Indústria de carnes enfrenta alta do milho apesar de safra recorde no Brasil

Indústrias de frango e suínos, principais compradoras de milho no mercado doméstico brasileiro, estão enfrentando uma alta nas cotações do grão em um momento de grande oferta após colheitas volumosas nos principais Estados produtores, o que eleva os custos com a ração para os animais.

A explicação para a alta dos preços em um momento de oferta abundante está no câmbio e no bom momento das exportações do País. A moeda norte-americana atingiu nesta quinta-feira a sua maior cotação desde outubro de 2002, com uma alta acumulada de cerca de 22% nos últimos três meses.

“Nós esperávamos preços mais baixos para o período… Na comparação com uma projeção de preço normal, hoje os custos de produção estão bem mais altos”, relatou o diretor de compras da cooperativa Aurora, Jacó Ritter, responsável pela originação em uma das maiores produtoras de aves e suínos do Brasil, com consumo de quase 1.4 milhão de toneladas de milho por ano.

Nos últimos três meses, o milho no mercado físico brasileiro acumula alta de 20%, segundo o indicador ESALQ/BM&FBovespa.

No mesmo período de 2014, a queda foi de 19,5% e, em 2013, o recuo foi de 5,6%.

A colheita de milho de Mato Grosso, principal produtor do Brasil, foi encerrada há poucos dias. Já no Paraná, segundo produtor nacional, a colheita da safra de inverno alcança 96% da área.

Com a concorrência com a exportação, as indústrias realizam aquisições mais pontuais. Algumas consultorias estimam embarques do País em níveis próximos de recordes.

“São preços altos e muitas indústrias estão encurtando estoques. Quem tem pouca capacidade de estocagem está tendo que se sujeitar ao mercado”, disse o supervisor responsável pela compra de insumos para ração em uma indústria de carne suína do Rio Grande do Sul, falando sob a condição de anonimato.

Ainda assim, a situação dos preços não gera preocupação excessiva nas empresas do setor.

“A avicultura está acostumada com esse processo (de volatilidade de preços)”, disse o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins.

Ele lembrou também que o Brasil tem “estoques confortáveis” de milho no momento.

Após três safras acima de 80 milhões de toneladas –inclusive um recorde de 84.3 milhões em 2014/15– o Brasil deverá fechar o atual ano comercial, em 31 de janeiro, com um estoque nunca registrado, de 14.3 milhões de toneladas, segundo projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O volume é suficiente para cerca de três meses de consumo do País.

Exportações de carnes

O milho mais caro eleva custos, mas não necessariamente elimina as margens da indústria, especialmente as que exportam carne de frango e de suínos.

“As empresas estão exportando numa quantidade representativa… E está se reajustando também o preço do produto no mercado interno”, destacou o presidente do Sindiavipar.

Com embarques recordes, mas queda no faturamento em dólar pelo preço mais baixo na exportação, é o câmbio que tem salvado a receita das indústrias.

O resultado das exportações de frango do Brasil em reais subiu 18% no primeiro semestre de 2015, na comparação com o mesmo período de 2014, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Estímulo para o plantio

Na avaliação do presidente da ABPA, Francisco Turra, o atual preço elevado do milho tem um efeito colateral bastante positivo: incentiva o plantio e ajuda a garantir fornecimento no médio prazo.

“Se o preço for baixo, muita gente se desestimula e vai para a soja”, disse o executivo.

Numa granja de suínos, por exemplo, 75% da ração é composta por milho, o que demonstra porque este grão é o mais relevante e observado pelas empresas do setor.

A expectativa é de que os preços atuais elevados tenham um efeito duradouro e motivem o plantio da safra de inverno de 2016, que ocorrerá no primeiro semestre. No plantio mais imediato, no verão 2015/16, o milho deverá novamente perder espaço para a soja, que é mais rentável.

 

Fonte: Reuters

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