A captação de leite no campo seguiu em queda pelo terceiro mês seguido e o preço recebido em abril registrou a terceira alta consecutiva. A “Média Brasil” líquida (inclui Bahia, Goiás, Minas, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) fechou a R$ 1,1574/litro, com aumento de 7,72% (ou de R$ 0,08/litro) em relação ao mês anterior. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.
Esta é a maior média dos últimos oito meses, em termos reais (deflação pelo IPCA de março/2018), sendo 10,3% inferior à de abril de 2017 e próxima da observada em abril de 2016. No acumulado deste ano, a valorização do leite ao produtor chega a quase 15% na “Média Brasil”.
Todos os estados acompanhados pelo Cepea apresentaram alta nas cotações, com destaque para o Rio Grande do Sul (onde a elevação foi de 10,1%), Goiás (9,7%), Paraná (9%) e Minas Gerais (7,6%). A considerável recuperação dos preços no campo neste mês esteve atrelada à maior competição entre empresas em função da redução da oferta de leite no campo.
O Índice de Captação de Leite (ICAP-L) registrou a terceira queda consecutiva em março, recuando expressivos 7,2% frente a fevereiro na “Média Brasil”. Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás apresentaram quedas acima da “Média Brasil”, de 9%, 8,4% e 8,3%, respectivamente. Na sequência, ficaram Bahia, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais, com 7%, 6,9%, 6% e 5,9%. Nos primeiros quatro meses do ano, o ICAP-L já caiu 10,1%.
Ao contrário do observado em 2017, o primeiro trimestre de 2018 foi caracterizado pela oferta mais enxuta, impactada, principalmente, pela descapitalização de produtores. Os baixos preços recebidos no ano passado desestimularam a atividade e reduziram os investimentos.
Muitos produtores saíram da atividade e o abate de vacas aumentou. Para os próximos meses, os menores volumes de chuvas, as temperaturas mais amenas e a menor qualidade das pastagens devem se intensificar, diminuindo ainda mais a oferta no campo.
A elevação do preço ao produtor também ocorreu como reflexo da valorização dos lácteos nos últimos meses. O acompanhamento das negociações do leite UHT (longa vida), principal lácteo negociado no país, evidencia isso.
Segundo pesquisa diária do Cepea em parceria com a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), a média de abril (até o dia 27) do UHT negociado entre indústrias e atacado do Estado de São Paulo foi 4,4% maior que a de março, chegando a R$ 2,40/litro.
De acordo com agentes de mercado, a demanda ainda se recupera, mas em comparação com os últimos seis meses, está mais firme. Vale ressaltar, contudo, que o movimento altista vem perdendo força no mercado do UHT desde a segunda quinzena de abril. Nesse período, as empresas relataram maior necessidade em realizar promoções para garantir liquidez, de modo que, em abril, houve queda de 1,8%.
Se por um lado a oferta no campo tende a se reduzir ainda mais nos próximos meses, por outro, o consumidor já mostra dificuldades de absorver novas valorizações dos derivados.
A maioria dos agentes consultados acredita em nova alta para o preço ao produtor nos próximos meses, ainda mais por conta do aumento do custo de produção atrelado à alta dos grãos. No entanto, a intensidade das variações vai depender da capacidade dos consumidores em absorver novas altas.
Fonte: Cepea