Guerra comercial entre EUA e China pode oferecer riscos ao agro do Brasil em longo prazo

Guerra comercial anunciada entre EUA e China pode representar um benefício imediato para o agro brasileiro, com o aumento das vendas nacionais de grãos para o mercado chinês, mas seria prejudicial em médio e longo prazos. Foto: Divulgação

A guerra comercial anunciada entre Estados Unidos e China pode representar um benefício imediato para o agronegócio brasileiro, com o aumento das vendas nacionais de grãos para o mercado chinês. Mas em médio e longo prazos, essa disputa pode não ser tão benéfica em função da constatação de que a China vem trabalhando para diminuir sua dependência da compra de soja, por exemplo.

Atualmente, o país asiático só produz 15% de sua necessidade, mas vem investindo em projetos de dessalinização de água e em energia solar para ampliar sua produção. Além disso, há a expectativa de que, no longo prazo, a esperada desaceleração econômica mundial acabe por afetar o crescimento de renda chinês, o que reduziria sua demanda.

Essa foi uma das avaliações do painel sobre “Comércio Exterior: Limites e Oportunidades”, durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio – Abag e B3, realizado hoje (6 de agosto), em São Paulo.

“Sabemos que o consumo de proteína é função do aumento de sua renda per capital. Na China, há ainda um grande potencial de expansão que pode ser comprometido por um provável declínio econômico mundial causado pela disputa comercial”, afirmou Nelson Ferreira, sócio da Mckinsey.

RISCOS PARA A SOJA

Outro risco a ser enfrentado pelo Brasil com a disputa entre China e EUA é faltar derivados de soja no mercado doméstico para abastecer a indústria de proteína animal.

“Como a China importa 70% do mercado mundial de soja e tem potencial para sugar toda a produção sul-americana. Isso pode criar um problema para a indústria de carne, pois se vendermos toda nossa soja para China, talvez teremos de importar derivados de soja para atender a demanda interna”, avaliou Paulo Sousa, diretor da Cargill, que ainda ressaltou a importância da competitividade para o agronegócio brasileiro.

“Eu diria que competitividade está ligada a previsibilidade. Tanto nas fronteiras nacionais, quanto globalmente, estamos com muita imprevisibilidade, o que atrapalha nossa competividade”, concluiu Sousa.

Diretor de Marketing da Bayer, Mauro Alberton corrobora com a opinião do diretor da Cargill, ao afirmar que a imprevisibilidade atrapalha as questões globais, afetando muito a agricultura brasileira.

“Essa imprevisibilidade das regras do jogo pode trazer uma paralisação que seria muito prejudicial, interferindo em investimentos globais”, afirmou o executivo.

MULTILATERALISMO

Diretor de Agricultura e Commodities da OMC (Organização Mundial do Comércio), Edwini Kessie,  que também participou do painel, defendeu a previsibilidade que, em seu entendimento, provêm do multilateralismo. “Precisamos voltar ao básico nas relações comerciais entre as nações”, disse.

“Partilho do otimismo do diretor da OMC, pois o multilateralismo é inevitável no mundo das regras comerciais”, analisou o embaixador Alexandre Parola, representante permanente do Brasil na OMC.

Para ele, sempre foi muito difícil avançar nas questões agrícolas. “Além disso, há ainda a discussão sobre problemas fitossanitários. Isso deve estar nos debates futuros”, avisou Parola.

Fonte: Assessoria de comunicação do Congresso Abag e B3 com edição da Revista A Lavoura, apoiadora do evento, via SNA

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