Kátia Abreu parece mais ministra da Agricultura do que nunca. Em evento ontem em Goiânia, no qual se blindou contra questões relacionadas às turbulências de Brasília, mostrou o mesmo ânimo de sempre e se concentrou nos enormes desafios que tem à frente da Pasta, maiores ainda em tempos de ajuste fiscal. E não deixou de realçar toda a expectativa criada em torno do papel do Brasil no atual momento e no futuro da alimentação mundial.
Nesse contexto, destacou os esforços na melhoria da gestão do ministério, na condução dos trabalhos de defesa agropecuária e no desenvolvimento de ferramentas mais modernas tanto na área de crédito quanto no seguro rural, expostos que estão a contingenciamentos de recursos em períodos de vacas magras como o atual.
Em linha com o tema do seminário – “Agronegócios e Energias Renováveis” -, Kátia reiterou que o país talvez seja o único do mundo com terra e água disponíveis para ampliar a produção de alimentos de forma sustentável. E lembrou que entre as conquistas de seu primeiro ano à frente do ministério estão a abertura e reabertura de mercados no exterior para as carnes brasileiras, em processos capazes de gerar um potencial de US$ 1.8 bilhão por ano em embarques adicionais.
“O mercado externo é consequência dos trabalhos que estamos fazendo nas áreas de gestão, defesa, políticas agrícolas e inovação e tecnologia, entre outros pontos”, disse a ministra no evento em Goiânia, que foi patrocinado pelo banco Santander e teve apoio do Valor.
Entre as prioridades no exterior, a ministra chamou a atenção para o sul e o sudeste da Ásia, onde estão 51% da população global, mas também onde a demanda de produtos de maior valor agregado, tais como carnes, ainda é relativamente baixa – a região responde por menos de 30% do consumo global de carnes bovina e de frango, por exemplo.
“Estou muito otimista com China e Índia”, afirmou Kátia, destacando que, com esses países, também em desenvolvimento, o Brasil pode costurar acordos de preferência tarifárias. Mas, mesmo com outros países e regiões, que dependem do envolvimento de outras áreas do governo nas negociações de acordos comerciais, a ministra prometeu continuar a encaminhar as demandas em busca de mais mercados para os produtos do agronegócio do País.
“Entendemos que o agronegócio será a grande vantagem competitiva deste País”, reforçou Sérgio Rial, presidente do Santander no Brasil. Nesse sentido, o executivo disse que é importante que aumente a participação privada no apoio ao setor, inclusive no que tange ao financiamento de suas cadeias produtivas – num ambiente de juros menores, preferencialmente. Rial lembrou que o próprio Santander renovou recentemente o compromisso de ampliar sua atuação no agronegócio na próxima década.
As parcerias entre o setor público e privado também estiveram no foco no governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB). Segundo ele, essas e outras questões têm sido discutidas em reuniões mensais pelos governadores da região central do Brasil que dependem bastante do agronegócio e precisam encontrar alternativas para manter seu crescimento – e de forma sustentável.
“Não há necessidade de desmatar e é preciso ampliar a aposta em energias renováveis”, disse o também tucano Marconi Perillo, governador de Goiás, segundo maior Estado produtor de etanol, atrás de São Paulo. Perillo preside o bloco “Brasil Central”, que é o formado por Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rondônia e Distrito Federal.
Tudo isso, contudo, pode e deve ser alinhavado pelas políticas e estratégias às quais se referiu à ministra Kátia Abreu. E um Plano Safra plurianual, nos moldes do americano ou do europeu, poderia, segundo ela, facilitar esse processo. Enquanto o panorama político permitir, é o caminho que ela pretende percorrer à frente do Ministério da Agricultura, e com forte protagonismo da Embrapa.
Produtores e representantes de agroindústrias ouvidos pelo Valor no evento de ontem avaliaram como positivos os projetos da ministra. Temem, porém, que a crise fiscal e política em que está mergulhado o governo federal impeça Kátia Abreu de avançar com essa agenda. Pessoas próximas à ministra acreditam que ela deva permanecer no cargo mesmo que para isso saia do PMDB – o partido desembarcou oficialmente do governo. A ministra foi convidada há dois dias a se filiar ao PR, legenda da base aliada, e não descarta mudar de partido, dizem fontes.
Fonte: Valor Econômico