A falta de incentivo por parte do governo, as quedas na produção e o impacto do subsídio dado à gasolina estão sufocando o mercado interno do etanol. Pelo terceiro ano seguido, o produto apresenta queda no consumo e a sua produção atual apenas abastece a demanda interna.
A política de contenção da inflação, lançada pelo governo para segurar os preços de mercado da gasolina, congelando os valores finais para os consumidores, reflete diretamente nas vendas do etanol, que passou a competir pela preferência dos donos de carros flex. “Com o preço estabilizado da gasolina e os custos da fabricação com energia, investimentos em automação e a colheita da cana, mantidos em alta para os dois combustíveis, a competitividade do etanol foi eliminada. Pode-se dizer que temos um cenário de crise”, sentencia o diretor da SNA José Carlos Menezes.
Segundo ele, outro fator de complicação desse cenário foi gerado pela crise internacional de 2008, que comprometeu os investimentos em usinas e canaviais. “Ao diminuir a área renovada dos canaviais por questões financeiras, o produtor adiou o processo de renovação do solo, o que, com o passar dos anos, derrubou o volume de safra. Isso levou à queda da produção agrícola, que também sofreu com questões climáticas desfavoráveis”, explica Menezes.
O diretor acredita que a situação coloca a Petrobras em uma posição delicada, pois a instituição comercializa a gasolina a um preço abaixo do custo. Quanto maior a demanda pela gasolina, maior as importações pelo produto e maior também o prejuízo da Petrobras. Segundo cálculos da Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar), no último mês, a estatal importou gasolina por um preço médio de R$ 1,53 por litro e a revendeu por R$ 1,26 (sem impostos).
Para que o setor possa ganhar fôlego, produtores estão em busca da redução dos impostos da produção. “O cenário de hoje é de ociosidade, as fábricas estão trabalhando abaixo de sua capacidade e o preço não remunera o custo. A alternativa imediata seria a retirada de alguns tributos, como o PIS/Cofins. Outra alternativa seria subir o preço da gasolina”, declara Menezes. A previsão para o setor é que, com a adoção dessas medidas após as eleições e a retomada da estabilidade na produção, o etanol volte a competir.