ILPF armazena quantidade de carbono similar à da mata nativa

Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta é capaz de acumular quantidades de carbono no solo similares aos de estoque de áreas de mata nativa em equilíbrio. Foto: Gabriel Faria/Divulgação Embrapa Agrossilvipastoril

Em apenas quatro anos agrícolas, o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) foi capaz de acumular quantidades de carbono no solo similares aos do estoque de áreas de mata nativa em equilíbrio. A avaliação é resultado de uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa Agrossilvipastoril (MT), que monitorou três diferentes sistemas de ILPF: uma área com sistema agropastoril (ILP) e duas com sistema agrossilvipastoril (ILPF), sendo uma delas com renques de árvores espaçados em 50 metros e outra em 15 metros.

Os resultados mostraram que após dois anos de lavoura de feijão-caupi e milho e dois anos de pastagem com braquiária Piatã, dois dos sistemas produtivos apresentaram estoques de carbono, ou seja, de matéria orgânica, estatisticamente semelhantes ao valor mensurado na mata nativa da Área de Preservação Permanente localizada próxima ao experimento.

A mata foi utilizada como comparativo por se aproximar do ambiente natural da região. Nela, o estoque de carbono encontrado é de 75 toneladas por hectare (ton/ha).

O maior acúmulo ocorreu na ILPF com espaçamento de 50 metros, com 70,4 ton/ha. Em seguida ficou a ILP, com 69,7 ton/ha. Embora a área de ILPF com espaçamento de 15 metros não tenha alcançado estoque similar ao da mata, já possui valores bem próximos, com 65,5 ton/ha.

“A literatura científica mostra que, de forma geral, o tempo necessário para que haja mudanças usando sistemas mais conservacionistas é de oito a dez anos e demora em torno de 20 anos para recuperar esse solo. Aqui demoramos apenas quatro anos para ter valores similares ao do ambiente natural”, destaca o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Eduardo Matos.

Ele ressalta ainda que a área avaliada foi desmatada em 1984 e tem um histórico de cerca de 30 anos com agricultura em cultivo tradicional e semeadura direta antes da implantação dos sistemas integrados.

 

PRESENÇA DA BRAQUIÁRIA

De acordo com Matos, a presença da braquiária no sistema produtivo ajuda a explicar a rapidez do processo de recuperação do estoque de carbono no solo: “A partir do momento em que o produtor faz a rotação de culturas, ele tem uma lavoura sendo adubada e na sequência, uma pastagem.”

Conforme o especialista, essa pastagem tem o potencial de recuperar boa parte dos nutrientes adicionados ao solo e que a lavoura não conseguiu utilizar. “O capim aparece com vigor e capacidade de produção muito maiores. Assim obtém-se um volume de biomassa aportado muito maior, tanto na parte aérea da planta quanto em volume de raízes.”

Outro fator percebido é que a presença de árvores no sistema produtivo contribui para aumentar o estoque de carbono. A interação dos componentes e o fato de a árvore ter raízes ainda mais profundas que as braquiárias complementam o aporte de matéria orgânica. Porém, a presença de árvores em espaçamento mais estreito, reduzindo a entrada de luz, provoca o menor acúmulo de matéria orgânica.

“A sombra é interessante? Sim. Mas deve haver um equilíbrio entre o excesso de sombra e a ausência dela”, destaca Matos.

 

PRÓXIMOS PASSOS

O acúmulo de carbono significa que o solo está com mais matéria orgânica. Essa condição contribui para a melhoria da estrutura do solo e de suas características físicas, químicas e microbiológicas.

“A matéria orgânica está diretamente relacionada à capacidade de troca catiônica do solo (CTC). Se há mais matéria orgânica, ou maior CTC, a fertilidade do solo é maior, pois essa CTC irá reter mais nutrientes, disponibilizando-os para as plantas”, explica Eduardo Matos.

Outro benefício do maior estoque de carbono no solo é o aumento da capacidade de retenção de água, resultando em maior disponibilidade hídrica para as plantas.

Esses primeiros dados fazem parte da pesquisa de mestrado da estudante Fernanda Gregolin, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Outros dados e informações ainda serão gerados no âmbito da pesquisa coordenada por Eduardo Matos.

De acordo com o pesquisador, um dos objetivos da continuidade das avaliações é encontrar o ponto de equilíbrio da integração lavoura-pecuária-floresta. Assim como ocorre com a vegetação nativa, é esperado que o sistema chegará a um estágio em que o acúmulo de carbono no solo será igual à taxa de decomposição dessa matéria orgânica, que é emitida em forma de CO2.

“Assim como a mata tem um equilíbrio, todos os sistemas de produção tendem a se equilibrar. Quando eu mudo o sistema em um local, inicialmente ele muda toda a dinâmica de carbono. Após um tempo, tem-se um novo equilíbrio”, afirma.

 

Fonte: Embrapa Agrossilvipastoril 

 

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