Um projeto que quase fracassou sofreu ajustes e se transformou novamente em um negócio com perspectivas promissoras. É que o se pode dizer da empreitada do grupo paranaense Fumagalli no segmento de armazéns para grãos.
Em 2016, o empresário Alfredo Fumagalli, controlador do grupo que atua em construção civil, criou um plano para vender cotas de terminais a serem construídos a investidores, produtores rurais e cooperativas. O negócio não deslanchou, mas Fumagalli insistiu e acaba de assinar um acordo com as chinesas HNA Modern Logistic e Yangtze River Development para tentar tirar do papel 30 terminais de armazenagens em Mato Grosso, com investimentos de R$ 1.5 bilhão.
Segundo Fumagalli, a HNA, que no Brasil já é acionista da empresa de aviação Azul e recentemente comprou a participação da Odebrecht no aeroporto do Galeão, no Rio, e a Yangtze, operadora de uma zona de livre comércio no porto chinês de Wuhan, firmaram acordo para comprar participação em um fundo de investimento criado por ele para fomentar o projeto de armazenagem.
O fundo, denominado NovaLog FIP, está registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e tem como objetivo implantar os terminais, cada um com capacidade para 60.000 toneladas de grãos. Pela estrutura criada, o grupo Fumagalli detém 21,26% das cotas do fundo, que, por sua vez, comprará cotas da recém-criada NovaLog S.A., que será a responsável pelo gerenciamento dos armazéns. As fatias dos chineses no novo fundo não foi divulgada.
De acordo com Fumagalli, outro conglomerado chinês, o Herun Group, também mostrou interesse na empreitada, mas ainda não comprou participação no fundo. O Herun atua nas áreas de construção de navios, processamento de grãos, logística e energia, entre outras. Nesta semana, o empresário participa de um road show no país asiático em missão que conta com a presença do governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PDT-MT).
Pelo projeto do empresário, cada terminal de armazenagem incluirá dois tombadores, transportadores, elevadores, secadores, máquinas de limpeza, moega, pátio de estacionamento e parte administrativa. O custo de cada um é estimado em R$ 50 milhões. “Para nos adaptarmos ao interesse dos investidores chineses tivemos de mudar a escala do projeto para, num primeiro momento, implantarmos esses 30 terminais de armazenagem, triplicando o investimento”, disse.
No projeto inicial, que não deslanchou, Fumagalli criou uma empresa (RoyaLog) que seria responsável pela construção de dez armazéns em Mato Grosso, a um custo total de R$ 500 milhões. Seriam vendidas cotas desses terminais, e o pagamento, a menor das cotas custaria R$ 31.250,00, aconteceria por meio da aquisição de bônus de subscrição que seriam transformados em ações preferenciais da RoyaLog. A rentabilidade mínima prometida era de até 20% ao ano aos investidores.
“Não posso dizer que não tivemos interessados, mas menos do que prevíamos. No Brasil, o produtor não tem cultura de investir em armazenagem. Se tem dinheiro, compra terras, e se vai buscar financiamento, compra máquinas”, disse Fumagalli. A RoyaLog não foi desfeita, mas atenderá a “interesses pontuais” do novo modelo de negócio.
Tanto o projeto inicial quanto o novo preveem que os sócios terão preferência para o uso dos terminais armazenadores, mas pagarão normalmente pelos serviços de descarga, secagem, limpeza, armazenagem e expedição. “Os chineses querem saber onde está a soja e quanto eles têm disponível. Por isso querem controlar armazéns”, disse.
Até o momento, o fundo criado pelo empresário conta com dois terrenos comprados para começar a construção dos terminais. Um deles fica em Brianorte, no município de Nova Maringá, a 305 quilômetros de Cuiabá, e é onde já deveria ter sido construído um armazém, conforme o projeto inicial. O segundo terreno fica em Santiago do Norte, na cidade de Paranatinga, região central de Mato Grosso. “A área é extremamente bem localizada, a 1.000 metros do terminal que será construído pelas Ferrovias Integradas do Centro Oeste”.
Outros 12 terrenos já foram escolhidos para aquisição, num processo que levou em consideração suas posições geográficas e a proximidade com terminais ferroviários. Também pesaram na escolha áreas de “novas fronteiras agrícolas”, isto é, que têm potencial de crescer na produção de grãos. Com atuação na construção de armazéns e silos e outras áreas da construção civil, o grupo Fumagalli faturou aproximadamente R$ 150 milhões no ano passado.
Fonte: Valor Econômico