Governo regulará plantio de ‘soja safrinha’ no Brasil

'A frequência do plantio da soja safrinha não é muito alta no país, mas do ponto de vista agronômico é tudo o que não se deve fazer', diz  Luís Eduardo Rangel, do Mapa
‘A frequência do plantio da soja safrinha não é muito alta no país, mas do ponto de vista agronômico é tudo o que não se deve fazer’, diz Luís Rangel, do Mapa

 

A pedido de produtores de soja e fabricantes de defensivos agrícolas, o Ministério da Agricultura prepara, desde fevereiro, uma série de medidas para restringir o cultivo da segunda safra de soja (a chamada “soja safrinha”), devido aos riscos crescentes de incidência do fungo da ferrugem asiática, que pode inviabilizar plantações da cultura. A semeadura da oleaginosa na sequência da colheita da safra de verão ganhou força no ciclo 2013/14, como estratégia de ganho adicional de renda.

Em entrevista ao Valor, o diretor do Departamento de Sanidade Vegetal da Secretaria de Defesa Agropecuária do ministério, Luís Eduardo Rangel, explicou que a ideia é desestimular o plantio sequencial de soja (soja sobre soja) nos meses de entressafra da cultura, que pode variar de janeiro até julho – a depender da região produtora. Para isso, o governo defende restrição de crédito rural, ampliação do tempo exigido para vazio sanitário e, em último caso, encaminhar um projeto de lei federal para proibir o cultivo em alguns meses.

“A frequência do plantio da soja safrinha não é muito alta no país, mas do ponto de vista agronômico é tudo o que não se deve fazer”, disse Rangel. Conforme o diretor, quanto maior o tempo que a soja fica no campo, maior a presença do fungo e a velocidade com que ele se prolifera, a ponto de não se conseguir o controle com fungicida. “Entendemos que não temos que proibir esse cultivo, mas sim incentivar o plantio de outras culturas”, afirmou.

Os baixos preços do milho entre o fim de 2013 e início deste ano, época em que os agricultores se preparavam para plantar a segunda safra, fizeram com que 319 mil hectares que seriam originalmente destinados ao cereal fossem semeados com soja em Mato Grosso, no Paraná e em Tocantins este ano, nas contas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A produção totalizou 556,85 mil toneladas.

A área cultivada é pequena diante dos 14,4 milhões de hectares cultivados com a oleaginosa na primeira safra da temporada 2013/14 nesses três Estados, mas foi o suficiente para reacender as preocupações com o alastramento da ferrugem.

Rangel informou que o ministério já editou nota técnica recomendando a bancos públicos, principalmente o Banco do Brasil, que restrinjam a concessão de crédito para investimento em plantio de soja safrinha, mas reconheceu que os produtores podem driblar essa iniciativa, recorrendo a bancos privados.

Mesmo sem precisar a relação numérica entre o cultivo de soja na entressafra e as perdas econômicas, o diretor disse que já é possível constatar que os danos fitossanitários causados pela soja safrinha já provocam estragos no bolso do produtor. “Desde 2010, o agricultor brasileiro vem tendo despesas de cerca de US$ 2 bilhões com defensivos agrícolas e perdas trazidas pela praga, e a safrinha já começa entrar nessa conta”, relatou Rangel.

O ministério também estuda incentivar as instituições financeiras privadas a facilitarem o empréstimo para o plantio de outras culturas no período de entressafra da soja. E, numa medida “mais complexa”, como se refere Rangel, editar uma Instrução Normativa (IN) que regulamente a aplicação do manejo integrado com outras culturas em lavouras usadas sobretudo para soja.

Outra alternativa cogitada pelo Ministério é baixar uma Instrução Normativa definindo uma ampliação do prazo de vazio sanitário. Contudo, a regulamentação do vazio – intervalo de tempo em que se proíbe o cultivo de soja, para resguardar as lavouras da ferrugem – depende de legislação estadual. Em Mato Grosso e no Paraná, o vazio sanitário começa em 15 de junho e dura 90 dias. Outros dez Estados, mais o Distrito Federal, também instituíram a prática nos últimos anos.

“Normalmente, o produtor colhe a primeira safra [de verão] entre janeiro e março, e depois tira a safrinha do campo em maio, perto do início do vazio, em junho. É pouco tempo para ter segurança total”, afirmou Almir Dalpasquale, presidente da Aprosoja Brasil. A entidade compõe o grupo que solicitou intervenção do governo no caso.

De acordo com Dalpasquale, o fungo da ferrugem pode sobreviver de 40 a 50 dias no ar, por isso a importância do intervalo para o resguardo das lavouras. Ele defende que seja instituído um conjunto de normas para serem seguidas pelo produtor que, ainda assim, quiser cultivar a oleaginosa na safrinha. O presidente da Aprosoja disse ainda que os produtores estão pensando só no lucro e deixando de lado as possíveis consequências desse plantio. “Pode ser tiro no pé, que vai custar caro lá na frente. Então, estamos tomando medidas preventivas para evitar problemas mais sérios com a ferrugem, como tivemos no passado”, concluiu.

 

Fonte: Valor Econômico

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp