As importações de lácteos por empresas brasileiras mais do que dobraram novamente em fevereiro deste ano. E o comportamento atual dos preços internacionais e do câmbio pode fazer com que esse cenário de importações elevadas persista no curto prazo, segundo analistas, contrariando as expectativas.
Em fevereiro, o país comprou no exterior, principalmente da Argentina e do Uruguai, 16.526 toneladas de lácteos, com aumento de 110% sobre as 7.870 toneladas em igual período um ano antes, conforme dados compilados da Secex. O gasto com importações cresceu 145% na mesma comparação, para US$ 53.521 milhões.
As exportações, que tinham aumentado em janeiro, recuaram em fevereiro na comparação com o mesmo mês de 2016. Foram 4.020 toneladas contra 6.333 toneladas em fevereiro do ano passado. A receita com as vendas externas ficou em U$ 14.534 milhões, abaixo das US$ 19.345 milhões de igual intervalo em 2016.
O analista da MilkPoint Valter Galan observa que os contratos de importação dos produtos que chegaram ao país em fevereiro foram fechados com cerca de três meses de antecedência, quando os preços internacionais e o câmbio estavam menos competitivos do que atualmente. Assim, se o câmbio e os preços internacionais se mantiverem nos níveis atuais, as importações podem continuar a subir.
No último leilão da plataforma Global Dairy Trade (GDT), os preços do leite em pó integral caíram 12,4%, para US$ 2.782,00 a tonelada, bem baixo dos patamares históricos de US$ 3.300. O leilão é referência para os preços internacionais.
A razão para o comportamento são as incertezas em relação à demanda e o aumento da oferta em regiões produtoras. Em janeiro, a China importou 141 mil toneladas de leite em pó integral e desnatado – 8,4% abaixo do mesmo mês de 2016. Em todo o ano passado, os chineses importaram 604 mil toneladas dos dois produtos – 10,4% mais do que em 2015, segundo o acompanhamento da MilkPoint, com base em dados do Conselho de Exportação de Lácteos dos EUA (Usdec).
Do lado da oferta, o aumento da produção de leite na Nova Zelândia em janeiro, a desaceleração da queda na produção da União Europeia e os estoques elevados de leite em pó na Europa têm pressionado as cotações internacionais. Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria, observa que a queda nos volumes negociados no leilão internacional também pode explicar o recuo nas cotações.
Nesse cenário de preços internacionais em baixa e dólar menos valorizado, “a importação volta a ser bastante competitiva”, na avaliação de Galan. Além disso, os preços da matéria-prima também estão firmes no mercado doméstico. Esse fator, aliás, pode ser um estímulo à recuperação da produção de leite no país, aliado aos preços mais baixos dos grãos para alimentação dos animais, disse ele.
“Com os preços caindo lá fora e o câmbio favorecendo embarques, a importação deve continuar em alta”, afirma Ribeiro, acrescentando que a os preços firmes da matéria-prima no mercado interno são outro estímulo às compras no exterior.
Fonte: Valor Econômico