Identificada molécula que atrai inseto transmissor do greening, pior doença da citricultura

Sintomas visíveis do greening podem ser notados pela presença de ramos com folhas amareladas, que contrastam com a coloração verde normal das partes sadias das plantas. Foto: Divulgação

O Fundecitrus, em parceria com a Universidade da Califórnia (UCDavis) e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), identificou feromônio que atrai o psilídeo Diaphorina citri, inseto transmissor do greening (huanglongbing/HLB), pior doença da citricultura mundial.

Os feromônios são compostos sintéticos idênticos aos produtos naturais, não poluentes e geralmente não tóxicos que podem ser usados de muitas maneiras, como para monitorar, atrair, matar ou causar confusão sexual em insetos.

No caso do psilídeo, a molécula identificada causa sua atração e, no futuro, poderá ser utilizada em armadilhas adesivas, principal método de monitoramento do inseto, o que proporcionará aumento da captura do psilídeo.

De acordo o gerente geral do Fundecitrus Juliano Ayres, a detecção deste feromônio é um avanço nas pesquisas que têm como objetivo principal o controle do greening.

“Essa descoberta pode revolucionar o monitoramento do psilídeo, que atualmente é dificultado por conta da migração do inseto e por voar longas distâncias. As armadilhas são uma ferramenta eficiente em seu manejo, mas o acréscimo do feromônio e a consequente maior captura irão contribuir com a realização de um controle mais assertivo e com a redução da disseminação do greening”, relata Ayres.

A DOENÇA

O greening é a doença mais prejudicial da citricultura brasileira porque impacta diretamente a sanidade e a produtividade dos pomares. O primeiro foco no País  foi detectado em 2004 e, desde então, é observado em todas as regiões produtoras de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

De acordo com a Basf, duas bactérias causam o greening: Candidatus liberibacter asiatius e Canidatus liberibacter americanos. Ambas são transmitidas pelo inseto psilídeo Diaphorina citri, que se alimenta nas folhas e ramos verdes das brotações.

Conforme a Basf, no início, os sintomas visíveis do greening podem ser notados pela presença de ramos com folhas amareladas, que contrastam com a coloração verde normal das partes sadias das plantas.

O principal prejuízo causado pela presença da bactéria é a perda de produtividade. “Se uma planta estiver completamente infectada, seu potencial produtivo pode cair para apenas 25%. Em termos qualitativos, os prejuízos podem ser ainda maiores, o fruto afetado não amadurece, fica menor e deformado. O suco das frutas também pode ficar com um sabor amargo”, informa a Basf.

INVESTIMENTO

O Fundecitrus investiu R$ 1,5 milhão na busca da identificação do feromônio, valor utilizado nas pesquisas feitas pela própria instituição e UCDavis e Esalq/USP. O estudo também contou com o apoio financeiro da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Os testes foram realizados no laboratório de Ecologia Química e Comportamento de Insetos do Fundecitrus, inaugurado em 2010, onde os estudos são voltados para a identificação de compostos voláteis atraentes ou repelentes ao psilídeo, e também nas universidades parceiras. Depois, eles foram levados para o campo e foi confirmada a eficácia na atração do inseto.

De acordo com o pesquisador Walter Leal (UCDavis), com 30 anos de experiência na identificação de feromônios, este foi o mais complexo de sua carreira.

“O comportamento do psilídeo é muito instável e difícil de compreender, por conta disso muitas vezes pensamos que não conseguiríamos chegar nesse resultado. Sem dúvidas, é uma grande conquista para a ciência e para a citricultura”, informa.

O pesquisador José Maurício Simões Bento, do departamento de Entomologia da Esalq/USP, destaca a importância da parceria para a identificação do feromônio.

“O resultado é fruto do esforço e da união dessas instituições para avançar na pesquisa. A fase mais difícil e complexa foi alcançada”, diz Bento.

PRÓXIMOS PASSOS

Os próximos passos do estudo são detectar a formulação ideal do feromônio para ser disponibilizado nas armadilhas e analisar se há outros compostos que podem agir de forma semelhante. O pesquisador do Fundecitrus Haroldo Xavier Linhares Volpe, um dos responsáveis pelo estudo, destaca que essas avaliações são necessárias para transformar o composto em um produto.

“A identificação do feromônio é um passo importante na pesquisa, mas novos estudos devem ser realizados para torná-lo comercializável em armadilhas”, diz Volpe.

BICHO FURÃO: UM CASO DE SUCESSO

A parceria entre Fundecitrus, Esalq/USP e o pesquisador Walter Leal alcançou um feito de sucesso também no início dos anos 2000, quando passaram a estudar os hábitos do bicho furão e seu ciclo de reprodução. As informações levaram à sintetização do feromônio sexual do inseto, além do estabelecimento de estratégias para a sua utilização no campo.

Em novembro de 2001, a armadilha com o feromônio sintético passou a ser comercializada pela Coopercitrus. O uso das armadilhas com isca de feromônio para o monitoramento do bicho furão evitou perdas da ordem de até US$ 1,32 bilhão, desde a sua disponibilização no mercado até 2013, de acordo com pesquisa da Esalq/USP.

Fontes: Fundecitrus e Basf com edição d’A Lavoura

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