Gripe aviária preocupa, mas também mostra preparo do setor ao lidar com questões sanitárias

Desde a detecção de um inédito foco de gripe aviária em granja comercial no país, produtores e autoridades vem agindo com rapidez, transparência e firmeza ao enfrentar o problema. Foto: Pixabay – BernhardJaeck

Assunto tem sido abordado com transparência e agilidade

Desde a detecção de um inédito foco de gripe aviária em granja comercial no país, produtores e autoridades vem agindo com rapidez, transparência e firmeza ao enfrentar o problema.  Como é praxe em ocorrências assim, diversos países suspenderam temporariamente a compra de carne de frango e ovos brasileiros. Inicialmente, esse embargo ficou restrito ao Rio Grande do Sul, onde surgiram os primeiros casos. Alguns compradores decidiram parar com os embarques de todo o país. Isso depende de acordos sanitários bilaterais dos quais o Brasil é signatário.

Com a confirmação, que aconteceu no município gaúcho de Montenegro, autoridades e produtores estabeleceram barreiras sanitárias, aéreas de isolamento e desinfecção, testagem em massa de outras localidades suspeitas e monitoramento de quem teve contato com os animais infectados. A gripe aviária já foi detectada em humanos anteriormente, mas não há histórico de transmissão entre pessoas.

Além disso, a declaração de emergência zoosanitária permite que o rastreamento em pontos próximos seja mais eficaz. Milhares de animais precisaram ser sacrificados para evitar contaminação, além do descarte daqueles já abatidos. Carnes e ovos que já tinham sido vendidos para outros estados tiveram o mesmo destino.

Não foram registrados outros casos em criações comerciais. Em Sapucaia do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, 90 aves aquáticas, entre cisnes, patos e marrecos, morreram devido à gripe no zoológico local, mas sem apresentar sintomas específicos. Enquanto o caso é investigado, o local encontra-se fechado para visitação e sem previsão de reabertura. Foram descartados, até o momento, casos suspeitos em aves de subsistência em Nova Brasilândia (MT), Graccho Cardoso (SE) e Triunfo (RS). Seguem em análise os casos em criação comercial em Ipumirim (SC) e Aguiarnópolis (TO), e de ave de subsistência em Salitre (CE).

Com efeito, o público se preocupou com o risco de consumo da carne de frango e ovos, porém especialistas e entidades de representação logo esclareceram que o consumidor não corre qualquer risco, uma vez que os produtos passam por rigorosa checagem antes de chegar às prateleiras, além do próprio processo de cozimento, que elimina eventuais impurezas. É esse cuidado que permite a descoberta da contaminação e o protocolo adotado para mitigar maiores comprometimentos da cadeia produtiva, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).

 Prejuízo inevitável, mas com perspectiva de melhora

Inevitavelmente, o impacto negativo ocorre, apesar de toda a prudência. O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo e embarcou 5, 294 milhões de toneladas do produto (in natura e industrializado) em 2024, o que gerou uma receita de US$ 9, 928 bilhões. Agora, mais de 20 destinos estão fechados para as carnes de aves de todo o Brasil e ao menos uma dezena de países e blocos suspenderam as compras da proteína produzida no Rio Grande do Sul. China e União Europeia são os embargos que mais preocupam.

Enquanto o governo se desdobra para reverter ou pelo menos flexibilizar as suspensões, a indústria vai estimando suas perdas, sem que haja consenso quanto ao montante do prejuízo. Há quem já projete extra-oficialmente, centenas de milhões de dólares por mês. No cenário interno, o preço pode sofrer uma leve queda, pelo excesso pontual de oferta. Em entrevista esta semana, o Ministro da Agricultura Carlos Fávaro afirmou que é preciso aguardar um ciclo de 28 dias sem novos casos confirmados para que o país faça uma autodeclaração à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e consiga reverter as suspensões. Ele frisou que 70% da produção do setor já fica no país.

Um momento de atuação conjunta e sem atritos

Enquanto isso, o episódio marcou um raro momento em que as bancadas parlamentares em defesa do agronegócio nacional tiveram um alinhamento com as ações de resposta do atual governo. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), através do seu presidente, deputado federal Pedro Lupion (PP – PR), elogiou os protocolos adotados e destacou a atuação conjunta do setor num momento crítico. Em suas palavras:

A FPA, a defesa agropecuária e os estados atuaram juntos para mitigar os impactos no setor. Existe um reconhecimento mundial em torno disso, diante da eficiência com que agimos para solucionar a questão. Agimos rápido, com a qualidade que se espera do agro brasileiro”.

As declarações foram dadas numa reunião da entidade, no último dia 20 de maio. Anteriormente, a FPA já havia divulgado nota oficial em que reforçava sua confiança no serviço de defesa agropecuária do Ministério da Agricultura e reconheceu sua competência técnica e eficiência em situações de emergência sanitária. Presente ao encontro, o Ministro Carlos Fávaro agradeceu o apoio recebido e se mostrou confiante na rápida superação do momento adverso. Ele disse:

Primeiro, ressaltar que, graças ao trabalho do setor agropecuário brasileiro, garantimos ao Brasil quase duas décadas sem casos no nosso país. Isso mostra a eficiência do sistema brasileiro, onde conseguimos dar respostas rápidas. É exatamente aí que está a robustez do nosso setor. O trabalho é intenso e estou tendo todo o apoio da FPA para superar os problemas”.

Evaristo de Miranda, ex  pesquisador da Embrapa, membro da Academia Nacional de Agricultura da SNA e colaborador assíduo do Portal, também esclareceu que o investimento de décadas em defesa sanitária contribuiu para que episódios assim fossem prevenidos e, quando ocorressem, a resposta viesse rapidamente. Em entrevista à TV Bandeirantes, ele destacou:

Nós temos um sistema muito eficiente na avicultura, com isolamento e vários cuidados. É um dos setores mais protegidos da agropecuária nacional. Nesse início de ano, houve quase mil casos de gripe aviária em 47 países. Então, são centenas de casos na Europa e nos Estados Unidos, onde a doença se espalhou rapidamente. O Brasil já aguardava a chegada do vírus, então havia preparo, exercícios e simulações para mitigar esse impacto. Os departamentos estaduais também tomaram todas as providências. Tivemos apenas um em granja comercial”.

Esta matéria seguirá sendo atualizada conforme os órgãos competentes deem maiores informações sobre o assunto.

Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb13.9290)  marcelosa@sna.agr.br

 

 

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp