Importação de diesel fica restrita e mercado teme desabastecimento em plena safra

A guerra entre Rússia e Ucrânia deixou o mercado internacional de diesel mais apertado, com menos volume disponível e preço mais alto, o que inviabiliza a importação por médias e pequenas empresas brasileiras e dificulta a operação até mesmo de gigantes, como a Petrobrás.

O conflito mudou o fluxo do comércio do combustível no mundo, com a Europa buscando fazer estoques com o produto norte-americano para evitar um apagão no caso de um corte de gás mais intenso da Rússia, já que o diesel pode ser um substituto para o gás.

Para trazer diesel para o Brasil, o importador hoje tem de pagar caro, e já aconteceu de nem assim encontrar o produto, afirmou Manoel Ostanello, presidente no Brasil da Greenenergy, maior distribuidora de combustíveis do Reino Unido que tem escritório no Brasil.

“A Europa está pegando diesel do mundo todo. Mais de 50% do diesel consumido na Europa tem origem russa, temos no momento um problema seríssimo de abastecimento de diesel”, disse Ostanello.

Prêmio alto

A maior parte do diesel importado pelo Brasil vem do Golfo do México, que com a guerra tem destinado o combustível para a Europa e cobrado um prêmio alto por isso.

Ostanello indicou que há cerca de 15 dias o diesel estava com desconto, mas com a guerra passou a cobrar um prêmio de US$ 0,30 acima do preço. “O galão de diesel que estava US$ 3,20 agora está US$ 3,50/3,60”, informou o executivo.

Para o Brasil, a notícia é ainda mais grave, levando em conta que a safra da cana de açúcar, que movimenta bilhões de litros de diesel todo ano, começa no final de março e entrará em abril.

Mesmo com os recentes incentivos anunciados pelo governo para o diesel, como isenção de impostos federais e mudanças no ICMS, o preço deve permanecer alto para os caminhoneiros brasileiros, que já começam a se movimentar para uma possível greve, a exemplo do que ocorreu em 2018.

Defasagem

“Na minha opinião essa situação da importação vai se agravar. O Brasil precisa importar 25% da demanda, e a Petrobras deixou o preço tão defasado no passado recente, que ninguém tinha coragem de trazer de fora, nem a própria Petrobras trouxe(diesel)”, explicou o executivo, informando que a defasagem do diesel chegou a R$ 2,50 antes do aumento anunciado pela estatal no último dia 11, o que impediu a formação de estoques.

Segundo o consultor de gerenciamento de risco da Stonex, Pedro Shinzato, os estoques de diesel nos Estados Unidos estão próximos das mínimas históricas, e a situação na Europa pode estar ainda pior, apesar de não haver estatística aberta como no mercado norte-americano.

“A grande questão é que a Rússia é uma grande fornecedora de diesel para Europa, e agora as tradings europeias estão reduzindo a importação de produto russo e aumentando a importação de produto americano”, disse o analista.

Janela fechada

O presidente da Associação Brasileiro dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, também avalia que o mercado de diesel está cada vez mais apertado por causa da guerra, e apesar do preço do petróleo estar cedendo no mercado internacional, o diesel não tem registrado recuo.

Representante das médias e pequenas importadoras de combustíveis, ele vê a janela de importação completamente fechada no momento. “Converso com nossos agentes e eles dizem que não está fácil negociar óleo diesel para o Brasil, está caro e não tem fácil no mercado, está muito restrito”, disse.

Diferença de preços

A defasagem entre os preços do diesel vendido pela Petrobras nas suas refinarias brasileiras em relação ao mercado internacional saiu de uma diferença de 24% no dia 10 de março para 4% no dia 11, após o aumento divulgado pela estatal na última quinta-feira.

Após quase dois meses de preços congelados, a Petrobras aumentou o diesel em 24,90%, a gasolina em 18,70% e o gás de cozinha em 16%. Com a pior oferta de diesel no mercado externo, a defasagem voltou a subir e já registrava 7% nesta segunda-feira.

Segundo fontes, até mesmo os grandes importadores do País estão com dificuldade de importar diesel pela baixa oferta, o que pode comprometer o abastecimento no País.

Oferta reduzida

Mesmo com preço alto, o número de ofertas a cada anúncio de compra do combustível foi fortemente reduzido. Normalmente, quando era feito o pedido de compra de diesel aparecia oferta de mais de 20 navios, agora no máximo dois ou três, indicou um grande importador.

Para tentar compensar a escassez do mercado, tanto Petrobras como Acelen, controladora da refinaria de Mataripe, na Bahia, estão aumentando ao máximo a produção em suas unidades.

Segundo a Acelen, o fator de utilização da refinaria de Mataripe está em 97%, comparado aos cerca de 70% de antes da privatização. Já a Petrobras está operando em março com média de 88% nas suas refinarias, depois de registrar fator de utilização de 86% em janeiro e 87% em fevereiro.

 

 

Fonte: Broadcast Agro

Equipe SNA

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