Juçaí, o sorbet da juventude

Fruto parecido com o açai, o juçaí, fruto da palmeira juçara, possui três vezes mais antioxidantes e gera emprego e renda para agricultores familiares. Foto: Divulgação

“Andamos por aí vendo a ribeira, a qual é de muita água e muito boa. Ao longo dela há muitas palmas, não mui altas, em que há muito bons palmitos.Colhemos e comemos deles muitos”.

A frase acima é fragmento da carta de Pero vaz de Caminha enviada ao então Rei de Portugal, Dom Manuel I, descrevendo os primeiros dias dos portugueses em terras brasileiras, em abril de 1500. As palmas, as quais ele se refere, são as Palmeiras Juçaras, que representavam 25% da Mata Atlântica, margeando todo o litoral brasileiro, e que hoje estão entre as espécies ameaçadas de extinção.

A extração desordenada e ilegal, para comercialização do palmito, foi a principal causa do desaparecimento da Juçara. Mas uma iniciativa pretende mudar este cenário. Na Serrinha do Alambarí, município de Resende, no Rio de Janeiro, o Projeto Amável — A Mata Atlântica Sustentável — vem trabalhando na produção e plantio de mudas da palmeira, e na disseminação de uma forma sustentável de aproveitá-la comercialmente, com a produção do Juçaí.

 

PROJETO AMÁVEL

“A ideia do projeto surgiu há uns cinco anos”, conta George Braile, um dos responsáveis pela iniciativa, e sócio da Epicuro, empresa parceira da rede OrganicsNet. “Eu estava aqui na Serrinha, e observei diversos animais se alimentando dos frutos da Juçara, e resolvi colher um pouco para experimentar. Percebi que era muito parecido com o açaí, porém com uma cor mais viva e muito mais saboroso”.

A partir daí, George começou a pensar em uma maneira de gerar renda com a palmeira em pé, baseando-se no tripé da sustentabilidade, que leva em conta as esferas, ambiental, social e econômica. “Ao invés de cortarem o pé para colherem o palmito, e o venderem por cinco reais, que as pessoas colhessem o fruto, e depois vendessem por R$ 8, com a vantagem de no próximo ano poderem colher de novo, sem tornarem-se criminosos”.

Com o suporte para inovação tecnológica da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), uma fábrica foi construída e equipada, e foi criado um plano de manejo sustentável, na fazenda que George herdou do avô.

 

PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE

Um dos principais objetivos do projeto era que a própria comunidade se sensibilizasse e protegesse a floresta. Pensando nisso, em parceria com a Emater, jovens da região foram capacitados como coletores legalizados do fruto da Juçara. George explica que, “todos que participam do curso de capacitação recebem a DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf ), e tornam-se agricultores familiares”, e acrescenta, “eles são autônomos, e podem vender o que colhem para outros compradores se quiserem, somos apenas um dos possíveis clientes”.

A lógica de aproveitar a mão de obra da comunidade também vai para dentro da fábrica, onde mulheres trabalham no beneficiamento e produção da polpa do Juçaí (marca que a empresa criou para o “mix” feito com a polpa do fruto da juçara). “As mulheres da comunidade moram longe dos centros urbanos, então trabalhar perto de casa é mais conveniente, para ficarem mais tempo com a família”, diz George.

 

PLANO DE MANEJO

O plano de manejo, para extração dos frutos, levou em conta dois aspectos, o reflorestamento da Palmeira Juçara e a manutenção de oferta dos frutos aos animais. Sendo assim, apenas 2/3 dos frutos maduros encontrados são levados para o despolpamento. Os outros 33% são deixados para os animais e para que caiam na terra e brotem naturalmente.

Além disso, George explica que, “a polpa é a casca do fruto, o resto é semente. Quando você despolpa o fruto, essa semente germina 98% das vezes. Nós fazemos o papel do passarinho”. Só no ano passado, o Projeto Amável gerou incríveis 20 milhões de sementes, que foram distribuídas para diversos eventos, e para proprietários de fazendas vizinhas que se interessaram em participar do projeto.

 

O PRODUTO

“A comercialização da polpa pura não é muito viável, pois competimos diretamente com o preço do açaí”, diz George. Pra isso, foi desenvolvido o Juçaí, uma espécie de sorbet, que leva inhame, banana, guaraná e a polpa do fruto da Juçara. O produto é certificado como orgânico, e pode ser encontra-do no Rio de Janeiro e São Paulo. Mais informações, acesse o site: www.jucai.com.br

 

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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 702/2014

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