Investimentos estrangeiros

Autor: Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ///

De acordo com informações divulgadas na semana passada pelo Banco Central do Brasil, o total de investimentos estrangeiros na economia brasileira em 2011 foi de 66,6 bilhões de dólares, o que representou um crescimento de 37,5% em relação ao ano anterior.

O setor de serviços foi o que recebeu mais investimentos, com um aumento, em relação a 2010, de 117,6%.

Em seguida vem a indústria, cujos investimentos estrangeiros cresceram 26,2% de 2010 para 2011. Ai o setor que mais cresceu foi o da indústria de Alimentação, com um salto de 78,5%.

A grande surpresa ficou com o setor primário cuja variação foi negativa em 36,7%. Em 2010, os investimentos estrangeiros neste setor somaram pouco mais que 16 bilhões contra apenas 10,29 bilhões em 2011. Isso porque o sub-setor Extração de Minerais Metálicos caiu 50,3% e o de Extração de Petróleo e Gás Natural caiu 39,7%. Mas o setor ligado à Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados teve um aumento de investimentos da ordem de 52,7%, sendo de longe o que mais cresceu, seguido pelo de Produção Florestal, com mais 3,3%. No entanto, o valor absoluto das aplicações nestes dois setores foi inferior a 1 bilhão de dólares, insignificante diante dos espetaculares valores alocados nos serviços e na indústria.

A análise destes dados permite constatar a interferência de duas variáveis.

A primeira tem a ver com a demanda por produtos de origem rural. Não é à toa que o setor industrial que mais cresceu foi o de Alimentos. Mesmo com os diversos problemas de industrialização enfrentados pelo país, em função das dificuldades cambiais e de concorrência com a China, a área de alimentos avançou bastante. Deve-se à crescente demanda global por alimentos, sobretudo em função da melhoria de renda dos países emergentes, como o espetacular salto do nosso mercado interno, por exemplo. Ainda nesta primeira análise, avulta a enorme diferença dos investimentos na Agricultura dentro do setor Primário. Enquanto a expansão aí foi de 52,7% os setores mais fortes, Petróleo e Mineração, caíram bastante.

E não é só alimento: roupas, calçados, produtos de papel e celulose, frutas e flores, são outros setores cuja demanda vem crescendo.

É por isso que a segunda análise é preocupante.

Considerados os valores absolutos dos investimentos realizados em 2011, o dinheiro que veio para Brasil foi assim dividido: para serviços, 46,3%, para indústria, 38,8%, e para o setor primário 14,9%. Porque será? Mesmo sendo o Brasil o país mais admirado pelo mundo todo em relação à sua agricultura altamente sustentável, mesmo com grandes Fundos e Investidores globais super interessados em vir para cá, porque o setor recebeu tão pouco?

Um fato que contribuiu para isso foi que em agosto em 2010 a AGU proibiu a compra de terra por estrangeiro. Deveria ter impedido a compra de terras por fundos soberanos, alem de ratificar as limitações já existentes, como o máximo de 20% da área de um município para empresa estrangeira; poderia ter estabelecido regras adicionais para evitar especulação imobiliária, mas ao assumir tal posição, espantou investidores que viriam produzir aqui, comprando máquinas, sementes e fertilizantes produzidos aqui e, portanto, gerando empregos e renda aqui. Mas não é só isso: precisamos melhorar muito a segurança jurídica, nossa política comercial colocou todos os ovos na cesta da imóvel OMC; não resolvemos graves problemas de logística e infraestrutura… Enfim, há uma série de gargalos que inibem investimentos estrangeiros, e que acabam fazendo com que eles se dirijam a outros países.

Segundo a UNCTAD, o Brasil foi o 4º país do mundo que mais recebeu investimentos estrangeiros em 2011, superando todos os países do euro. E se a avaliação for apenas para novos projetos, sem incluir a aquisição de empresas por multinacionais, só ficamos atrás da China.

Tem dinheiro sobrando no mundo atrás de investimentos produtivos: vamos buscá-lo.

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