantadas em 2013 e, de maio em diante, estarão disponíveis também as áreas cultivadas no primeiro semestre de 2014. “Dessa forma, não há muito espaço para mudanças significativas em preços nos próximos meses”, avalia Fábio Felipe.

Em 2014, houve aumento da área colhida com mandioca em mais de 50% dos estados produtores, segundo dados do IBGE. O Instituto ainda não consolidou os dados de 2014, mas aponta que, no agregado, a área com mandioca no Brasil deve ter aumentado 12,3% comparativamente a 2013, e a produtividade teria avançado 5,5%, para 14,7 toneladas por hectare. O resultado seria a expansão de 8,7% da produção brasileira de mandioca de 2013 para 2014, chegando a 23 milhões de toneladas – o que sinaliza boa disponibilidade para 2015.

Em resposta à situação presente, que vem se agravado desde dezembro, produtores vão diminuindo a área a ser cultivada a partir do segundo semestre deste ano – em várias regiões, passam a ser ocupadas pela pecuária bovina – e criando os fundamentos para um próximo ciclo da cultura.

Conforme pesquisadores do CEPEA, a mandiocultura é uma atividade bastante caracterizada por ciclos de altas e baixas de preços, o que atrai e afasta pontualmente produtores. “As entidades do setor têm se profissionalizado bastante, melhorando a coordenação, mas as barreiras à entrada e à saída da atividade são relativamente pequenas”, explica o professor da ESALQ/USP Lucilio Alves, coordenador das pesquisas do CEPEA sobre mandioca.

Nos mercados de fécula e farinha de mandioca, a liquidez tem aumentado desde o final de janeiro, mas com a produção seguidamente elevada, os estoques ainda são considerados altos – a maior oferta de matéria-prima a preços menores tende a impulsionar o processamento. O preço médio da fécula em janeiro caiu 5% em relação ao de dezembro, a R$ 1.269,44 a tonelada. Na comparação com janeiro/14, a desvalorização é de 56%. A farinha de mandioca fina branca crua/tipo 1 teve preço médio de R$ 51,60/saca de 50 kg em janeiro, baixa de 2,2% sobre dezembro e de 54% em 12 meses.

 

Fonte: Cepea/Esalq

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