Importadores aumentam compras de soja barata dos EUA enquanto a China está fora do mercado

As tarifas retaliatórias da China sobre a soja norte-americana, ameaçadas há semanas e decretadas na sexta-feira, derrubaram os preços e provocaram uma onda de compras por importadores de outros países, segundo análise da Reuters com base em dados oficiais.

Os compradores chineses até agora responderam por apenas 17% de todas as compras antecipadas da safra de soja norte-americana deste ano – uma queda em relação aos 60% de média na última década, de acordo com a análise.

Em contrapartida, a soja brasileira está sendo vendida com um prêmio de até US$ 1,50 por bushel, já que os contratos futuros de soja nos EUA caíram 17% em seis semanas, para US$ 8,50 – cotação mais baixa em quase uma década.

A diferença de preço provocou uma corrida pela soja dos EUA por importadores desde o México, passando pelo Paquistão, até a Tailândia, segundo a análise dos dados do USDA.

Mesmo com a China recuando, as compras antecipadas realizadas por todos os importadores da próxima safra de soja dos EUA aumentaram 127% até junho, em oito milhões de toneladas, em comparação com o mesmo período do ano passado, mostrou a análise.

As compras são o exemplo mais recente de como a política está afetando bilhões de dólares em fluxos globais de comércio à medida que o presidente dos EUA, Donald Trump, trava uma guerra comercial com a China.

Pequim impôs tarifas sobre US$ 34 bilhões em produtos norte-americanos na sexta-feira, de soja e algodão a automóveis e aviões, em retaliação às tarifas dos EUA promulgadas no mesmo dia sobre mercadorias chinesas de igual valor.

O declínio das compras de soja norte-americana pela China e o movimento de outros países para adquirir o produto dos EUA em seu lugar evidenciam uma expectativa coletiva contra qualquer resolução rápida da escalada da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.

Até mesmo o Brasil, maior exportador global de soja, está se preparando para grandes compras de soja norte-americana a fim de alimentar seus processadores domésticos, uma vez que envia a maior produção para a China a preços elevados, de acordo com informação da associação de exportadores (Anec).

“O Brasil pode importar até um milhão de toneladas de soja dos EUA, com as compras aumentando em outubro”, disse o assistente executivo da Anec, Lucas Trindade.

As esmagadoras brasileiras de soja, que transformam a colheita em óleo de cozinha e ração animal, normalmente não precisam de soja nos EUA. Mas logo pode ser mais barato importar grãos cultivados a milhares de quilômetros de distância no Meio-Oeste dos EUA do que comprar a produção local.

“Parece irracional, mas existe a possibilidade de os preços em Chicago (futuros) se aproximarem dos US$ 8,00 o bushel”, afirmou Alessandro Reis, diretor de Originação e Logística da CJ Selecta, uma processadora e comercializadora de soja no Brasil.

Os comerciantes de grãos que dominam os mercados de soja, incluindo a Archer Daniels Midland (ADM), a Bunge e a Cargill, estão trabalhando para minimizar o impacto da queda repentina na demanda chinesa, desviando cargas para outros lugares. Bunge e ADM se recusaram a comentar. A Cargill não respondeu aos pedidos de comentários.

 

Fonte: Reuters

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