Por Mauro Zafalon
Apesar das dificuldades mundiais para a compra de fertilizantes neste ano, o Brasil importou um volume recorde desse insumo em abril. A conta, no entanto, devido à alta dos preços internacionais, ficou elevada.
Foram 3.25 milhões de toneladas adquiridas em abril, 71% a mais do que no mesmo mês do ano passado. Com isso, o Brasil já importou 11.2 milhões de toneladas de janeiro a abril e 42.2 milhões nos últimos 12 meses.
As compras da Rússia, principal fonte de fertilizantes para o Brasil, diminuíram 9% nos quatro primeiros meses deste ano, em relação a janeiro e abril de 2021. No mês passado, os russos forneceram 660.000 toneladas de adubo aos brasileiros, um volume 4% inferior ao de março.
A Rússia, que mantém a liderança nas exportações para o Brasil desde 2009, foi responsável por 22% do adubo importado pelo Brasil no primeiro quadrimestre, ao fornecer 2.45 milhões de toneladas do insumo.
Já Canadá, China, Nigéria e Israel elevaram a oferta de produto ao Brasil. De janeiro a abril, China e Canadá exportaram 1.7 milhão e 1.1 milhão de toneladas, respectivamente, para o Brasil. Até a Venezuela aumentou as exportações, fornecendo 65.000 toneladas nos quatro primeiros meses do ano.
Gastos
Petróleo em alta, energia cara, redução de produção em algumas minas e dificuldades no comércio internacional vêm pressionando muito os preços dos fertilizantes desde o ano passado.
As importações brasileiras de janeiro a abril, embora tenham aumentado apenas 6%, em volume, obrigaram o País a gastar 147% a mais na compra desses insumos.
Nos quatro primeiros meses do ano passado, os gastos haviam somado US$ 2.62 bilhões. Neste quadrimestre, totalizaram US$ 6.48 bilhões.
Expansão agrícola
A dependência externa de fertilizantes do Brasil se acentuou com a expansão agrícola do país. Há dez anos, os agricultores brasileiros cultivavam 50.9 milhões de hectares no plantio de grãos. Nesta safra, a área saltou para 73.4 milhões de hectares.
Esse aumento de área permitiu ao país sair de uma safra anual de 166 milhões de toneladas de grãos, em 2011/12, para os atuais 270 milhões, conforme dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
A estimativa inicial para a safra brasileira era de 290 milhões de toneladas no período 2021/22, um volume frustrado pelos recorrentes problemas climáticos dos últimos anos. No ano passado, seca e geada quebraram a safra de milho. Neste ano, foi a de soja.
Grande parte do fertilizante importado é destinada para as safras de soja e de milho. Nos últimos cinco anos, as áreas desses produtos aumentaram 22%. A da oleaginosa atingiu 41 milhões de hectares, e a do cereal subiu para 21.5 milhões. Embora menor, a de algodão aumentou 78%, totalizando 4.1 milhões de hectares, segundo os dados mais recentes da Conab.
Demanda russa
A Guerra da Ucrânia fez a Rússia reduzir as compras de alguns produtos no Brasil em abril. Entre eles, estão café, carnes, soja e açúcar. Os russos, porém, se prepararam nos meses que antecederam o conflito. O volume das compras de soja aumentou 136% no quadrimestre, e o de açúcar, 785%.
Agroquímicos
A expansão agrícola brasileira tornou o País dependente também dos agroquímicos. Nos quatro primeiros meses deste ano, as compras externas de agrotóxicos (classificados pelo Ministério da Agricultura como herbicidas, fungicidas, inseticidas, acaricidas e outros) totalizaram 146.700 toneladas, 64% a mais do que em igual período do ano passado, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
A maior evolução no período veio de herbicidas, cujas importações totalizaram 87.000 toneladas, bem acima das 31.000 toneladas do mesmo período do ano passado.
As compras externas de inseticidas caíram 20% em volume, e as de fungicidas aumentaram 24%. Os gastos com agroquímicos subiram para US$ 1.3 bilhão neste ano, 92% acima dos de janeiro a abril do ano passado.
Fonte: Folha de S. Paulo
Equipe SNA