Estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que a produção brasileira de milho deve somar 91.1 milhões de toneladas na safra 2018/19, com aumento de 12,9% sobre a safra anterior. Já a de soja está estimada em 118.8 milhões de toneladas, com aumento de 0,4%.
Tem sido assim já há alguns anos, aumento sobre aumento, mas, apesar de ter melhorado a eficiência da porteira para dentro, o setor produtivo ainda padece com uma infraestrutura incompatível com suas necessidades. “O Mato Grosso, por exemplo, já produz uma safra do mesmo tamanho que a Argentina, mas continua com as mesmas estradas que tinha na década de 1980”, disse Fernando Cadore, vice-presidente da Aprosoja-MT. É a deficiência na infraestrutura que mais causa perdas no transporte desses dois grãos.
Segundo estudo realizado pelo engenheiro agrônomo Thiago Guilherme Péra, do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) – que mapeou as perdas de cada atividade logística da soja e do milho no País – em 2015 foram desperdiçadas 2.381 milhões de toneladas de milho e soja (o que correspondeu a 1,3% daquela safra). Esse volume gerou um déficit econômico de R$ 2 bilhões.
A pesquisa, que traçou um diagnóstico detalhado dos déficits de soja e milho durante o transporte e armazenagem no Brasil, desde as fazendas até os centros consumidores e portos, passando por ferrovias e hidrovias, identificou que as perdas ocorrem em função de diferentes atividades logísticas, tais como armazenagem, qualidade das rodovias, modalidade de transporte e canal de comercialização.
Das 2.381 milhões de toneladas desperdiçadas, o milho corresponde por 1.304 milhão de toneladas e a soja, por 1.076 milhão de toneladas. Dessas perdas, 38,81% ocorreram em armazenamento externo e 21,67% em transporte rodoviário entre a fazenda e a armazenagem.
A partir desses dados, o estudo mostrou que o aumento na capacidade de armazenagem do Brasil pode reduzir essas perdas em até 21,6%. Além disso, colocar as estradas rodoviárias em boas condições pode contribuir para uma redução de 16% nas perdas durante o transporte dos grãos.
O vice-presidente da Aprosoja-MT concorda que melhorar a condição das estradas pode ser um começo. Mas, para ele, “isso não resolve o problema, pois, mesmo com um motorista zeloso, em uma rodovia em más condições, haverá perda”.
O executivo aposta em medidas mais eficazes para resolver o problema. “Precisa haver uma mudança nos modais de transporte. Afinal, são necessários 2.000 caminhões para transportar 60.000 toneladas de soja. Esse mesmo volume pode ser embarcado em apenas um navio. E é claro que há menos perdas no navio do que nos 2.000 caminhões”, disse o executivo. Para ele, a melhor opção para combater as perdas no transporte de grãos é o investimento em hidrovias e ferrovias.
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