Mais produtores recorrem à recuperação judicial

Escritórios de advocacia revelam que tem aumentado o número de produtores que buscam a recuperação judicial como forma de postergar dívidas sem perder maquinário ou terras dados como garantia. Por trás do movimento está o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em decisão de novembro, de que produtores rurais pessoa física podem pedir recuperação judicial porque são considerados empresários, mesmo sem registro.

Até então, alguns tribunais estaduais consideravam que o produtor precisava ter registro de no mínimo dois anos para recorrer à medida.

Antônio Frange Júnior, sócio gestor do Frange Advogados e vice-presidente da Comissão de Recuperação Judicial da Ordem dos Advogados-Seccional Mato Grosso (OAB-MT), disse que, desde novembro, 22 clientes pediram recuperação judicial, de um total aproximado de 100 agricultores.

“Possivelmente, os demais também entrarão com pedidos”, disse ele. A maioria é formada por médios produtores de soja, milho e algodão, com propriedades de 4.000 a 5.000 hectares e passivo de R$ 40 milhões a R$ 200 milhões.

Só o começo

A maior procura por recuperação judicial tem como pano de fundo, também, perdas causadas por intempéries climáticas, falta de seguro para cobrir prejuízos, juros altos cobrados por tradings e empresas de insumos e ainda a pandemia do Covid-19.

“Essas pessoas vendiam parte de sua terra e negociavam a dívida”, disse Carolina Xavier, sócia do Costa Tavares Paes Advogados. Agora, passam a contar com uma opção menos traumática, acrescentou ela. “Tem produtor do Brasil inteiro aderindo à medida. Pelo cenário que se desenha, é daqui para pior”, afirmou Antonio Carlos Freitas, do Luchesi Advogados, que atende empresas credoras.

Vem de longe

Grandes produtores já vinham pedindo recuperação antes da decisão do STJ, segundo Ivo Waisberg, sócio do Thomaz Bastos, Waisberg e Kurzweil Advogados. “Desde 2014, com crises na economia, o agro vem enfrentando problemas. Talvez a crise da pandemia da Covid-19 venha a ser pior”.

Freitas, que atua na defesa de credores, argumenta que buscar a recuperação é contraproducente para produtores. “Quanto mais ‘PJs’ forem ajuizadas, pior para a oferta de crédito, porque as empresas fornecedoras vão recuar e o custo do dinheiro aumentará”.

Sobe e desce

Com a volatilidade dos mercados, a Bayer prevê neste ano aumento de 10% do barter, operação em que empresas vendem insumos a agricultores em troca da produção futura.

“Vemos grande potencial de crescimento na soja”, disse Carlos Branduliz, gerente nacional de operações de barter. A expectativa é de que a operação representará até 25% das vendas da Bayer em 2020, contra 20% no ano passado.

Cédula

Para ajudar os agricultores nesse período de isolamento social, a Basf está oferecendo a eles a opção de emitir eletronicamente a Cédula de Produto Rural (CPR). O título é dado como garantia em operações de barter. Quem viabiliza a operação é a agtech Bart Digital.

Desde março, a Basf já emitiu três e-CPR e outras cinco estão em andamento. “A principal vantagem da e-CPR é que reduz o tempo do processo em mais de 50%”, disse Patrícia Ambrósio, gerente sênior de Operações de Negócios da Basf.

Na ponta do lápis

A empresa de nutrição animal Nutricorp reavalia sua projeção de ampliar em 20% o faturamento este ano por causa da Covid-19, embora ainda aposte em crescimento. Em 2019, o aumento foi de 7,40%.

“Apesar da possibilidade de redução no consumo interno de carne bovina, ainda há boas perspectivas para venda externa”, disse Mariana Zylberlicht, coordenadora de Operações. “Com exportações aquecidas e o aumento do portfólio voltado para o estresse animal e a gordura protegida, acreditamos que cresceremos este ano, apesar do novo Coronavírus”.

Segue o baile

Mesmo com a pandemia, o recebimento de insumos e a distribuição de produtos prosseguiram, mas a Nutricorp observou um maior questionamento nos postos fiscais nas divisas dos estados.

“Fizemos um reforço na comunicação das transportadoras e fornecedores para que ficasse bem claro que a matéria-prima seria utilizada na cadeia de alimentos”, disse Mariana.

Desagrada

Produtores brasileiros estão preocupados com a possibilidade de o governo isentar da Tarifa Externa Comum o trigo importado de fora do Mercosul.

A retirada do imposto de 10% até o fim do ano é um pedido da indústria, dependente do cereal importado, e que viu seus custos crescerem muito. Para os agricultores nacionais, que preparam a nova safra, mais produto de fora pressiona as cotações internas.

Pode faltar trigo. Atualmente, os moinhos já contam com uma cota de 750.000 toneladas para importação com isenção da TEC.

Mas eles alegam que a Argentina, principal fornecedora do cereal para o Brasil, terá problemas para atender o País com a quantidade necessária, e pedem a retirada da TEC para outros países. O volume adicional ainda não foi definido.

 

Estadão Conteúdo

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