IFC pretende manter investimentos em agroindústrias brasileiras

A despeito das restrições de crédito que rondam o campo brasileiro, o IFC, braço de financiamentos corporativos do Banco Mundial, pretende no mínimo manter o ritmo de avanço de suas operações no setor de agronegócios no país. A instituição já vem fechando de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões por ano em novos negócios nessa frente, a maior parte nas áreas sucroalcooleira e de proteína animal.

No exercício que se encerrará em junho de 2015, a instituição deverá aplicar ao menos US$ 150 milhões, dos quais 80% já foram desembolsados. São três projetos, dois dos quais sucroalcooleiros. Uma das operações foi um aporte em troca de participação acionária (equity) na Biosev, controlada pela francesa Louis Dreyfus Commodities. O IFC injetou em fevereiro passado US$ 50 milhões e adquiriu 5% do capital da companhia, segunda maior produtora de açúcar e etanol do País.

Outra operação de peso neste ano fiscal foi um financiamento à Delta Sucroenergia. Os recursos, de US$ 80 milhões, integraram um amplo programa de investimentos da empresa. Esse programa, que contou com R$ 250 milhões do BNDES, tem como principal ação um aumento da capacidade de cogeração de energia elétrica a partir do bagaço de cana.

“O terceiro projeto, de US$ 20 milhões, deverá ser aprovado no fim de junho. É de uma empresa do segmento florestal”, disse ao Valor Luiz Daniel Campos, executivo responsável por agronegócios na IFC Brasil.

A expectativa da instituição é que sua carteira de agronegócios alcance US$ 560 milhões no Brasil até o fechamento do ano ­fiscal 2015, em 30 de junho, incluindo investimentos por meio de outras instituições financeiras. Desse montante, cerca de US$ 380 milhões serão em aportes diretos do IFC.

No fim do último ano fiscal, em junho de 2014, o IFC detinha no Brasil uma carteira de US$ 4.3 bilhões, considerando todos os setores financiados. Desse total, US$ 315 milhões eram de projetos no agronegócio, sendo US$ 250 milhões referentes a aportes diretos da instituição. “Considerando a importância do agronegócio no Brasil, talvez esse volume ainda seja pequeno. Mas somos muito criteriosos nas análises de sustentabilidade dos projetos e não terceirizamos esse trabalho de auditoria. Tudo é feito pelas nossas próprias equipes”, afirmou Campos.

Aproximadamente 40% do montante aplicado no agronegócio no exercício findo em julho de 2014 foi aplicado em operações de açúcar e etanol, informou o executivo. O segmento de proteína animal participou com cerca de 30% desse total e o restante foi distribuído a outros segmentos.

De acordo com Campos, fazem parte dessa carteira desde projetos ligados à atividade primária no campo (agricultura e pecuária) até indústrias de transformação. Além de financiamentos convencionais, para investimento, capital de giro, prestação de garantias e exportação, o IFC também injeta recursos em troca de participações acionárias, como no caso da Biosev.

Atualmente, metade da carteira do banco no agronegócio brasileiro está estruturada em equity e a outra metade, em dívida. Além dos 5% que tem na sucroalcooleira, a instituição é dona de 2,5% na Minerva Foods, que tem foco em carne bovina.

Com uma atuação em 184 países, o IFC fez seu primeiro investimento no Brasil em 1956, lembrou Campos. As operações não oferecem taxas de juros subsidiadas ou mais baixas quer as oferecidas no mercado. O diferencial das linhas do IFC é o prazo, geralmente superior a cinco anos ­ algo ainda não tão usual em mercados como o Brasil. “A média da nossa carteira do agronegócio é de oito anos”, disse ele.

Somente o BNDES costuma oferecer linhas de mais longo prazo, mas com restrições diferentes das adotadas pelo IFC. “Somos complementares ao BNDES. O banco de fomento nacional não financia, por exemplo, aquisição de equipamentos importados, nem compra de terras e de empresas. O IFC não faz essas restrições”, detalhou Campos.

Todas as operações passíveis de receber recursos do IFC passam por diligência, feita por uma equipe própria do banco. São verificadas as condições de sustentabilidade financeira e operacional da empresa demandante, bem como seus processos sócio­ ambientais. “Ser financiado pelo IFC funciona como uma espécie de carimbo de adoção das melhores práticas. Nosso objetivo é estar à frente dos bancos tradicionais, mostrando para o mercado os melhores padrões”.

O processo de seleção é detalhado, com visitas in loco para verificar as condições do trabalho da companhia. As operações também não podem ser inferiores a US$ 20 milhões. No caso das usinas de cana­ de ­açúcar, que hoje formam a maior parte da carteira da instituição no agronegócio, são observados o impacto na biodiversidade no caso de projetos de expansão de capacidade, assim como as condições de saúde e proteção ao trabalhador e o atendimento às legislações trabalhista e ambiental.

O banco também verifica outros quesitos, como tratamento de efluentes e destinação de resíduos. “O que eu posso dizer é que a parte trabalhista no Brasil é muito avançada”. No agronegócio, setor no qual inclui alimentos e bebidas, o IFC somente não financia os segmentos de fumo e bebidas alcoólicas. As empresas financiáveis, entretanto, também podem ser alvo de condicionantes para receber recursos. No caso de produtoras agrícolas, por exemplo, são fechados acordos para estabelecer um plano de eliminação gradual do uso de determinados agrotóxicos que tenham níveis de toxidade acima do permitido pela ONU.

“Não esperamos que as empresas estejam fazendo tudo 100% certo. Mas é estabelecido um plano de readequação com a expectativa de que as melhores práticas sejam aplicadas dentro dos prazos”.

 

 

Fonte: Valor Econômico

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