Mamão pega carona no porão de aviões

Os aviões de passageiros que saem do Brasil com destino à Europa e à América do Norte têm levado em seus porões uma carga preciosa para a pauta de exportações do país: as frutas tropicais. No ano passado, 61.500 toneladas de frutas, o equivalente a US$ 75.7 milhões, fizeram o trajeto até o destino por via aérea, segundo a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). Ao todo, as exportações brasileiras de frutas somaram 848.500 toneladas no ano passado, rendendo US$ 785.7 milhões.

O crescimento do modal aéreo foi de 9% no ano passado ante 2017 em termos de receita e de 4,50% em volume, enquanto os embarques marítimos recuaram 6,70% e 2,36%, respectivamente, no período. Jorge de Souza, gerente de projetos da Abrafrutas, afirma que o resultado é reflexo de uma melhor organização do setor no Brasil, que está conquistando mercados mais exigentes e agregando valor à produção.

“Mesmo com custo, que chega a ser quatro vezes maior para o transporte aéreo em relação ao marítimo [US$ 1,30 por quilo versus US$ 0,30 por quilo], o modal aéreo não é proibitivo para o Brasil, porque a nossa fruta é de qualidade e tem outro frescor quando chega mais rápido às gôndolas dos supermercados americanos e europeus”, disse.

No caso do modal marítimo, o recuo recente, segundo ele, é explicado, em maior medida, pelo aumento na concorrência do Peru e da África nas exportações de manga para a Europa, o que deve arrefecer quando o acordo MERCOSUL-UE se efetivar. Em menor medida, também contribuiu a competição dos Estados Unidos, que no ano passado redirecionaram para a UE sua oferta de uvas que iria desembarcar na China.

A lista de frutas brasileiras que viajam de avião é seleta e se justifica, principalmente, pela resistência mecânica do produto, salvo raros casos em que a urgência da entrega é mais importante para a escolha do modal. Entre as frutas exportadas brasileiras exclusivamente por via aérea estão mamão, manga das variedades Keitt e Kent, figo, caqui, goiaba e morango.

“É curioso até, porque a resistência a choques é que manda. A uva, por exemplo, diferente do que muita gente deve pensar, é exportada, na maioria dos casos, de navio, porque é resistente e tolera temperaturas de até 0°C em contêineres refrigerados”, disse Souza.

Líder absoluto nos embarques aéreos, com 42.700 toneladas e US$ 50 milhões em 2018, o mamão é a fruta com maior potencial de crescimento no setor. Jonas Spindel, sócio e diretor comercial da Nortfrut, com sede em Pinheiros (ES), disse que 1.500 paletes de 500 quilos são enviados semanalmente do Brasil para a União Europeia, América do Norte e Oriente Médio pelos aeroportos de São Paulo e Rio de Janeiro, de onde partem os voos comerciais com maior frequência.

“Nos anos 2000, o pessoal do Vale do São Francisco, no Nordeste, e do Espírito Santo chegou a tentar exportar mamão por via marítima, mas a quebra era grande e, então, voltou atrás”, disse Spindel.

Enmanuel van Voorthuizen, gerente de produtos da importadora holandesa de frutas exóticas Yex acredita que o mamão será o próximo avocado, cuja demanda explodiu na Europa nos últimos anos baseada num hábito de consumo da América do Sul e do México, especialmente, onde nasceu a guacamole (pasta de avocado com tomates e cebola).

Segundo ele, agora o prazer do europeu também é tomar café da manhã degustando um iogurte com mamão papaia. “Antigamente, pensava-se que mandando o mamão de navio se poderia economizar, mas às vezes a fruta chegava madura demais e tínhamos que descartá-la. Fora que, quando o consumidor levava para casa, tinha uma experiência ruim e não voltava a comprar.”

Sem revelar os volumes que recebe, o gerente da Yex afirmou que retira no aeroporto de Roterdã, na Holanda, toneladas de papaia e figos semanalmente, que chegam em três a cinco voos em média.

Valor

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