Investimento chinês no agronegócio brasileiro é pequeno

Por Mauro Zafalon

Era de se esperar que, por uma questão de segurança e pela forte dependência de produtos agropecuários do Brasil, a China fosse acelerar os investimentos neste setor nos últimos anos no mercado brasileiro. Os chineses precisam garantir matéria-prima para seu consumo e para a manutenção de seus estoques.

Não é o que acontece. Até 2011, os chineses davam prioridade às commodities brasileiras, que ficavam com 83% dos investimentos nos setores de agropecuária, minério de ferro e petróleo. A partir de 2012, porém, as empresas buscaram outras opções de negócios, investindo mais em energia, em serviços e na indústria de manufatura.

É o que mostra estudo do CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China), divulgado nesta quinta-feira. De 2007 a 2020, o volume dos investimentos confirmados se concentrou 48% em eletricidade e gás, enquanto a agropecuária ficou com apenas 3%.

A necessidade chinesa de produtos brasileiros da agropecuária é crescente. A participação do agronegócio nas exportações para a China saltou de 35%, em 2010, para 50%, em 2020.

Empresas

O estudo aponta que essa dependência trouxe investimentos de empresas como Cofco, Tide Group e LongPing High-Tech, tanto nas áreas de comercialização e fornecimento de produtos agrícolas como na fabricação de químicos para a agroindústria.

Mato Grosso foi um dos principais estados no recebimento de investimentos chineses voltados para a agricultura e para serviços relacionados.

A Cofco adquiriu a Nidera e a Noble, participando diretamente das operações de trading não só no estado, que é o principal produtor nacional, como também em todo o País.

Cifras

Os investimentos chineses no Brasil, acumulados de 2007 a 2020, somaram 176 projetos, no valor de US$ 66 bilhões. Em 2019, atingiram US$ 7.3 bilhões, com aumento de 117%, em relação a 2018. Já no ano passado, o volume recuou para US$ 1.9 bilhão, com queda de 74%.

Túlio Cariello, do CEBC, disse que essa queda seguiu tendência mundial, devido à pandemia. Os investimentos mundiais da China, que chegaram a US$ 170 bilhões em 2016, recuaram para US$ 110 bilhões no ano passado.

Atrativos

Para Renato Baumann, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os chineses veem no Brasil oportunidades de negócios e perspectivas de rentabilidade. Para Fabiana D’Atri, do Bradesco, o tamanho do mercado brasileiro, a oferta de mão de obra e a disposição do país em receber capital estrangeiro também são importantes.

Quanto à opção chinesa de investir mais na geração de energia, o embaixador Marcos Caramuru disse que as condições do setor na China são semelhantes às do Brasil. Ambos precisam transportar energia para longas distâncias.

Com isso, os chineses têm tecnologia para fornecer aos brasileiros. Além disso, a mão de obra qualificada no Brasil e a regulação do setor também são atrativas.

 

 

Fonte: Folha de S. Paulo

Equipe SNA

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