Granjeiros: Indústrias reduzem abate e dão férias coletivas com dificuldade no abastecimento de milho

O alto custo de produção e a queda no consumo interno tem preocupado a cadeia de frangos e suínos do País. Segundo o levantamento do Notícias Agrícolas, ao menos quatro agroindústrias já anunciaram redução na capacidade de abate, férias coletivas ou encerramento total das atividades.

Com unidades em seis estados brasileiros, a Globoaves está com dificuldade na aquisição de matéria prima para ração. Segundo a ACAV (Associação Catarinense de Avicultores) o plantio de Lindóia do Sul (SC) está paralisado há 90 dias, sem repasse aos integrados.

De acordo com fontes ligadas ao setor, a empresa estaria com dificuldade de cumprir os contratos de compra de milho, devendo cerca de R$ 60 milhões para seus fornecedores.

A indústria BR-Aves com sede em São Carlos (SP) deu férias coletivas as funcionários, visando um enxugamento na estrutura produtiva. Também em no interior de São Paulo, a integradora Itabom informou que está reduzindo a capacidade de abate em 35%, por conta da dificuldade no escoamento da carne.

Na última semana outra unidade frigorifica de aves no noroeste do Paraná informou que fechará as portas a partir de 1º de junho, deixando mais de 1.500 pessoas desempregadas.

Em nota, a empresa culpou a crise econômica, instabilidade política e os altos preços dos insumos pelo fechamento.

O documento enfatiza que “a situação não é exclusividade da Averama Alimentos”. Mas, o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins, afirma que essa é uma situação pontual.

“O setor passa por um momento de turbulência, principalmente por causa do milho e da soja que subiram demasiadamente. Isso fez capital de giro se exaurir e o País está em uma recessão violenta”, disse Martins. “Mas a situação deles é pontual, não significa que vai ser refletir em outros estabelecimentos. A empresa já vem há algum tempo com problema”, enfatizou o presidente em entrevista ao site Gazeta do Povo.

No municio de Chapecó (SC) a produtora independente, Cidiane Cela, que também produz de ovos, irá encerrar produção de suínos independentes e eliminará dois lotes de aves, devido à dificuldade em arcar com os altos custos do milho.

“Na sexta-feira (27) vamos carregar o caminhão com os suínos e encerrar as atividades, porque não conseguimos mais bancar a saca de milho a R$ 60,00”.

Segundo ela, nem mesmo as recentes altas no mercado suinícola trouxeram alívio para atividade. “Às vezes a bolsa sinaliza alta, mas o produtor só vai receber quando as agroindústrias resolvem reajustar o preço, e nem sempre isso é rápido”, disse Cela.

O levantamento da Embrapa apontou que os custos de aves e suínos subiram 3,14% e 2,95%, respectivamente em abril.

O ICPSuíno chegou a 224,24 pontos, novo recorde histórico do índice. Mais uma vez, o aumento dos custos com nutrição (2,71%) foi o maior responsável pela alta. Também influenciaram os gastos com transporte (0,23%). Em 2016, o índice acumula uma inflação de 9,89%. Nos últimos 12 meses, a elevação do índice chega a 24,63%.

Já o ICPFrango/Embrapa alcançou os 221,54 pontos em março. A alta foi puxada pelos gastos crescentes com nutrição (3,84%), transporte (0,05%) e instalações e equipamentos (0,03%). Nos quatro primeiros meses deste ano, o índice acumula 10,35% e chegam a 24,70% nos últimos 12 meses.

O presidente da APCS (Associação Paulista dos Criadores de Suínos), Valdomiro Ferreira Júnior, ressalta que “o custo do produtor paulista é de R$ 85,00, equivalente a R$ 4,53/kg – custo este considerando o milho de R$ 53,00/saca de 60 Kg e farelo de soja de R$ 1.500,00 a tonelada/Campinas”. Portanto, “mesmo com os preços sendo reanimados essa semana, os suinocultores continuam perdendo”, disse.

“Assim, projetamos para o segundo semestre uma redução no volume de carnes disponível no mercado interno. Porém, o consumo – em função da crise econômica – não deve impulsionar os preços”, disse Ferreira.

Segundo levantamento da Scot Consultoria, a relação de troca do avicultor paulista alcançou o pior resultado para o ano. Atualmente, em São Paulo, é possível comprar 2,98 quilos de milho grão com o valor de um quilo de frango.

De acordo com a diretora executiva da AVIMIG (Associação dos Avicultores de Minas Gerais) Marília Marta Ferreira, a orientação dos representantes de classe é para que os avicultores reduzam o alojamento de pintos em todo o país.

Como se viu, o primeiro trimestre do ano foi encerrado com uma produção de pintos de corte 6,5% maior que a de idêntico período de 2015. Assim, com base nos dados divulgados pela APINCO (Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte) no primeiro semestre de 2016 o País deve produzir um total de 6.951 milhões de toneladas – 5,06% superior ao volume do igual período de 2015 (6.595 milhões de toneladas).

Milho

A situação é tão preocupante no mercado doméstico que muitas indústrias e produtores estão importando o cereal.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), de janeiro a abril de 2016, o Brasil importou 243.650 toneladas de milho, sendo 123.740 toneladas (50,8%) do Paraguai e o restante da Argentina.

Somente no mês de abril, a importação foi de 105.940 toneladas, o equivalente a 43,5% do volume total importado no ano. Do total, 61.150 toneladas foram importadas da Argentina e 44.790 toneladas do Paraguai.

A competitividade do produto nacional com o importado tem sido a principal justificativa para as integradoras de aves e suínos importarem o cereal. Em média, o preço médio do milho paraguaio importado no primeiro quadrimestre foi de US$ 127,13 a tonelada, enquanto que o argentino ficou em US$ 165,49 a tonelada (FOB).

Segundo levantamento da Scot Consultoria, “levando em consideração uma taxa de câmbio de R$ 3,50 e um frete de R$ 70,00, esse milho custaria R$ 689,95 a tonelada ou R$ 41,40 a saca de 60 quilos”, disse. O patamar está abaixo dos registrados atualmente no mercado interno. Em média, as cotações giram entre R$ 42,00 a R$ 44,00 a saca, posto na fazenda, ainda segundo dados consultoria.

Porém, em algumas praças brasileiras o valor já ultrapassa os R$ 50,00 a saca do milho. Segundo levantamento realizado pelo economista do Notícias Agrícolas, André Bitencourt Lopes, as cotações apresentaram valorizações expressivas. Em Cascavel (PR), a média de preço registrada em janeiro de 2015 foi de R$ 20,35 a saca.

No mesmo período de 2016, as cotações ficaram em R$ 29,55, uma alta de 45,18%. Nos meses subsequentes, os preços também registraram fortes altas. Na parcial de maio, o preço é de R$ 40,00 a saca na região, quando no mesmo período de 2015, a média era de R$ 19,43 a saca, um aumento de 105,90%.

Na região de Campo Novo do Parecis (MT), a média de preço era de R$ 16,77 a saca em maio de 2015. Já a parcial desse ano indica um valor de R$ 36,19 a saca, uma alta de 115,86%. Em Não-me-Toque (RS), os preços subiram 98,48% no mesmo período de comparação. Em maio de 2015, a média de preço era de R$ 21,90 a saca. Já a parcial para o mês nesse ano é de R$ 43,47 a saca.

Além dos preços elevados, a maior disponibilidade do grão nos países vizinhos é um fator atrativo, uma vez que no Brasil a curto e médio prazo a expectativa ainda é de estoques reduzidos.

Após as exportações expressivas registradas, especialmente no 2º semestre de 2015, os estoques públicos brasileiros baixaram e, atualmente, somam pouco mais de 902.000 toneladas, segundo dados oficiais da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). O volume é bem menor do que o consumo mensal do País, de 4.5 milhões de toneladas, conforme reforçam os analistas.

Ainda nesta quarta-feira (25), o CIEP (Conselho Interministerial de Estoques Públicos de Alimentos) aprovou a venda em balcão de 160.000 toneladas de milho, com o limite mensal de seis toneladas por produtor rural. A medida foi publicada no Diário Oficial da União.

“A venda direta dos estoques públicos do grão vai beneficiar principalmente pequenos criadores das regiões Sul e Nordeste, que usam o milho na alimentação dos animais. A resolução também estabeleceu os preços de liberação de estoques (PLE), no caso do milho, em R$ 17,50 a saca de 60 kg para o estado de Mato Grosso”, informou o Ministério da Agricultura em nota.

O novo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, já havia sinalizado que novos leilões de venda de milho poderiam ocorrer para minimizar a alta dos preços do grão no mercado doméstico. A perspectiva é que sejam ofertadas mais 600.000 toneladas do cereal dos estoques da Conab. É preciso ressaltar que, ao longo desse ano, a companhia já vendeu mais de 500.000 toneladas de seus estoques por meio de leilões.

Enquanto a medida não é colocada em prática e a segunda safra de milho não chega ao mercado, os produtores independentes e empresas de integração seguem com a dificuldade não só de arcar com o alto custo, mas também de encontrar o grão disponível. No Espírito Santo um grupo de avicultores e suinocultores foi à Argentina para negociar a compra do cereal.

A primeira carga foi contratada na última semana, mas o objetivo é comprar no total 25.000 toneladas de milho argentino, para garantir o abastecimento, além de tentar minimizar a pressão sobre o preço do produto no mercado interno, segundo informações da Associação dos Avicultores do Estado (AVES) e pela Associação de Suinocultores (ASES).

Em Santa Catarina, o presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS), Losivânio Lorenzi esteve na última semana no Paraguai para estudar o mercado de grãos e avaliar a compra para os próximos dias.

Tomando como exemplo os capixabas, a Asemg (Associação dos Suinocultores do Estado de Minas Gerais) se reuniu no início desta semana com a empresa responsável pelas operações no Espírito Santo, também com intenção de viabilizar o comércio com países do MERCOSUL.

João Jorge Reis, presidente da Associação Cearense de Avicultura (ACEAV), informou ao site Avicultura Industrial que na região já se estuda importar também dos Estados Unidos. Recentemente, o governo brasileiro isentou a taxa de importação para 1 milhão de toneladas do cereal de fora do MERCOSUL.

Trigo

Na região sul, onde se concentra a maior produção de aves e suínos do País, empresas de integração também contam com o trigo como alternativa de nutrição.

De acordo com analista da De Baco Corretora de Mercadorias, Marcelo de Baco, a procura das indústrias de ração por trigo se elevou nos últimos meses.

No Rio Grande do Sul, segundo maior produtor do País, os preços atingiram R$ 767,03 a tonelada, o mais alto desde outubro de 2013, segundo dados do CEPEA.

No maior produtor, Paraná, o indicador CEPEA chegou a R$ 824,59 a tonelada na terça-feira (24), o mais alto desde maio de 2014. Assim, só neste mês, os preços estão 7,7% mais altos no Paraná e 11,7% no Rio Grande do Sul, “impulsionado pela maior demanda da indústria de alimentação animal”, disse o CEPEA.

Segundo De Baco, “os produtores estão preferindo vender para ração ao invés de panificação, não só pelo fator qualidade, mas porque o preço também está bastante atrativo”.

No período de um ano a cotação do trigo saiu de R$ 580,00 a tonelada para R$ 800,00, devido ao aumento na procura. O analista lembra, no entanto, que a oferta no estado não será capaz de suprir esse aumento na demanda. Segundo ele, as moageiras demandam anualmente 1.8 milhão de toneladas somente no Rio Grande do Sul, ao mesmo passo que o setor de ração consome 8 milhões de toneladas de milho.

A estimativa de maio da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estimou para a safra 2016 um total de 2.44 milhões de hectares semeados, alcançando uma produção de 5.82 milhões toneladas.

Para o Rio Grande do Sul, a companhia estima uma área de 725.000 hectares, produzindo 1.9 milhão de toneladas.

Para De Baco, é possível que as indústrias de ração elevem a participação no mercado de trigo também em outubro, quando se inicia a colheita do grão no estado, considerando que a oferta de milho deverá se concentrar somente a partir de janeiro/17.

Farelo de soja

Não só o milho tem pesado nos custos dos granjeiros. O farelo de soja que foi usado como substituto na composição da ração, também se elevou nos últimos meses.

Com o aumento das exportações brasileiras do farelo, valorização da soja em grão, e o aumento da demanda interna pelas indústrias de ração, o farelo chega a custar R$ 1.300,00 a toneladas em algumas regiões do país.

Na segunda quinzena de abril, a tonelada de farelo foi negociada em média a R$1.092,14, sem o frete, em São Paulo. Alta de 3,7% na comparação com o preço praticando no início do ano, segundo levantamento da Scot Consultoria.

Para a consultoria a expectativa é de preços firmes para o farelo de soja no curto e médio prazo. A entressafra no Brasil e nos Estados Unidos devem dar sustentação as cotações da soja no curto e médio prazo e, consequentemente, para o farelo.

 

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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