Produto oriundo do húmus, mais conhecido como vermicomposto, pode exercer atividades bioestimulantes responsáveis pelo crescimento vegetal, aumentando a produtividade em até 20%. É o que aponta uma pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O húmus é o produto que resulta da técnica de compostagem, pelo qual minhocas aceleram o processo de degradação da matéria orgânica. Outro produto resultante deste método é o chorume (ou lixiviado), um líquido que, quando diluído em água, pode ser aproveitado como biofertilizante.
É importante ressaltar que produtos de ação bioestimulante não necessariamente atuam como fertilizantes, mas como potencializadores de sua ação e, por isto, funcionam melhor em situações em que o solo conta com uma nutrição adequada e balanceada.
“Nestas condições, foi observado um aumento de produtividade de 5% até 20%, dependendo da espécie”, informa o agrônomo Daniel Zandonadi, que pesquisa a ação do húmus líquido na fisiologia das plantas, principalmente hortaliças.
FERTILIZANTE ORGÂNICO
Além de ser um importante fertilizante orgânico e fornecedor de nutrientes essenciais para o desenvolvimento da planta, o húmus possui moléculas semelhantes à auxina, um hormônio vegetal que contribui para o enraizamento mais vigoroso, com maior quantidade de pelos absorventes e raízes laterais. A vantagem de se aumentar a área superficial das raízes das plantas está relacionada à maior facilidade de absorção de nutrientes e de água, o que torna as plantas mais tolerantes à seca.
Existem outras categorias de substâncias com ação bioestimulante, entre elas os inoculantes microbianos (bactérias, fungos, leveduras), aminoácidos ou hidrolisados de proteínas e extrato de algas. Em geral, os bioestimulantes comerciais vêm sendo usados para elevar a tolerância das plantas aos estresses ambientais, melhorando a eficiência de absorção de nutrientes.
Nas pesquisas do Laboratório de Nutrição de Plantas da Embrapa Hortaliças (DF), o húmus foi produzido por meio da decomposição de restos vegetais, especialmente hortaliças e frutas, pelas minhocas. No processo, foi observada uma concentração desejável de auxina.
UTILIZAÇÃO CRITERIOSA
Nesta fase, foi constatado que a quantidade do hormônio vegetal presente no húmus exerce um efeito positivo nas plantas. “Porém, a utilização deste fertilizante não deve ser trivial, visto que uma concentração inadequada pode causar efeitos inibitórios ao invés de ação estimulante. Assim, recomendações específicas são necessárias para evitar resultados indesejáveis para o agricultor, como inibição do crescimento vegetal e da absorção de nutrientes”, pondera o agrônomo Daniel Zandonadi.
Para definir o mecanismo de ação do bioestimulante, proveniente do vermicomposto, e comprovar os efeitos
benéficos para o desenvolvimento das plantas, uma enzima chamada ATPase foi a chave para a resolução do problema. Sua ativação é indispensável para o enraizamento das plantas e, por isto, a enzima foi o ponto de partida para observar a atividade bioestimulante do húmus líquido.
De acordo com Zandonadi, o grande diferencial do estudo foi a proposição de um método rápido e simples de detecção da atividade bioestimulante do vermicomposto. “O processo de identificação da auxina é complexo e difícil de ser realizado em larga escala. Por isto, adaptamos um método para relacionar o aumento da atividade da enzima ATPase às ações bioestimulantes do hormônio vegetal auxina presente no húmus”, explica.
A partir de procedimentos bioquímicos realizados em laboratório, foi possível confirmar que os produtos testados ocasionaram a ativação da enzima ATPase. “A proposta de mecanismos de ação para bioestimulantes desta natureza passa pela ativação desta enzima que, por sua vez, vai estimular a absorção de nutrientes e o enraizamento vigoroso. Em linhas gerais, se a enzima for ativada, é sinal de que há atividade bioestimulante no húmus”, informa o agrônomo.
Para ele, as perspectivas futuras consistem em compreender os mecanismos de ação de variados fertilizantes orgânicos para, depois, propor à comunidade científica métodos para identificar as ações supostamente estimulantes destes produtos.
MORANGO POR TRÊS ANOS ININTERRUPTOS
Fertilizantes orgânicos alternativos, fáceis de cultivar nas propriedades rurais e de alto valor nutricional e biológico, são muito demandados por horticultores que optam pela produção de base ecológica. A utilização de húmus líquido, aplicado via fertirrigação ou por pulverização foliar, pode contribuir para o melhor desenvolvimento e maior produtividade de hortaliças.
O produtor orgânico de morango Carlos Castro, do Distrito Federal, teve um resultado muito satisfatório ao adicionar o húmus líquido na água de irrigação por gotejamento da lavoura suspensa da fruta. “Além de a produtividade ter aumentado em torno de 40%, as plantas de morango, que possuem uma longevidade aproximada de um ano, ficaram três anos produzindo sem interrupção”, comemora o agricultor, acrescentando que as plantas são saudáveis e sem deficiência de qualquer nutriente.
Para o agrônomo Daniel Zandonadi, o emprego do húmus líquido resulta em um aumento de produtividade porque, além de fornecer todos os nutrientes que a planta precisa para completar seu ciclo, também contribui para a melhoria das condições do solo, principalmente em relação às características físicas, químicas e biológicas, que são deterioradas com as técnicas intensivas de preparo e manejo do solo.
“Somado a isto, há ainda a ação bioestimulante de moléculas promotoras do crescimento, que facilitam a ativação de mecanismos da planta responsáveis pela absorção dos nutrientes”, sintetiza o especialista. Ele ainda pontua que para reduzir o impacto ambiental das atividades agrícolas, “é preciso adotar práticas que contribuam para a sustentabilidade dos sistemas produtivos”.
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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 714/2016