Não é exagero dizer que uma ajuda preciosa para a economia veio do céu. As chuvas acima do previsto para maio, em algumas regiões, trouxeram refresco para o setor agrícola, cujo resultado positivo deve ajudar a evitar uma queda maior do PIB brasileiro. “O agronegócio é a tábua de salvação da economia do país e ainda será a grande mola propulsora do desempenho em 2015”, afirma o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura, Hélio Sirimarco. Nesta entrevista, ele fala sobre as adversidades do campo e diz que o risco de segurança alimentar foi afastado, mas alerta para necessidade de troca de culturas por outras mais resistentes.
Segundo previsão da FAO, até 2050, a produção mundial de alimentos terá de crescer 70% para dar conta do aumento populacional. Como está a produção brasileira?
Em um recente relatório sobre as perspectivas agrícolas globais para o período de 2015 a 2024, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) avaliaram que as perspectivas para o agronegócio brasileiro continuarão positivas, mesmo se forem confirmadas as expectativas de menor expansão das demandas doméstica e internacional e de queda dos preços reais da maioria das commodities agrícolas. Nos próximos dez anos, a agricultura deverá continuar a crescer no Brasil. O uso da terra pela maioria das lavouras poderá alcançar 70 milhões de hectares, 17% mais do que a média anual usada entre os anos 2012 e 2014. Essa expansão de área deverá ser puxada pela cana (26%) e pela soja (21%).
A crise hídrica pode afetar a segurança alimentar do país?
A chuva amenizou o problema. De acordo com os números mais recentes sobre o setor agropecuário, a situação se normalizou e não há indicação de risco.
Como reduzir os impactos das mudanças climáticas na agricultura?
Com sementes mais resistentes e mecanismos eficientes de proteção do produtor, como o seguro agrícola.
Quais as expectativas para o setor nos próximos meses, tendo em vista que alguns reservatórios permanecem no vermelho e o período de estiagem está só no começo?
As expectativas são boas para a segunda safra de milho, que começa a ser colhida, e para a safra de trigo que está sendo plantada. A safra de milho, por exemplo, apesar da redução da área e do atraso do plantio, deverá ser recorde (mais de 50 milhões de toneladas), pois o tempo foi perfeito nas principais regiões produtoras.
A crise hídrica e a instabilidade na produção de alimentos gerada pelas mudanças climáticas indicam a necessidade de repensar o modelo agrícola do país?
O aumento da produção agrícola brasileira, com redução do uso de agrotóxicos, exige substituição do modelo de produção adotado no país. Já existem tecnologias para produzir alimentos de forma mais ecológica, mas é preciso incentivo estatal para adotá-las. Em recente pesquisa, a Embrapa propôs a viabilidade da redução de 50% dos defensivos usados na cultura da soja, com a adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Na safra 2013-2014, o Brasil utilizou aproximadamente 140 milhões de litros de inseticidas ao custo de cerca de US$ 2,5 bilhões para o controle de pragas apenas da soja. E a sensação é a de que poderíamos gastar muito menos.
Já está havendo uma troca de cultura por outras mais resistentes?
Há sempre uma busca constante por sementes mais resistentes às condições climáticas adversas. A Embrapa e o Centro Tecnológico para Pesquisas Agropecuárias (CTPA) lançaram no final de abril cinco cultivares (sementes) de soja desenvolvidas especialmente para adaptação à região Central do Brasil.
E como estão os custos para o produtor?
Esse é um problema sério. A inflação e o dólar afetam diretamente o custo de produção. O aumento no valor dos combustíveis e dos insumos também contribui para significativa elevação do custo. O produtor também precisa realizar um levantamento de preços prévio dos insumos que serão utilizados, fazer pesquisa com atenção.
Em meio à crise econômica e expectativa de retração do PIB, o que esperar do agronegócio em 2015?
O agronegócio é a tábua de salvação da economia do país e ainda será a grande mola propulsora em 2015. O agro deve ser o único segmento com elevação mais expressiva neste ano.
Fonte: Hoje em Dia, 23/06/15