A safra 2016/17 de soja deverá apresentar margens mais uma vez positivas no Brasil, embora um pouco inferiores às da temporada passada, por conta dos preços mais baixos da commodity. Mas, de modo geral, os custos de produção estão mais controlados neste ano – principalmente o dos fertilizantes -, o que já é por si só um indicativo auspicioso para a rentabilidade da oleaginosa, já que nos últimos anos houve aumentos sucessivos.
Segundo cálculos da Agroconsult, a margem da soja em 2016/17 será de R$ 940,00 por hectare (incluindo custos com desembolso e depreciações, sem arrendamento), tomando como referência o médio-norte de Mato Grosso. O montante está apenas 3% aquém dos R$ 970,00 da temporada 2015/16, que foi beneficiada pela forte valorização do dólar em relação ao real. A nova safra começará a ser plantada no País em meados de setembro.
Marcos Rubin, sócio da Agroconsult, lembra que a média da rentabilidade da soja foi menos representativa em 2015/16 devido a problemas climáticos em importantes regiões produtoras do País, inclusive em áreas do médio-norte de Mato Grosso. “Mas a rentabilidade [média] da safra passada foi a melhor dos últimos anos, e a previsão para 2016/17 também é muito boa”.
Nos últimos 60 dias, a soja recuou de US$ 11,50 por bushel para menos de US$ 10,00 na bolsa de Chicago. Até então, porém, as cotações da oleaginosa e o câmbio vinham em níveis bastante favoráveis aos agricultores, o que resultou em “preços excelentes” e um estímulo às vendas antecipadas. Levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA/Famato) indica que os produtores do Estado já negociaram 26,8% da soja que projetam colher em 2016/17, contra 29,1% no mesmo período do ano passado, quando estava em jogo as vendas da safra 2015/16.
Ainda é preciso esperar para ver como vão se desenrolar as questões climáticas, inclusive diante da previsão de ocorrência do fenômeno La Niña, que normalmente provoca secas na região Sul do País. “Mas os custos também estão mais sob controle, o que é um bom sinal para a rentabilidade”, acrescenta Rubin.
A Agroconsult estima que os custos de produção da soja fiquem estáveis ou subam no máximo 3% em relação aos de 2015/16, o que resultaria em um gasto nominal de R$ 2.235,00 por hectare em Sorriso (MT), importante município produtor da commodity. Em termos reais (deflacionado pelo IPCA de 8,95% dos últimos 12 meses, período que coincide com a véspera do plantio), há uma queda de 5,5%, de acordo com o Valor Data.
A alta nos custos, se ocorrer, será bem mais amena que a de 11% da safra passada em relação à de 2014/15, e também ficará aquém do intervalo médio de 5% a 15% dos últimos anos, conforme a Agroconsult. A consultoria credita uma possível elevação ao aumento do óleo diesel e da mão de obra, além das sementes. Os agroquímicos tendem a ficar estáveis, e os fertilizantes deverão recuar.
A FCStone, por sua vez, estima uma queda nos custos de cerca de 3% neste ciclo, tomando como base Sorriso (MT), para R$ 45,88 a saca. A consultoria divulgou ontem sua primeira projeção para a safra 2016/17 e indicou uma elevação apenas marginal na área de soja, de 0,9% (a 33.5 milhões de hectares), em parte devido a restrições de crédito e ao avanço do plantio do milho.
A FCStone espera uma alta de 7,6% na área com milho na safra de verão 2016/17, para 5.8 milhões de hectares, e uma produção 12% maior do grão, de 29 milhões de toneladas, enquanto a colheita de soja tende a crescer 6,7%, para 101.8 milhões de toneladas.
Fernando Pimentel, da consultoria Agrometrika, concorda que o preço dos fertilizantes caiu, mas vê defensivos e sementes mais caros. De acordo com ele, apesar de a alta do dólar ter arrefecido nos últimos meses, muitos produtores fixaram o câmbio no começo de 2016, quando essa valorização da moeda brasileira ainda não tinha se fortalecido. Mas ele também acredita que as margens ficarão em bons patamares, apesar de abaixo do ano passado.
Para a Céleres, a margem operacional bruta da soja na nova safra 2016/17 ficará 5,5% abaixo do ciclo anterior no País, a R$ 1.108,00 por hectare. Apesar da redução, esse nível de rentabilidade ainda é considerado remunerador e incentiva o avanço de área plantada, de acordo com Anderson Galvão, CEO da consultoria.
Fonte: Valor Econômico