Começa nesta semana um novo capítulo da guerra comercial entre China e Estados Unidos e a soja segue no coração da disputa. Uma nova rodada de conversas que aconteceria nesta semana, em Washington, foi cancelada pela nação asiática. O mercado global volta a avivar o sentimento de que está cada vez mais distante um acordo entre as duas mais importantes economias do mundo.
Segundo informações da Bloomberg, as conversas não deverão ser retomadas, ao menos até as eleições de meio de mandato que acontece nos EUA em novembro.
A Casa Branca ainda não deu uma resposta oficial ao cancelamento. Porém, pouco antes do jornal Wall Street Journal informar sobre a ação da China, um líder norte-americano teria feito uma declaração de que essa falta de ação da nação asiática poderia tornar as coisas ainda piores.
Estão previstas para entrar em vigor nesta segunda-feira as novas tarifas de mais US$ 200 bilhões sobre bens chineses pelos EUA. A tarifa inicial é de 10%, mas pode chegar a 25% no ano que vem. E o presidente americano Donald Trump já ameaçou uma nova tarifação de mais US$ 267 bilhões.
“Seria ‘pedir por um insulto’ levar adiante as negociações com os Estados Unidos depois de o país ter anunciado novas sanções e tarifas. No longo prazo, as conversas até poderão ser retomadas, porque essa guerra comercial não irá durar milhares de anos”, disse Shi Yinhong, professor de relações internacionais na Universidade Renmin da China à Bloomberg.
Em entrevista concedida à Fox News, Trump disse que “é hora de tomar uma posição sobre a China”. “Não temos escolha. Já faz muito tempo e eles estão nos prejudicando”.
No agro
Enquanto se intensifica e desenvolve a guerra comercial, o comércio global de produtos agrícolas continua a sentir os impactos da disputa, com participantes dos dois lados buscando alternativas. Em uma análise feita pela Bloomberg, especialistas resumiram o quadro dizendo que “a guerra divide o mundo agrícola enquanto a demanda chinesa muda”.
No centro das discussões, o mercado da soja. Enquanto os preços seguem pressionados na Bolsa de Chicago, os prêmios na Argentina e, principalmente no Brasil, continuam a se aquecer. Entre os processadores, esses baixos valores favorecem os norte-americanos, enquanto ajustam as margens dos brasileiros.
É importante ressaltar que entre os dias 29 de maio e 19 de setembro, o vencimento novembro/18 (referência para a safra norte-americana) caiu de uma máxima de US$ 10,60 ½ para uma mínima de US$ 8,13 ¼, o que representa uma perda de US$ 90,84 por tonelada.
Na Argentina, assim como acontece no Brasil, os prêmios da soja também têm subido de forma bastante intensa, chegando a alcançar US$ 2,20/bushel sobre as cotações de Chicago, ficando US$ 0,30 acima do mesmo valor do ano passado, nesse período, ainda segundo a Bloomberg.
Subida dos prêmios na Argentina – Fontes: Commodity 3 + Bloomberg
E com uma demanda aquecida e momentos atraentes de comercialização, os argentinos foram ainda importar soja dos Estados Unidos para atender às ordens de compra da China. A oferta local, afinal, era insuficiente para atender à essa demanda maior, uma vez que as condições severas de seca resultaram em uma perda maior do que 30% na temporada 2017/18.
No Brasil, os preços da soja têm subido de forma bastante consistente com um suporte dos prêmios sem precedentes. Em alguns casos, os ganhos passam dos 200% em relação ao ano passado, diante de uma demanda muito intensa da nação asiática. A oferta local também é ajustada. Os estoques finais deverão ser quase nulos no início de 2019 e as exportações disputam agora os poucos volumes disponíveis com a demanda das indústrias locais.
Para as esmagadoras brasileiras, as margens de esmagamento, diante dos altos preços, estão bem ajustadas e, em alguns casos, já chegaram a se tornar negativas.
Redução das margens de esmagamento da soja no Brasil – Fontes: Cepea + Bloomberg
Nos portos, os preços da saca de soja chegaram, há alguns dias, a alcançar R$ 100,00 no mercado. A partir desse momento, porém, os negócios com o restante do produto disponível deverão adotar um ritmo mais limitado, com os produtores esperando por valores melhores.
O mercado da soja no Brasil continuará mostrando pouco movimento na safra velha, onde os produtores que têm o grão irão segurar à espera de momentos mais favoráveis à frente ou apostar mais no grão nas mãos do que no dinheiro no banco, usando a soja como ativo financeiro. “Enquanto isso, se ocorrer um novo movimento de alta em Chicago, poderemos ter mais uma onda de negócios”, disse o consultor Vlamir Brandalizze.
No acumulado deste ano, o Brasil já embarcou até o dia 14 de setembro, 66.5 milhões de toneladas da oleaginosa, contra 68.2 milhões de toneladas em todo o ano passado.
O fato é que a comercialização brasileira da soja está bem avançada e já não restam grandes volumes para serem negociados. “E tudo aponta que neste mês de setembro o recorde histórico registrado no ano passado será quebrado com três meses de antecedência antes de fechar o ano”, disse o consultor.
Nos Estados Unidos, os prêmios estão negativos em alguns locais. Dados do governo mostraram que, na última sexta-feira, a soja spot perdia US$ 0,07 por bushel no Golfo, principal canal de escoamento da soja americana. Em contrapartida, essa queda nas referências internas têm proporcionado aos processadores do país suas melhores margens em anos.
Prêmios para soja spot no Golfo – Fontes: USDA + Bloomberg
Dados do CME Group mostram que durante a maior parte deste ano as margens de processamento da soja nos Estados Unidos apresentam tendências bastante positivas, e algumas das mais lucrativas de desde 2006. Para esta época do ano, a margem é a mais alta em mais de dez anos, segundo a Bloomberg.
Subida das margens de esmagamento de soja nos EUA – Fonte: CME Group + Bloomberg
Além disso, os baixos preços para a soja americana praticados na Bolsa de Chicago já atraem outros compradores extra-China que têm mantido aquecido o ritmo da demanda pelo produto americano. Somente nesta segunda-feira, o USDA anunciou a venda de 162.000 toneladas de soja da safra 2018/19 para destinos não revelados.
Fonte: Notícias Agrícolas