Importação de trigo pelo Brasil deve quase triplicar em setembro após problemas de safra

Moinhos e tradings brasileiros elevaram as compras de trigo do exterior e o Brasil deverá receber quase três vezes mais carregamentos do grão em setembro do que no mesmo mês do ano passado, devido a uma escassez de produto no mercado interno, apontam dados de escalas de navios.

Atualmente, há previsão de desembarque de 433.000 toneladas de trigo estrangeiro nos portos brasileiros este mês, contra 151.000 toneladas na previsão de 12 meses atrás, segundo dados da Wilson Sons Agência.

Do previsto para setembro, há 171.000 toneladas de trigo da Argentina, fornecedor mais tradicional do Brasil, com um aumento de 484% em relação a 12 meses atrás. Dos Estados Unidos deverão desembarcar 157.000 toneladas contra apenas 11.000 toneladas da previsão de setembro do ano passado.

Metade do volume de trigo processado nos moinhos brasileiros todos os anos vem do exterior. Em 2016, ficou muito difícil encontrar no mercado local o trigo de qualidade elevada usado para fabricação de farinha de panificação, após chuvas prejudicarem as lavouras do Sul do Brasil na colheita de 2015.

Intempéries semelhantes afetaram também a qualidade da safra da Argentina, que chegou ao mercado entre o fim de 2015 e o início de 2016.

“Quando começou a ter problema na Argentina, o pessoal carregou a mão no trigo americano. Agora a gente só tem perspectiva de trigo novo argentino para dezembro”, disse o executivo de um grande moinho de São Paulo, sob a condição de anonimato.

O desenvolvimento das lavouras de trigo do Rio Grande do Sul e do Paraná da temporada 2016 está em andamento, colocando o mercado doméstico no auge da entressafra. A colheita paranaense está na iminência de começar.

“O trigo da nova safra não pode ser processado imediatamente, o grão precisa esperar até se ‘estabilizar’. Ele vai ser comercializado ou processado a partir de dezembro. Até lá os moinhos terão necessidade de importar”, destacou um corretor sênior de Porto Alegre (RS), sobre o cereal gaúcho, colhido um pouco mais tarde que no Paraná.

Os dados da Wilson Sons Agência mostram que há cinco navios previstos para descarregar trigo em Paranaguá (PR) em setembro, e outros quatro em Rio Grande (RS).

“Isto (importações para o Rio Grande do Sul e o Paraná) só aconteceu a partir de julho. Antes disso, praticamente não tinha navios de trigo para estes portos… O trigo nacional acabou no final de julho”, disse o diretor da consultoria Trigo e Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, de Curitiba.

Segundo ele, o Brasil vive hoje escassez de trigo nacional e pouca disponibilidade de grãos com 12% de teor de proteína da Argentina, que é usado para panificação.

“Então precisa comprar trigo argentino pra fazer biscoito e massa e trigo americano para fazer pão”, comentou o analista.

A fonte da indústria em São Paulo avaliou o movimento de importação em setembro como “incomum” e disse que muitos compradores também aceleraram o fechamento de negócios nos Estados Unidos para evitar competição nos portos de carregamento em meio à nova safra norte-americana, que começará a ser colhida em breve.

“De setembro em diante começa entrar soja, milho e sorgo nos portos dos Estados Unidos”, completou o executivo.

Entre janeiro e julho, o Brasil importou 3.37 milhões de toneladas de trigo, alta de 11% em relação ao mesmo período de 2015, segundo estatística fornecida pelo Ministério da Agricultura.
Os dados oficiais de importações do mês de agosto ainda não estão disponíveis, mas o levantamento da Wilson Sons Agência mostra que o Brasil recebeu 661.700 toneladas de trigo no mês passado. O volume é consideravelmente maior do que o registrado pelo governo em agosto de 2015, de 327.400 toneladas.

 

 

Fonte: Reuters

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