Greve faz preço do frango disparar no país

Um dos segmentos do agronegócio mais prejudicados pela greve dos caminhoneiros, a avicultura já cobra seu preço pelos mais de 70 milhões de pintinhos sacrificados nos dez dias de paralisação. Diante da queda dos estoques no atacado e da dificuldade dos frigoríficos de se reabastecerem, a carne de frango subiu mais de 40% em junho no atacado.

A tendência é que o preço se consolide em níveis mais altos do que os vistos no primeiro trimestre do ano, sobretudo porque o alojamento de pintinhos (indicador da produção futura de carne) nas granjas caminha para bater, pelo segundo mês consecutivo, o menor volume diário nesta década.

Na prática, a greve dos caminhoneiros intensificou o movimento de redução da produção que teve início em abril por conta do milho mais caro e do embargo da União Europeia a 20 frigoríficos do país.

“Nunca produzimos tão pouco”, disse o secretário-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco), José Carlos Godoy. Conforme os dados da associação, 469.8 milhões de pintinhos foram alojados nas granjas do país em abril, com queda de 7,6% na comparação anual. Considerando os alojamentos diários, foram 15.6 milhões de aves.

Segundo o analista do Rabobank Adolfo Fontes, o fluxo de produção de carne de frango só deverá se normalizar dentro de 30 a 60 dias. O pico dos preços talvez dure apenas duas semanas, disse. Mas isso não significa que as cotações do frango ficarão bem mais baixas, ponderou.

Ainda que a alta de 40% seja momentânea e dure até que o estoque se ajuste, a redução da oferta de frango e a cotação dos grãos, principal custo de produção do setor, impulsionam os preços. Tanto é assim que, antes da greve, o frango já havia subido cerca de 15% em maio.

Pelas contas de um executivo de uma grande indústria de carne de frango do País, o alojamento de pintos de corte deve ter ficado por volta de 450 milhões de cabeças em maio. Segundo Godoy, da Apinco, os números ainda não foram fechados, mas é certo que, ao menos o volume diário será menor do que o de abril. Como o mês de maio tem mais dias do que abril, é possível que os alojamentos mensais não sejam menores, disse.

Em meio ao quadro negativo para a produção, o Rabobank revisou sua estimativa e agora prevê queda de 3% na produção brasileira de carne de frango em 2018. No início do ano, o banco holandês estimava um crescimento de 2%, segundo Adolfo Fontes. No ano passado, os frigoríficos brasileiros produziram 13 milhões de toneladas de carne de frango, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Na avaliação de Ricardo Santin, vice-presidente de mercados da ABPA, a tarifa antidumping aplicada pela China contra a carne de frango brasileira não será capaz de alterar o quadro mais apertado previsto para a oferta no mercado doméstico. Isso porque o país asiático compra principalmente pé de frango, corte pouco demandado no Brasil.

Para Santin, a tendência é que os frigoríficos brasileiros continuem vendendo aos chineses, mesmo com a rentabilidade prejudicada pelas novas tarifas. Se assim for, não haverá sobras de pés de frango. E, mesmo que os embarques à China diminuiam, os pés de frango não inundarão os supermercados, mas serão transformados em ração para cães e gatos. Em outras palavras, a China não será responsável por aliviar o preço da carne de frango para os brasileiros.

Se é negativa para os consumidores, a redução da oferta de frango pode ser uma luz no fim do túnel para os frigoríficos. “A rentabilidade da indústria acabará melhorando no segundo semestre”, disse o analista do Rabobank. De quebra, a alta dos preços do frango pode ajudar os frigoríficos de carne bovina, que sofreram ao longo do primeiro semestre deste ano para concorrer pela preferência dos consumidores.

Segundo o Rabobank, em boa parte deste primeiro semestre era possível comprar mais de três quilos de carne de frango pelo preço de um quilo de carne bovina. Agora, com a recuperação do preço da ave, essa relação caiu para cerca de 2,5 quilos de frango para um quilo de carne bovina.

 

Fonte: Valor Econômico

 

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