Os primeiros efeitos da paralisação dos caminhoneiros entre os dias 21 e 31 de maio já começam a aparecer no segmento de leite no país. Os preços do leite no spot (negociação entre os laticínios) registraram forte alta após o fim da greve, que levou produtores de várias regiões do Brasil a descartar cerca de 600 milhões de litros de leite cru em decorrência da dificuldade ou impossibilidade de transportar a matéria-prima até os laticínios.
Segundo levantamento do MilkPoint, na segunda quinzena de maio, antes do início da paralisação, o litro no spot estava em R$ 1,53 por litro, na média nacional. Atualmente, está em R$ 1,66, ou seja, houve alta de 8,5%. Os preços no spot são negociados quinzenalmente pelas empresas.
Essas cotações são relevantes, pois servem de referência para os preços que serão pagos aos produtores pelo leite cru. No caso atual, devem influenciar os valores do leite entregue pelos produtores às indústrias em junho – e que será pago em julho. Assim, a expectativa é que as cotações ao produtor sigam num ritmo forte de alta no curto prazo, o que não se esperava antes da greve.
Ainda que a alta da matéria-prima não seja duradoura, ela tem potencial para afetar os índices de inflação, segundo analistas, uma vez que uma parte das altas já começou a chegar ao atacado e ao varejo do país.
Segundo Laércio Barbosa, presidente da Associação Brasileira de Lácteos Longa Vida (ABLV), atualmente a captação de leite no campo está em 80% do volume normal e deve demorar cerca de 30 dias para que a situação se regularize. Estimativas indicam que são coletados diariamente entre 65 milhões e 70 milhões de litros de leite no País.
Barbosa, que é sócio-diretor da Usina de Laticínios Jussara, afirma que “quem precisa de leite” está pagando os valores maiores pela matéria-prima no spot. A própria Jussara teve de fazê-lo. Segundo ele, os valores saíram de R$ 1,40 a R$ 1,50 por litro antes da paralisação para R$ 2,10 esta semana no mercado spot de São Paulo. Para o empresário, uma correção nos preços ao produtor será necessária, uma vez que “o produtor foi o mais prejudicado” pela paralisação.
A alta também começa a afetar os preços do leite longa vida no atacado. Segundo a ABLV, no Estado de São Paulo já havia, nesta terça-feira, negociações entre R$ 3,00 e R$ 3,50 por litro, antes da greve, o preço de venda da indústria ao varejo estava em R$ 2,50.
Outra fonte do setor disse que houve uma alta de R$ 1,00 no litro do leite no atacado entre o período anterior à greve e a última terça-feira, quando foram fechadas transações a R$ 3,30 por litro. “O varejo está aceitando essas altas porque não tem produto”, disse a fonte.
O Indicador Diário de Leite Longa Vida no atacado de São Paulo, levantado pelo CEPEA, com apoio da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), registrou ontem valor médio de R$ 2,9903 por litro, estava em R$ 2,4170 no dia 21 de maio, quando começou a paralisação.
A greve também já influenciou os preços do leite no varejo. Em maio, conforme dados da FIPE e do Instituto de Economia Agrícola (IEA), compilados pelo MilkPoint, o valor médio do longa vida ficou em R$ 2,91 por litro ante uma média de R$ 2,79 em abril.
Valter Galan, analista do MilkPoint, disse que, apesar da alta no varejo, os preços atuais estão em níveis inferiores aos de igual período de 2017. Em maio do ano passado, a média no varejo foi de R$ 3,17 por litro. Assim, ele avalia, “há espaço para elevação de preços ao consumidor final”.
Tanto a indústria quanto analistas concordam que deve levar algum tempo para a oferta de leite se normalizar porque durante a greve dos caminhoneiros os pecuaristas tiveram de reduzir a alimentação das vacas, já que a ração não chegava às propriedades. Isso afetou a produção dos animais, que voltará gradativamente com a normalização da alimentação.
Fonte: Valor