Por Equipe SNA
Maior exportador de carne e detentor do segundo maior rebanho bovino do mundo, o Brasil vem se destacando também no campo da genética animal. Grandes eventos para a comercialização de raças selecionadas comprovam a capacidade do setor no país. Nos dias 8 e 9 de agosto, o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, será palco de dois leilões que prometem movimentar cerca de R$ 5 milhões em transações de genética seletiva (animais reprodutores) e de material genético (embriões/prenhezes). Na primeira data, acontece o 6º Leilão Elite do Gir das Américas, que pretende ofertar 25 lotes da raça Gir. No dia seguinte, é a vez do 11º Leilão do Copa, que, segundo seus organizadores, disponibilizará 20 lotes da raça Nelore com animais premiados. Ambos serão virtuais. “Pela qualidade dos animais que serão comercializados, esperamos que alguns deles sejam vendidos por mais de R$ 1,5 milhão”, estima o sócio da AgroCopa e diretor-presidente da Agropecuária Monte Verde, Felipe Picciani, um dos promotores do leilão.
Cada vez mais comuns no país, os grandes leilões movimentam cifras milionárias. Um dos mais consagrados, o Leilão Gir das Américas, já registrou, na venda de apenas um animal, um montante acima de R$ 2 milhões de reais. Os preços se justificam pelo retorno que trazem aos proprietários. De acordo com Picciani, animais como esses, com melhoramento genético realizado em laboratório, produzirão uma linhagem especial, de alta produtividade, a partir de variáveis como ganho de peso, melhoramento de parto e produção leiteira superior. “O animal passará os genes positivos para sua descendência em larga escala. Principalmente no caso dos reprodutores que podem atingir até 500 mil doses de sêmen vendidas, com uma média de R$ 30 a dose. Numa negociação deste porte, o retorno dado pelo animal chega a R$ 15 milhões de reais. No caso das vacas, são vendidos embriões colhidos em até 10 coletas por ano, comercializadas por valores entre R$ 20 mil e R$ 50 mil. Uma boa vaca pode render pelo menos R$ 400 mil por ano.”
As cotas são um dos fatores que estão popularizando os leilões e ampliando o mercado para pessoas que não são da área. Elas permitem que investidores comprem uma porcentagem do animal para receber uma participação nos lucros gerados pelas vendas dos embriões ou se tornem donos dos embriões coletados para a produção dos animais. Segundo o zootecnista, “a venda de cotas permitiu que qualquer interessado possa investir no segmento sem ter que, necessariamente, ser um fazendeiro ou possuir uma estrutura física para a criação dos animais”.
Os leilões virtuais já representam cerca de 30% dos eventos no segmento. Neles, os animais são apresentados por vídeos exibidos em telões. Os selecionados para comercialização têm passagem prévia por pistas de julgamento, ou seja, os investidores já conhecem suas qualidades, conta Picciani. “Essa modalidade permite reunir o público em uma festa de muito alto nível, dentro de locais requintados, sem a necessidade de colocar o animal em situações de estresse e risco, sem falar no deslocamento desnecessário.”
O público, cada vez mais diversificado, é atraído por diferentes fatores. “Além dos criadores da área, temos, entre os investidores, atores, jogadores de futebol, fazendeiros, agricultores, médicos, dentistas e empresários em geral, que encaram o ramo como um negócio sério. Há também os que entram no ramo por hobby, para frequentar o meio e as festas”, acrescenta.
Os leilões despontam como uma das principais iniciativas para intercâmbio de genética de raças, continua o zootecnista, e demonstram o potencial agropecuário do país. “Não tenho medo de investir. O meio não para de crescer. Existe uma necessidade de alimentos no mundo, e o Brasil é um país totalmente vocacionado para a produção agrícola, que ao longo dos anos vem defendendo a balança comercial brasileira. Seremos um dos grandes fornecedores mundiais. Ao promover um trabalho de desenvolvimento genético bem feito, que será responsável por encurtar os ciclos e aumentar a produção, estaremos no caminho certo para tentar suprir a demanda universal.”
Alcance de leilões das raças Gir no país
O Gir Leiteiro tem sido a estrela de um número crescente de leilões nos últimos anos. A raça dá sustentação à criação do Girolando, que, como o próprio nome diz, vem da união entre o Gir Leiteiro e o gado Holandês. O principal ponto forte das raças Gir é a capacidade de adaptação que demonstraram ao clima tropical, dada também pela origem indiana. Diferentemente das britânicas e europeias, as linhagens são mais robustas. Através do melhoramento genético, combinações com diferentes linhagens estão gerando animais com alto poder produtivo, como o Girolando. “O gado europeu é muito sensível, apresenta problemas com calor, carrapatos, etc. Com o cruzamento e o benefício da rusticidade do gado indiano, na cadeia do leite, o Girolando é uma realidade. Graças ao trabalho de selecionadores genéticos, hoje temos produção de mais de 60 litros de leite por dia, o que era inimaginável anos atrás. O melhoramento genético tem um importância muito grande para a área”, avalia Picciani.
Nelore
Principal raça hoje do Brasil, com uma representação de 80% de todo o rebanho nacional, a Nelore está presente na maioria dos leilões realizados no país. Picciani explica: “Ela apresenta lucratividade através do rendimento muito grande da carcaça, chegando a 54% de carne, número que fica entre 44% e 50% em outras raças. A raça também se adapta muito bem ao sistema de plantação extensivo do Brasil e, por isso, tem uma abrangência tão significativa.”