Insetos: nova alternativa para alimentar frangos e peixes

Estudos da Embrapa mostram viabilidade econômica e ambiental do uso de insetos. Foto: Fernando Sinimbu

Cientistas brasileiros e de Camarões, na África Central, comprovaram a viabilidade de uma alimentação alternativa mais econômica e equilibrada para o cultivo de aves e peixes criados em cativeiro: o uso de insetos. O estudo é um avanço nas discussões de um destino mais nobre de áreas para plantio no mundo, destinando-as cada vez mais para insumos de consumo humano e menos para a produção de ração animal.

“Esses resultados mostram que estamos no caminho certo na busca de alternativas alimentares sem impactos negativos para a piscicultura e para a avicultura”, diz a pesquisadora Janaína Kimpara, da Embrapa Meio-Norte (PI), que coordenou a pesquisa.

Em todos os experimentos conduzidos no Brasil e em Camarões, com frango de corte, bagre africano e tilápia, os percentuais de farinha de insetos introduzidos na ração desses animais e a aceitação foram expressivos. Na ração para o bagre africano, foram introduzidos 60% de larva de mosca soldado negra. Já na dieta de frango de corte e tilápia, os pesquisadores substituíram 15% do ingrediente proteico por larva de mosca soldado negra.

“Precisamos agora avançar nos estudos para que as rações de peixes e aves possam receber percentuais maiores ainda de insetos, iniciando assim um novo ciclo alimentar nas pequenas propriedades”.

A cientista da área de aquicultura revela três questões importantes para defender a médio prazo a inserção de insetos na alimentação de peixes e aves. A primeira é a ambiental: os insetos substituem parte das rações à base de soja empregadas na alimentação de frango, bovinos, suínos, caprinos e ovinos, o que reduz a pressão para o aumento das áreas plantadas.

O perfil de aminoácidos da farinha de insetos em geral, comprovado no estudo, de acordo com a pesquisadora, é semelhante ao da farinha de peixe encontrada no mercado. Outro ponto positivo é que a dieta de insetos é mais econômica.

“Ela possui aspectos que são a base de sobrevivência da pequena propriedade, como o equilíbrio entre produtividade, fácil manutenção, pouca mão de obra e insumos”, afirma a cientista, que estuda também a possibilidade da reciclagem de resíduos, como restos de alimentos domésticos ou produtos não vendidos.

Segurança alimentar

A segurança alimentar é a terceira questão que fundamenta a viabilidade da ração feita com insetos, no entender da cientista. “É importante que o produtor saiba que tipo de ração está dando para seus animais”, recomenda.

Para alimentar frangos, os insetos são abatidos em água fervente, secos em estufa ou micro-ondas e depois moídos. Em seguida, a farinha é misturada ao farelo de soja ou milho moído, mistura de vitaminas e minerais e disponibilizado para o consumo das aves.

O preparo muda na elaboração da ração de peixes. “Mistura-se farinha de insetos, água, milho moído, óleo de cozinha, vitaminas e minerais. Depois, é só misturar e passar em um moedor de carne para aglutinar os ingredientes, e está pronta a ração”, ensina.

A cientista reconhece que hoje no Brasil o grande desafio é conscientizar os produtores sobre a possibilidade do uso de insetos na alimentação animal, a partir de resíduos orgânicos.

“A substituição total ainda está longe de acontecer. Ainda existem muitos insetos a serem descobertos e estudados, bem como muitos peixes para serem trabalhados”, justifica.

Equipe SNA/RJ

 

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