Irrigação é estratégia para aumento da produção de forma sustentável

Para o professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Everardo Chartuni Mantovani, a agricultura irrigada é uma das mais relevantes estratégias para o crescimento da produção de alimentos, proporcionando desenvolvimento sustentável no campo, com geração de empregos e renda de forma mais regular e equilibrada. A afirmativa foi feita durante o 31º Congresso Nacional de Milho e Sorgo, que termina hoje em Bento Gonçalves (RS), em painel sobre o tema mediado pelo assistente técnico estadual de irrigação da Emater/RS-Ascar, José Enoir Daniel.

“O objetivo da irrigação está associado à maior produtividade, maior rentabilidade, melhor qualidade do produto e estabilidade da produção e renda, de forma a interagir com todos os fatores que interferem na produção”, disse Mantovani, destacando a necessidade e importância da gestão de todo esse processo.

Mantovani explicou que a questão que exige maiores cuidados é o manejo da irrigação, isto é, a condução da lavoura irrigada. “É fundamental delimitar de maneira apurada as necessidades hídricas da cultura, bem como a lâmina de água e a hora mais adequada de realizar a irrigação, assim como observar a manutenção e os ajustes no sistema de irrigação e muitos outros na condução diária da cultura irrigada”, apontou o professor da UFV.

Fazendo um histórico da irrigação brasileira, Mantovani relata que, até 1980, a irrigação era muito pouco tecnificada, com equipamentos de baixa eficiência. “Na década de 1990, veio a abertura do mercado, embora o produtor tivesse pouco acesso aos equipamentos em função do preço. A partir de 1995, a irrigação começa a ficar mais acessível e temos forte expansão da agricultura irrigada brasileira. Depois disso começamos a falar de agricultura irrigada em vez de irrigação, já trazendo os desafios dos conceitos de meio ambiente, água, energia e mão-de-obra, que é mais ou menos o momento em que estamos”, explicou Mantovani.

De acordo com o professor da UFV, o Programa de Expansão da Agricultura Irrigada, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), planeja implantar cinco milhões de hectares irrigados até 2025. “O Brasil tem hoje em torno de 6.2 milhões de hectares irrigados e, conforme estudos da Secretaria Nacional de Irrigação, o País tem um potencial de 60 milhões de hectares de água superficial, onde em torno de 35 milhões hectares são potenciais mais elevados, enquanto cerca de 25 milhões já seriam de custo mais elevado e com menos infraestrutura”.

No passado, a utilização da irrigação era uma opção técnica de aplicação de água que visava principalmente à luta contra a seca. “Atualmente passamos para uma nova etapa de agricultura irrigada, inserindo-se em um conceito muito mais amplo, tornando-se uma estratégia para aumento da produção, produtividade e rentabilidade da propriedade agrícola de forma sustentável, preservando o meio ambiente e criando condições para manutenção do homem no campo, por meio da geração de empregos permanentes e estáveis”.

Entretanto, conforme Mantovani, o desafio é o de “transformar um conceito numa solução para o produtor, que seria fazer a gestão ou o manejo da irrigação”, apontou.

“Faço a seguinte distinção: manejo de irrigação é uma palavra muito mal utilizada, porque todo mundo pensa o quanto e quando irrigar, mas é preciso pensar esse aspecto de forma mais holística, ou seja, levar em conta os aspectos de sistemas de plantios, de possibilidades de rotação de culturas, de proteção dos solos, de fertilidade do solo, de manejo integrado de pragas e doenças, mecanização, dentre outros aspectos, com todas as etapas dos objetivos de produção que estão ali. A isso eu chamo de gestão, ou seja, o manejo de irrigação está dentro dos aspectos da gestão”.

Os dados mostrados por Mantovani mostram que o Brasil é um país que tem disponibilidade de equipamento muito grande. “O maior fabricante do mundo de pivô central está em Uberaba, em Minas Gerais, e segundo maior está em São Paulo. Enfim, temos uma série de empresas de equipamentos, e o mais importante: o produtor tem acesso a esses implementos”, afirmou.

Segundo a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), em 2015 foram comercializados cerca de 200 mil hectares de irrigação. “Em relação ao nosso potencial, podemos evoluir ainda mais. Talvez em médio ou longo prazo chegaremos a 10 ou 12 milhões de hectares anualmente”, disse Mantovani.

Ele afirmou ainda que a maior parte da área irrigada é da iniciativa privada. “O grande problema é que a maioria dos projetos para pequenos e médios produtores é feita em balcão de loja. Por isso, estamos criando um curso para balconista de loja de irrigação, porque a gente percebe que se faz muita coisa ali”.

“Um dos maiores problemas de irrigação muitas vezes é a energia, que se precisa em quantidade e qualidade”, disse o palestrante. “Por diversas vezes não são usados equipamentos de automação, por exemplo, porque ela exige muita energia, que tem o maior custo e é mais cara que o pivô e a mão de obra”.

De acordo com Mantovani, a irrigação como estratégia de sustentabilidade da produção está associada à gestão. “Não há como obter estabilidade do ponto de vista econômico, social e ambiental de um projeto de irrigação se não houver um processo de gestão. Esse fator é que vai garantir a produção de alimentos e empregos, a produtividade e a produção, e ainda a diminuição do risco, ambiental, no uso eficiente de água, da energia e do solo”, concluiu.

 

Fonte: Emater/RS

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